quinta-feira, 31 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (V) O Gadareno

Por Julio Zamparetti

“Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo (Lucas 8:27-31).


Para compreendermos o que ocorreu neste episódio, faz-se necessário entendermos o contexto científico da época. Naqueles dias, cria-se que a terra era como um círculo e não como uma esfera. Acreditava-se que se navegássemos muito além da costa chegaríamos ao fim do “círculo” terrestre e cairíamos num eterno nada. Daí o uso da palavra abismo que vem do grego ábyssos e significa literalmente “sem fundo”. Portanto, cair no abismo significava cair numa eterna inexistência, ser expulso da terra, ser extinto do mundo dos vivos. Assim, entendemos porque em Marcos 5:10 diz que os demônios rogavam-lhe que os deixassem ficar naquela província. Estar na província era estar entre os vivos. Para o gadareno, permanecer com seus demônios na província, significaria viver a ameaça constante de ser tomado novamente pelos mesmos demônios, ou mesmo poder voltar a eles tão logo, assim, quisesse. Lançá-los ao abismo significaria extingui-los para sempre de sua vida.


O que se passava no interior do gadareno não era um estado de inconsciência, mas sim um conflito de consciência, um trauma da luta entre quem ele queria ser versus quem ele conseguia ser. Queria ser livre, sociável, comum, mas como suas iniciativas anteriores, tanto quanto a ajuda de seus parentes e amigos, foram frustradas, pensava que melhor lhe seria manter seus demônios na província e se conformar, apenas, com o que conseguisse ser. Ninguém vive por prazer a vida que este homem vivia. Sua vida era fruto de quem desejava respeito, integridade, liberdade, trabalho, dignidade, mas não havendo encontrado forças, nem condições de ser assim, mergulhou no mundo exatamente oposto àquele que desejou e não alcançou.


A verdade é que muitas vezes queremos nos ver livres das conseqüências do velho modo de vida, mas também queremos que este velho modo de vida continue na província, por perto, para quando o desejarmos de volta, ainda que por um tempo muito breve. Assim, muitas vezes nos prolongamos em situações que nos fazem regressar às coisas que Cristo já havia nos libertado. Nesses casos, pedimos a Jesus nossa libertação de todos os demônios, mas não queremos que nenhum deles seja extinto, pois estamos tão acostumados a eles, que já nos parecem familiares.


Outro fator que inibe a completa libertação são os juízos precatórios dos pregadores do terror, que anunciam aos quatro ventos que os demônios estão na província e poderão devorar você, ou porque você tem um pecado não confessado da infância, ou porque você tem algum pecado oculto que nem mesmo você sabe qual. Desse modo, as pobres e indefesas ovelhas caem numa completa neurose, vendo demônios em cada sombra, aterrorizadas pela possibilidade de que cada ato seu pode ser uma “base legal” para o inimigo.


Leia também os capítulos anteriores:

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/o-mudo-endemoninhado-terca-polemica-iv.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-3-demonios-feitos-pela.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-2.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-1.html

segunda-feira, 28 de março de 2011

QUEM GOSTA DE ROTINA

Por Julio Zamparetti

Quando aquela mulher samaritana pediu que Jesus lhe desse água viva a fim de que não precisasse mais ir até aquele poço, uma coisa ficou bem evidente: ela estava cansada daquela rotina.

Todos nós somos como aquela mulher, e facilmente nos cansamos das repetidas tarefas diárias, dos hábitos costumeiros e até da vida.

Então, quando Jesus lhe pediu para que trouxesse seu marido, ela lhe disse então que não tinha marido. Ao que Jesus falou: “bem disseste... porque o marido que agora tens, não é teu”. Depois de cinco casamentos, “ter marido” parece ter se tornado uma rotina na vida daquela mulher. Talvez o pior aspecto da rotina seja que aquilo que temos deixa de ser nosso. Fica sempre a sensação de que nosso trabalho já não é nosso, mas nós somos dele; nossos bens já não nos pertencem, ao contrário, parece que pertencemos a eles, deixamos de controlar as coisas para por elas sermos controlados.

Diante dessa circunstância a saída mais obvia que nos vem à mente é a mudança: mudar de carro, mudar de casa, mudar de emprego, mudar de mulher ou de marido, mudar de cidade ou mesmo de país. Infelizmente, a verdade é que esse escapismo, nada mais é que mudar de problema.

Não precisamos mudar de problemas, precisamos, sim, resolvê-los. E a solução não se trata de deixar a rotina, mas mudar a perspectiva que temos dela.

Costumeiramente reclamamos por ter que “lavar roupa todo dia”, fazer o mesmo itinerário, cumprir o mesmo horário, atender os mesmos clientes, usar os mesmos argumentos, encontrar as mesmas pessoas, resolver os mesmos problemas. A partir disso sonhamos em mudar de vida, quem sabe se ganhasse na mega sena... quem sabe se... se... se...

Talvez tenhamos sido ingratos pela graça da rotina. Pois são as rotinas que nos fazem valer os cabelos brancos. Já dizia São Paulo que as provações produzem perseverança, e esta, por sua vez, produz experiência que nos leva a ter esperança. Ou seja, a mesma rotina que faz os problemas se repetirem, também nos permite aprender a resolvê-los.

Se não fosse a rotina, não poderíamos aprender absolutamente nada da vida. Cada dia seria uma incógnita. A experiência de ontem em nada nos ajudaria hoje, e a de hoje não valeria nada amanhã. A rotina da qual nos queixamos é a mesma que nos permite nos precavermos dos percalços constantes.

Não foi a toa que o salmista pedia a Deus que lhe servisse um banquete diante de seus inimigos. A melhor forma de se livrar dos problemas é enfrentando-os, não fugindo, mas enfrentando-os sob uma nova perspectiva, a perspectiva cristã.

Nessa perspectiva cristã, barreiras não são empecilhos, mas desafios; a queda não é uma derrocada, mas uma nova oportunidade de se levantar; para o cristão, nem mesmo a morte é o fim.

A solução não é mudar a rotina. E antes que a própria mudança de rotina se torne rotineira, importa que nos renovemos no espírito e vejamos a rotina sob um prisma de renovação.

Graças à rotina você poderá fazer melhor hoje, o que não fez tão bem ontem; poderá agir corretamente a respeito do que errou ontem; poderá retratar-se amanhã das gafes que vier a cometer hoje; poderá ser mais amável com quem faltou carinho. Na perspectiva cristã, a rotina não é repetição, é recomeço, é nova vida!

“Vai e não peques mais”.

quarta-feira, 23 de março de 2011

PASTOR QUEIMA O ALCORÃO

Terry Jones causou reações diversas no ano passado quando foi noticiado de que ele queimaria o livro sagrado dos mulçumanos. Diante das reações Jones desistiu do ato, mas nos últimos dias voltou atrás e ateou fogo em um exemplar do Alcorão.

Na noite de domingo, o polêmico pastor líder de uma igreja de Gainesville, Flórida, programou uma espécie de julgamento dentro de sua igreja, sendo que o réu era o livro sagrado para os mulçumanos. A congregação declarou o Alcorão culpado de várias acusações, entre elas assassinato. Em seguida a pena foi executada: o exemplar foi queimado.

Os jornais internacionais relataram que o livro foi molhado com querosene e colocado em um recipiente de metal no centro do templo da igreja “Dove World Outreach Center”. O exemplar queimou por 10 minutos.


“Tentamos dar ao mundo muçulmano uma oportunidade de defesa de seu livro”, disse o pastor Terry Jones.

Os planos de Jones era queimar os exemplares do Alcorão em sua igreja no aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. Após as fortes reações no mundo muçulmano e das críticas de líderes internacionais, incluindo o presidente americano Barack Obama, Jones desistiu da ideia e afirmou que nunca mais voltaria a tentar queimar um Alcorão.

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Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2011/03/pastor-queima-o-alcorao-este-e-cabra.html

terça-feira, 22 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (IV) - O MUDO ENDEMONINHADO

Por Julio Zamparetti

“Ao retirarem-se eles, foi-lhe trazido um mudo endemoninhado. E, expelido o demônio, falou o mudo; e as multidões se admiravam, dizendo: Jamais se viu tal coisa em Israel!” (Mateus 9:32-33)

Neste texto encontramos o relato do episódio de um mudo que ficou curado logo que Jesus expeliu o demônio. Observe que não há relato de que este mudo fosse surdo, ele apenas não falava, mas certamente podia ouvir, caso contrário Mateus relataria a cura de um surdo-mudo ou tão somente um surdo. Ou seja, sua mudez não era conseqüência de surdez, mas possivelmente de algum trauma (doença da alma) que simplesmente o fizera calar-se, ou a ausência ou deformação das pregas vocais (doença física não diagnosticável naquela época), ou um aneurisma ou derrame cerebral (essas sim, nem se sonhava existirem). Qualquer que tenha sido a causa, uma vez que o mudo não era surdo, Mateus não poderia, naquela época, compreende-la, então a atribuiu ao demônio.

Na verdade, não há registro de que forma Jesus tenha expelido o demônio, mas o que quer que Jesus tenha dito ou feito, curado a alma ou o físico, quem o viu, naqueles dias, não saberia distinguir nem o mal, nem a cura, pois enquanto a medicina da época era extremamente limitada, para Jesus não havia limitações, nem restrições para desfazer um trauma ou implantar pregas vocais, perdoar pecados ou curar um paralítico. Jesus não esperaria até que os homens descobrissem, em termos científicos, o que causara aquele mal para só então curá-lo. Jesus curava a quem quisesse, de qualquer mal, e quando o descrevia, o fazia conforme o entendimento do povo.

O poder de Jesus é superior a qualquer enfermidade ou mal que possa acometer o ser humano, seja qual for sua causa. Entretanto, algumas vezes nos é muito difícil crer, simplesmente, no cuidado divino sobre nós, e assim queremos fazer o trabalho que é de Deus, como se a virtude de curar fosse de propriedade nossa. Então nos assentamos na cadeira do médico dos médicos e cuidamos de proferir os mais absurdos diagnósticos, e entre tantos devaneios decide-se pôr a culpa nos demônios e no moribundo que supostamente “deu brecha pro diabo”, ou ainda culpar seus pais, que pecaram e com isso atraíram maldição sobre seu filho. Nesse aspecto a doutrina da cura tem servido apenas para deixar as pessoas ainda mais doentes.

É perfeitamente compreensivo que, há dois mil anos atrás, a causa de epilepsias e doenças psicossomáticas fosse atribuída aos demônios, pela falta do conhecimento científico. Mas é inadmissível, nos dias de hoje, lançar tal fardo psicológico sobre um enfermo, sabendo que a doença física não é propriedade de demônios. Se assim fosse, deveríamos concluir que os idosos são mais volúveis a ação dos demônios que os jovens, e que na medida em que os jovens envelhecem também se tornam cada vez mais suscetíveis aos ataques demoníacos, já que a tendência é que com o passar dos anos venham também o enfado e suscetíveis enfermidades. Ora, dizer que tais desventuras são provenientes de domínio demoníaco seria, no mínimo, um desrespeito aos anciãos, a quem Bíblia trata com toda a devida honra, e a quem nós também devemos honrar.

É por causa das pregações em que se aloca enfermidades a demônios, que muitas pessoas entram num verdadeiro poço de desgosto ao serem acometidas por qualquer mal, principalmente quando a resposta de Deus às suas petições de cura é “a minha graça te basta”. Até mesmo os pregadores dessa “teologia” entram em “parafuso” quando se encontram enfermos. Tenho conhecido a muitos que expulsam demônios de si mesmos, quase enlouquecem tentando descobrir a brecha que deram para que satanás os tomasse com doença, e por fim, acabam se consultando com um médico em outra cidade para que seus liderados não saibam que esteve doente. Ora, ora! Se conhecessem a Palavra que Cristo pregou, já estariam limpos dessa mentira.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O PECADO, A LEI, A GUERRA E A SEXUALIDADE

Por Julio Zamparetti

O pecado sempre tem razão de ser pecado. Nenhum pecado é pecado simplesmente por ser pecado, assim como nenhum mandamento, ou lei, é instituído simplesmente para ver quem o obedece. O pecado é pecado porque lesa o corpo, o espírito, o meio ambiente, a criação, as pessoas e os relacionamentos. Em contraponto, a Lei é instituída tendo em vista a preservação de tudo que possa ser lesado pelo pecado. Logo, o dimensionamento do pecado, bem como a importância da lei, não está no ato, ou lei, em si, mas nos efeitos que eles produzirão. Matar e roubar seriam pecados iguais, se não fosse a diferença atribuída aos seus efeitos. Da mesma forma, a importância da Lei está na prevenção ou remediação da lesão provocada pelo pecado. Uma Lei que não tenha esses propósitos, não tem razão de existir.

A partir dessa premissa entendemos que o pecado é redimensionado, podendo assumir a dimensão de insignificância ou abominação, conforme o efeito gerado em determinado tempo ou cultura. Em certos casos, esse redimensionamento pode transformar aquilo que se tinha por pecado em benesse, ou vice-versa. Se em tempos modernos, o ato de um homem casado possuir a viúva de seu irmão, que morreu sem filhos, apenas para fazer-lhe um filho é pecado, em tempos bíblicos isso era virtude e lei, uma “obrigação de cunhado” (Dt 25.5), conhecida como lei do levirato.

É por essa razão que não se pode fazer doutrina tomando por base a letra das Escrituras sem investigar seu espírito. E para isso deve-se entender o contexto histórico e social no qual estavam imersos aqueles que a escreveram.

É importante que se entenda que assim como o levirato, todas as leis de Moisés relativas à sexualidade traziam em si uma relação intrínseca com o conceito de guerra de sua época. A todo homem distinto cabia-lhe dar à nação, ao menos, um filho que fosse homem de guerra. Por essa razão era, para eles, vergonhoso um homem casado morrer sem gerar filhos. Eis o motivo pelo qual se deu a lei do levirato que determinava que o filho nascido desta relação não fosse contado como prole de seu genitor, mas sim de seu tio falecido, para que esse tivesse descendência e seu nome fosse honrado.

É, no mínimo, estranho pensar que Deus instituiu o levirato em função da guerra que hoje abominamos. Mais estranho ainda é pensar que a mesma lei condenava à morte aqueles que incidiam em adultério, fazendo com que, em nome da justiça, se cometesse um ato pior que o próprio adultério. Impossível negar que a forma tão diferente que hoje temos de pensar sobre o assunto seja uma santa transformação de valores. No entanto, aquele era um povo guerreiro e dependente da geração de filhos do sexo masculino para servirem no campo de batalha, pois a guerra, naquelas circunstâncias, lhes era fundamental no processo de preservação e avanço da fé cultivada pela nacão. Sob esse ponto de vista não é de se estranhar tamanho rigor sobre as questões de sexualidade.

Diante dessa perspectiva se justificam todas as leis relacionadas à sexualidade encontradas no Antigo Testamento. Não se poderia, então, tolerar qualquer desperdício do esforço sexual em relação que não promovesse a procriação. Era-lhes proibido o coito interrompido e relações homo-afetivas pela mesma razão que era estimulado a poligamia.

Cabe-nos analisar que se as relações sexuais, que não tencionassem a procriação, representavam grande prejuízo nos tempos bíblicos, o mesmo não ocorre em nossos dias.

Sob o ponto de vista bíblico, sem que façamos essa releitura dos fatos, tanto a relação sexual homoafetiva, como o uso de métodos contraceptivos deveriam ser recriminados. Pois considerando a razão pelo qual as Escrituras condenam a homossexualidade, os métodos contraceptivos são igualmente condenáveis.

Se por ventura recriminarmos os relacionamentos homoafetivos sob o argumento de que uma relação sexual entre pessoas do mesmo sexo é antinatural, não podemos esquecer que o uso de anticoncepcionais também é antinatural e antibíblico, tendo em vista que o efeito natural de um ato sexual, bem como a ordem bíblica, é a multiplicação da espécie.

Neste ponto, alguns, tentando se defender sem abrir mão de uma vida sexual sem concepção, argumentarão que o sexo não tem apenas a reprodução por objetivo, mas também o prazer e felicidade pessoal (princípio do hedonismo, razão que tem levado muitos cristãos a busca de fetiches e até da poligamia consensual “clandestina”). Neste caso, o argumento derrubará toda razão de resistência ao uso de métodos contraceptivos, mas sob o mesmo argumento também se desbancará os motivos das sentenças homofóbicas.

O fato é que uma relação homossexual que não agrupe prostituição, pornografia, pedofilia ou adultério (e neste ponto muitas relações heterossexuais são mais pecaminozas), não configurará pecado maior que uma relação heterossexual munida de seus fetiches e métodos contraceptivos. Pecaminizar uma relação e santificar a outra, sendo que as duas ferem o mesmo princípio bíblico e são igualmente proibidas pela Bíblia, deveria nos causar o mínimo de estranheza.

Será que a misericórdia que confiamos sobre o nosso hedonismo não está ao alcance dos homossexuais?

Você acha isso complicado? Não se preocupe! Nosso preconceito nos livrará do peso na consciência.

domingo, 20 de março de 2011

A VERDADEIRA MANIFESTAÇÃO DOS DONS DO ESPÍRITO

“Eis os sinais que acompanharão aqueles que terão acreditado: em meu nome, eles expulsarão os demônios, eles falarão em línguas novas, eles pegarão em serpentes, e se tiverem bebido algum veneno mortal, ele não lhes fará nenhum mal. Eles imporão suas mãos aos doentes e estes serão curados” (São Marcos, XVI,16).

Será que, meus caros irmãos, pelo fato de que vós não fazeis nenhum destes milagres, é sinal de que vós não tendes nenhuma fé? Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las. Eis porque São Paulo dizia:”O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22).

Sobre esses sinais e esses poderes, temos nós que fazer observações mais precisa:

A Santa Igreja, faz todo dia, espiritualmente, o que ela realizava então nos corpos, por meio dos Apóstolos. Porque, quando os seus padres, pela graça do exorcismo, impõem as mãos sobre os que crêem, e proibem aos espíritos malignos de habitar sua alma, faz outra coisa que expulsar os demônios?

Todos esses fiéis que abandonam o linguajar mundano de sua vida passada, cantam os santos mistérios, proclamam com todas as suas forças os louvores e o poder de seu Criador, fazem eles outra coisa que falar em línguas novas?

Aqueles que, por sua exortação ao bem, extraem do coração dos outros a maldade, agarram serpentes.
Os que ouvem maus conselhos sem, de modo algum, se deixar arrastar por eles a agir mal, bebem uma bebida mortal, sem que ela lhes faça mal algum.

Aqueles que todas a vezes que vêem seu próximo enfraquecer, para fazer o bem, e o ajudam com tudo o que podem, fortificam, pelo exemplo de suas ações, aqueles cuja vida vacila, que fazem eles senão impor suas mãos aos doentes, a fim de que recobrem a saúde?

Estes milagres são tanto maiores pelo fato de serem espirituais, são tanto maiores porque repõem de pé, não os corpos, mas as almas.

Também vós, irmãos caríssimos, realizais, com a ajuda de Deus, tais milagres, vós os realizais, se quiserdes.

Pelos milagres exteriores não se pode obter a vida. Esses milagres corporais, por vezes, manifestam a santidade. Eles não criam a santidade.

Os milagres espirituais agem na alma. Eles não manifestam uma vida virtuosa. Eles fazem vida virtuosa.

Também os maus podem realizar aqueles milagres materiais. Mas os milagres espirituais só os bons podem fazê-los.

É por isso que a Verdade diz, de certas pessoas:
“Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que nós profetizamos, que nós expulsamos os demônios e que realizamos muitos prodígios? E Eu lhes direi:”Eu não vos conheço. Afastai-vos de Mim, vós que fazeis o mal” (São mateus VII, 22-23).

Não desejeis, ó irmãos caríssimos, fazer os milagres que podem ser comuns também aos réprobos, mas desejai esses milagres da caridade e do amor fraterno dos quais acabamos de falar: eles são tanto mais seguros pelo fato de que são escondidos, e porque acharão, junto a Deus, uma recompensa tanto mais bela quanto eles dão menor glória diante dos homens”

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(São Gregório Magno, Papa, Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209).

sábado, 19 de março de 2011

UM DEUS PERFEITO PODE CRIAR UM SER IMPERFEITO?

Por Julio Zamparetti

Quando dizemos que o homem não foi criado perfeito, mas sim para ser perfeito, comumente se indaga: “mas como pode um ser perfeito, Deus, ter criado o homem imperfeito?”.

Muito simples! Uma criatura não carrega o DNA de seu criador. Para compreendermos isso, faz-se necessário entendermos o sentido aprofundado das palavras criar e crear. Criar retrata a transição de uma existência para outra existência. O termo é bem apropriado para o ser humano enquanto criatura de Deus. Pois Deus não o criou do nada, Ele o criou a partir do pó da terra. Isto é, a terra transitou de sua forma existente para uma outra forma de existência. Crear, por sua vez, retrata a transição da essência para a existência. Um termo bem apropriado para a creação do universo, que do nada se fez tudo o que existe. No entanto, ainda longe de retratar o que de Deus é gerado, pois, segundo o próprio Cristo, o Pai é Espírito. Logo, o que dEle é gerado é espiritual. Pois “o que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6).

O que é nascido não transita de forma, muito pelo contra-rio, reproduz a exata semelhança, carrega os mesmos traços genéticos. Na geração não há transição, há sim transmissão.

Gosto de pensar nisso usando o exemplo de Santos Dumont e o 14 Bis. Ao criar o 14 Bis, Dumont não o fez transmitindo-lhe seu DNA. O que ele fez foi tomar matérias já existentes e tranformá-las em uma outra forma de existência. O 14 Bis não carregava as características genéticas de Santos Dumont, simplesmente porque Dumont não o fizera a partir do que ele era, mas sim do que ele tinha em mãos. Outros criadores poderiam fazer o mesmo e chegar ao mesmo resultado. Entretanto, quando tratamos de genealogia, genitores diferentes jamais chegarão ao mesmo produto, pois gerar é transmitir a existência a partir do que se é. Assim, um ser tão santo, Deus, não pode gerar algo imperfeito, mas com certeza o pode criar ou crear. Ao que Ele próprio afirmou: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Isaías 45:7).


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Extraído do livro ESPIRITUALIDADE DINÂMICA

sexta-feira, 18 de março de 2011

QUARESMA – TEMPO DE ENCONTRAR TEMPO

Por Edmar Pimentel

O período mais enriquecedor e cheio de simbologia no ano litúrgico tem gradativamente perdido seu intento mais profundo na vida da comunidade cristã. Tem empobrecido. Quem não se lembra dos tempos de outrora em que nossos pais diziam que não se faz isso, não se come aquilo, reza-se um pouco mais, priva-se de fazer algo mais extravagante e tantos outros itens que devem estar borbulhando na mente de todos nós. Em alguns lugares do país eram cautelosos até com a cor das roupas sem falar no jejum e nas orações que eram multiplicados nesse período.

É... A Quaresma já não é vista como antes. O que mudou? A nossa vida agitada, a “instantaneidade” das coisas, a pressa da navegação on-line e tantas outras questiúnculas na velocidade da luz que tem nos privado de ver a beleza e a espiritualidade próprias desse tempo.

Vivenciar calma e pausadamente cada passo desse momento é fundamental para reflexão e experiência pessoal. A Igreja é desafiada a refazer os passos messiânicos e sobre eles refletir buscando aplicar à sua vida o resultado desse aprendizado. Nesse período ela deve meditar no passo a passo da ultima semana de Jesus antes da gloriosa ressurreição: a entrada triunfal, o brado do povo, os ramos, o jumentinho, o lava pés, a ultima ceia, o ultimo discurso, a oração sacerdotal, as trinta moedas, o canto do galo, a angustia na cruz, as sete palavras finais e o ultimo suspiro, as trevas, o sábado tenebroso e as boas novas na madrugada do domingo. Quantas lições de vida, quanta oportunidade de crescimento.

Refletir nisso tudo, não é desejar novamente que se repita o que foi feito a Jesus, antes é descobrir novas lições práticas para cada um e todos nós. É voltar três anos antes nas margens do rio Jordão e entender as palavras de João Batista: Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É descobrir-se pecador envolvido em amor. É aprender com o silêncio. É reconhecer as limitações, encontrar-se com a Graça inefável. É sentir-se solidário e descobrir-se cristão.

Antes de sair às compras do chocolate para as crianças e da carne branca para o almoço, entre no seu quarto, feche a porta e reze ao Pai em secreto, que em secreto Ele responderá.

Para isso precisarás de tempo. Tempo para ti, para os teus e tempo para Deus. Quarenta dias, quarenta minutos, quarenta segundos... Quaresma!

quinta-feira, 17 de março de 2011

ENQUANTO O FIM NÃO VEM

Por Julio Zamparetti

Mais uma catástrofe e mais gente se imbui de anunciar o fim do mundo. Não sei quantos fins ainda serão anunciados, mas sei que os mercados faturam alto com essa especulação. O mercado cinematográfico fatura milhões de dólares ocupando, provavelmente, o segundo lugar no ranking mundial. Sim, possivelmente, o segundo lugar, porque estou convencido de que quem fatura mais alto é o mercado religioso.


Até mesmo seguimentos equilibrados do meio religioso, ultimamente, têm se rendido ao frisson do apelo sensacionalista que arrasta milhares de pessoas ao redil da religiosidade pela promessa de segurança em meio ao caos. Neste ínterim, a fim de que a religião seja sempre mais útil, faz-se necessário que a tragédia seja tanto maior. É nesse ponto que muitos religiosos caem na falácia de presumirem que quanto pior, melhor.


Não quero, aqui, fazer pouco caso dos problemas ambientais e das catástrofes que têm aterrorizado nosso planeta. Por outro lado, não posso me valer disso para constranger alguém a apegar-se à religião. O que posso dizer é que catástrofes naturais são naturais, por mais catastróficas que sejam. Sempre foi assim e continuará sendo assim, enquanto a Terra estiver viva. Deveríamos, sim, nos preocuparmos se a terra estivesse parando seus movimentos geológicos. Isso seria terrível, pois presumiria a morte do planeta.


O que não é natural é que tanta gente aproveite do sofrimento alheio para se enriquecer. Nesta semana, em meio à tragédia dos terremotos e a tsunami no Japão, já ouvi pregadores de renome internacional anunciando em tom profético que “isso é só o começo”; que “catástrofes muito maiores sobrevirão ao nosso planeta”. E eu pergunto: onde fica o Espírito de consolação, restauração e esperança que permeia a mensagem de Jesus Cristo e seus apóstolos?


Não venham me dizer que Jesus anunciou o fim do mundo. Somente neófitos caem nessa. O mundo do qual Jesus anunciou o fim, em Mateus 24 e Lucas 22, no texto original é aions que significa tempo, era, período, daí muitas versões o traduzirem por século em vez de mundo. Jesus estava anunciando o fim de um tempo em que os rudimentos que regiam a religiosidade e os valores humanos dariam lugar aos novos rudimentos de sua graça. Conforme o próprio Messias, isso ocorreria ainda naquela geração (Mt.24:34), e de fato aconteceu. Esses novos rudimentos são baseados no amor, na simplicidade, na reconciliação, na misericórdia e no compromisso de ser solidário para com todos que sofrem.


Não sei explicar o sofrimento humano, nem a causa de tanto terror, não quero justificar Deus, nem creio que Deus precise ser justificado. Só sei que a história nos ensina que somos capazes de superar nossas limitações e aprender em meio às dificuldades; somos aptos a recomeçar, reconstruir e sairmos das provações ainda mais fortalecidos. Portanto, prefiro ser grato a Deus que nos concede repensar nossa própria vida, nossa história, nossa espiritualidade, refletirmos sobre nosso ativismo e apego material, e exercitar a solidariedade e o espírito de consolação mútuo.


Enquanto o fim não vem, que fique longe o fim. Que haja lugar para a esperança. Que seja cada vez mais presente o amor fraternal, o espírito solidário e a força para recomeçar. Assim somos humanos, como Cristo foi; fazendo um mundo melhor, como Ele fez.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A SALVAÇÃO É INDIVIDUAL OU COLETIVA?

Por Julio Zamparetti

Sempre ouvi dizer que a salvação é algo individual. Mas, honestamente, nunca li um só versículo bíblico que afirmasse tal conceito. Ao contrário, o que encontro são vários versículos que atestam a salvação de um povo, ou de uma nação, uma raça, tribo, toda terra, ou mundo todo.

Por outro lado podemos perceber que a perdição pode ser individual. Eram cem ovelhas quando uma delas, individualmente, se perdeu. Da mesma forma a perdição do filho pródigo se deu de forma individual. É claro que também encontramos exemplos de perdição coletiva, de tal forma que Deus certa vez afirmou que seu povo (termo coletivo) perecia por falta de conhecimento. Assim, encontramos exemplos de perdição coletiva e individual. No entanto, ao que se refere à salvação só a encontramos coletivamente, nunca individualmente.

A verdade é que não precisamos de ninguém para nos perder; e na maioria das vezes nos perdemos exatamente por não ter ninguém ao lado. Não foi a toa que Deus disse: “Não é bom que o homem viva só”; não por acaso Jesus enviou seus discípulos de dois em dois.

Somos seres sociais e seja qual for nosso temperamento, se quisermos crescer como pessoas, precisamos aprender a viver em comunhão, compreendendo a necessidade que temos uns dos outros.

Não há como ser cristão individual. Não se vive cristianismo isolado. Isso porque o cristianismo não se resume em ter comunhão apenas com Deus, mas ter comunhão com Deus e com o próximo. É essa a mensagem expressa na cruz: uma haste vertical, prefigurando a comunhão com Deus e outra haste horizontal, prefigurando a comunhão com os irmãos. Afinal, se não amas teu irmão a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?

É salvo quem faz parte de um povo salvo, quem está ligado ao corpo de Cristo. Pois se alguém não está ligado a ele é como um ramo seco que para nada mais serve senão ser jogado ao fogo. Assim já dizia Santo Agostinho: “não há salvação fora da Igreja de Cristo”.

Não quero dizer com isso que a salvação esteja atrelada a alguma instituição religiosa, seja ela qual for. Afinal, muitas instituições religiosas estão longe de parecer-se Igreja de Cristo, muito embora se denominem como tal. Refiro-me à Igreja àqueles que comungam da fé em Cristo e se dispõem a viver em comunidade a serviço do próximo. Estou certo de que embora existam aqueles que vivem em comunidade sem de fato amar, é impossível que alguém que de fato ame não viva em comunidade.

A salvação não é individual porque a vontade de Deus é salvar a todos. A salvação não é individual porque não é um fim em si mesmo, a finalidade de sermos salvos é levarmos a salvação a outros que ainda estão perdidos. A salvação não é individual porque ninguém consegue salvar-se a si próprio, antes necessita da graça de Cristo que é manifestada por meio de seu corpo na terra, a Igreja. A salvação não é individual porque um dos passos do processo de salvação é o chamado, e este se dá pela voz do Espírito e a noiva (Igreja) que juntamente dizem: “vem” (Apocalipse 22:17).

Por fim, ser salvo não significa qualquer mérito pessoal. Significa sim, graça de Cristo, que move céus, terra e corações a fim de nos alcançar.

Portanto, oremos: Obrigado Senhor, por todos aqueles que o Senhor tem colocado em nosso caminho. Pois são anjos sem os quais não saberíamos encontrar-Te!

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Extraído do livro O CRISTIANISMO QUE OS CRISTÃOS REJEITAM de Julio Zamparetti

terça-feira, 15 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (III) demônios feitos pela alma humana

Por Julio Zamparetti


Toda vez em que o Novo Testamento traz o termo “demônio”, o texto refere-se a doenças internas, nunca externas. Ou seja, refere-se às doenças psicológicas ou psicossomáticas, nunca às doenças físicas. Em resumo, aquilo que não se sabia o que era e de onde viera, qualificava-se como demônio. Por outro lado, quando Jesus curava um paralítico, Ele não estava mexendo na alma e sim no físico, esses casos não eram relatados como se houvesse expulsado demônio. Em tais casos Ele restaurava os nervos, ossos, tecidos, veias e artérias, enfim era um milagre físico, mesmo. Não há qualquer relação bíblica entre doenças físicas e demônios, isso porque os escritores dos evangelhos atribuíram aos demônios somente aquelas doenças que não entendiam, nem sabiam a causa.


No início dos anos oitenta meu pai começou a sofrer de ataques epiléticos. Naquela época (apesar de, relativamente, tão recente) os médicos nos disseram que não sabiam ao certo o que causava tais ataques, então, nós crentes, logo havíamos proferido o “diagnóstico”: Meu pai estava endemoninhado. O que nós não sabíamos, muito menos sabiam os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João há quase dois mil anos atrás, ao relatarem sobre a cura do lunático (Mateus 17:18), é que aquilo que chamávamos de demônio, a medicina descobriu que é, a grosso termo, um curto circuito nos neurônios. Pobre de meu pai e tantas outras pessoas que, por conta de um problema neurológico, foram discriminadas como “possuídas por espíritos do inferno” e ainda tiveram que suportar os amigos de Jó fazerem os mais absurdos “diagnósticos” das causas de tal “possessão maligna”. E assim como a epilepsia, muitos outros males vão sendo desendemonizados à medida que se descobre a enfermidade e sua causa.


Flávio Joséfo, um historiador judeu que viveu no primeiro século, relata que o rei Salomão expulsava o demônio de uma pessoa pondo em seu nariz certa raiz que ao ser cheirada o demônio saía lançando a pessoa ao chão que levantava-se completamente calma e curada de tal mal1. Ele relata, inclusive, que tal pratica era usada ainda em seus dias, exatamente como fazia Salomão. O nome desta raiz eu não sei, mas o tipo de efeito que ela causava, sabemos bem. E se hoje cheirar raiz para se exorcizar é um programa de índio, muita gente das tribos urbanas busca o mesmo efeito cheirando, injetando, inalando, fumando, tomando calmantes, etc. Situação semelhante é relatada na Bíblia quando Saul, atormentado por um espírito maligno enviado de Deus, encontrava alívio no dedilhar da harpa de Davi. De fato poucas coisas da vida são tão exorcizantes quanto uma boa música suave.


Nesta obra identificaremos três grandes castas de demônios, até aqui, identificamos duas delas: uma feita por mãos humanas (ídolos), outra feita pela alma humana, da qual configuram-se os traumas, o ódio, o desejo de vingança, de morte, de prostituição e tantos outros males que por vezes alimentamos e fermentamos em nosso coração. Acredito que a esta última se referia, Jesus, ao dizer que esta casta demônios não sai senão com jejum e oração. Afinal, jejuar é dizer não à carne, abster-se da própria concupscência, aprendendo a dizer não aos desejos enganosos do coração, pois é do coração que procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mt.15:19). Abstendo-nos do mal e entregando-nos a Cristo por meio de uma vida de oração nossos demônios são vencidos em nossa própria carne.


O mais interessante é que a maioria dos crentes busca atribuir aos demônios aquilo que o próprio Jesus atribuiu ao coração (alma) do homem. Com isso, quando alguém insiste em pôr a culpa de seus maus desígnios aos demônios, deveria primeiro, assumir ser ele mesmo o próprio demônio. Com certeza, esta é a pior casta de demônios que existe, porque assumir a culpa nunca foi o forte da humanidade. Do jardim do Édem até hoje, continuamos lançando nossa culpa sobre a serpente. Aliás, é necessário entendermos que assumir a nossa culpa, em caso de desejarmos a morte, é bem melhor que pôr a culpa no “exu caveira”, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos adultério, é bem melhor que pôr a culpa na “pomba-gira”, enfim, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos furtos, mentiras, bebedeiras, etc., é bem melhor que pôr a culpa nos “demônios”. Afinal, o que Cristo carregou na cruz foi a nossa culpa2. Se quisermos ter nossos pecados perdoados é necessário, em primeiro lugar, assumi-los.


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1. Flávio Joséfo , História dos Hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 1990. Pg. 200.

2. Isaías 53:4-6 – Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”.

segunda-feira, 14 de março de 2011

BOAS PROSTITUTAS CRISTÃS

A rede ABC, que pertence ao grupo Disney, provocou indignação e protestos quando anunciou que faria um programa piloto baseado no livro Good Christian Bitches [Boas Prostitutas Cristãs], de Kim Gatlin.

Após o anúncio feito pela emissora na última semana, a AFA [Associação de Famílias da América] iniciou uma petição, exigindo que a Rede ABC e a Disney, sua companhia-mãe, cancelem todos os planos de colocar no ar o programa.

A resposta inicial da ABC foi mudar o título do seriado para “GCB”, mas a AFA não ficou satisfeita.

Embora o título do programa possa ter sido abreviado, a gravidade do insulto não foi, por isso continuaremos o protesto”, afirmou o líder de projetos da AFA, Randy Sharp. “Esta é uma maneira pela qual podemos fazer nossas vozes serem ouvidas pelos executivos da ABC.”

Vou falar por mim”, insiste Sharp. “Qualquer um que se referir a minha esposa e minhas filhas como ‘prostituta’, me deixaria muito zangado. Acho que é ofensivo simplesmente a ABC pensar que essa é uma palavra apropriada para usar para falar do sexo feminino.”

Na esteira da AFA, o Parents Television Council [Conselho de Pais e de Televisão], que já fez campanhas contra programas da MTV no passado, também se manifestou contrário à produção da ABC.

O presidente da PTC, Tim Winter, afirmou: “Isso não apenas afronta as mulheres, mas ataca frontalmente a maior religião do mundo. A palavra ‘puta’ é maldosa e usada para enxovalhar, atacar e humilhar todas as mulheres. E usar ‘cristãs’ apenas aumenta a ofensa… Será que a ABC pensou em ofender outros grupos religiosos? Como seria se eles dissessem que o programa se chamaria ‘putas’ muçulmanas, hindus, judias ou budistas?”.

A proposta da série, que mistura drama e comédia, é mostrar a vida de Amanda, que foi uma “menina má” na escola mas hoje está “recuperada”. Depois de seu divórcio, ela decide retornar com seus 2 filhos a Dallas, sua cidade natal, para recomeçar a vida.

Porém, acaba tendo de lidar com as fofocas maliciosas das mulheres da comunidade cristã. O foco é abordar o comportamento hipócrita de pessoas que se dizem religiosas e mostrar os bastidores da igreja que frequentam.

O papel principal foi dado à atriz Leslie Bibb e o produtor executivo será Darren Star, de séries consagradas como “Sex and the City“ e “Barrados no Baile”. Não há previsão ainda de quando as filmagens começam e nem que dia da semana irá ao ar. O mais provável é que surja como um teste de audiência durante o spring break, substituindo alguma série atual durante parte do segundo semestre.

Fonte: Gospel Channel RCSP

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Por Julio Zamparetti

Não me cria tanto espanto ver que a ABC tenha tido essa idéia relacionada às mulheres cristãs e não às muçulmanas ou judias. Afinal, é o cristianismo quem tem criado um mundanismo paralelo dentro da própria fé, onde vale tudo, desde boates gospel a tchutchucas de Gisuis “evangelizando” com a bunda e pousando nua. Não falta nem mesmo “irmãzinhas” e “irmãozinhos” que atuem em filme pornô. “Oh, tudo bem! Só não esqueçam de dar o dízimo!”

Essa mesma porca vergonha não se vê entre mulçumanos e judeus. Perdemos o respeito próprio, não adianta, agora, querermos ser respeitados.

Temos algo muito mais urgente que protestar contra o programa GCB. Precisamos recobrar a ethos cristão.

domingo, 13 de março de 2011

PADRE CORAJOSO

Recebi e repasso: “O Ministério Público Federal de São Paulo ajuizou ação pedindo a retirada dos símbolos religiosos das repartições públicas em 2009. E eis que um padre chamado Demetrius, pouco tempo depois, resolveu se manifestar: “Sou padre católico e concordo plenamente com vocês por quererem retirar os símbolos religiosos das repartições públicas. Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A cruz deve ser retirada! Aliás, nunca gostei de ver a cruz em tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas.

Não quero mais ver a cruz nas Câmaras Legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte. Não quero ver, também, a cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados. Não quero ver, muito menos, a cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento. É preciso retirar a cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças, das misérias e sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos. Frade Demetrius dos Santos Silva (SP)”. Só diz a verdade quem tem coragem...

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Fonte: http://www.diariodosul.com.br/?pag=variedades&codcol=27

sábado, 12 de março de 2011

VOCÊ REZA OU ORA?

Por Julio Zamparetti

Devido a minha postura assumidamente ecumênica, algumas pessoas evangélicas me perguntam, você reza ou ora? Prontamente lhes respondo: rezo e oro.

Eu tanto rezo quanto oro porque, em primeiro lugar, rezar e orar são sinônimos desde suas raízes latinas: orar vem do termo orare que significa pronunciar uma fórmula ritual, oração, frase, enquanto rezar vem do latim recitare de onde temos o verbo recitar que significa dizer (orar) em alta voz.

No Brasil criou-se por parte dos evangélicos a distinção entre os termos, conotando-se à palavra rezar o ato de se fazer orações decoradas. Ironicamente, as orações recitadas não sofrem, por parte destes, qualquer relação com o termo rezar. O hábito de recitar salmos e versículos lhes é comum, porém, mesmo fazendo, não admitem que estão rezando!

À palavra orar foi dado o sentido de fazer orações espontâneas. Entretanto, o sentido original da palavra, que é pronunciar, permite que o termo também seja relacionado ao ato de proferir orações previamente estabelecidas e até mesmo decoradas.

Alguns argumentam que as orações decoradas não expressam o sentimento do coração. Este é, na verdade, um problema muito sério, que jamais seria resolvido com orações espontâneas. Pois não são as palavras que fazem autênticas as orações, mas sim o Espírito em que se ora. Neste ínterim, podemos comparar a oração à música, onde na maioria das vezes a melhor interpretação não se dá pelo compositor. É comum vermos intérpretes expressarem muito mais sentimento e originalidade que o próprio autor da música.

Eu gosto de recitar (rezar) Salmos, o Pai Nosso e outros textos bíblicos. Tenho alguns deles decorados e comumente os uso em meus devocionais. Honestamente, me acho incapaz de fazer orações melhores que estas. É nas Escrituras Sagradas que encontro as mais perfeitas expressões dos sentimentos de minha alma.

Também gosto de recitar, repetidas vezes, versículos e orações breves. Há quem condene isso por dizer se tratar de “vãs repetições”, tal qual descritas por Jesus em Mateus 6.7. O problema dessa acusação é que ela não expressa a verdade que Jesus estava retratando. Jesus não estava criticando as orações repetidas, mas sim o pensamento de quem deseja impor sua própria vontade sobre a vontade de Deus através de muitas palavras. O que Jesus está dizendo é que é o espírito do orador e não as palavras proferidas que torna as repetições vãs. E neste aspecto podemos dizer sem medo de errar que muitas orações espontâneas não passam de vãs repetições. E haja repetições de “aleluias”, “glórias a Deus”, “louvado sejas” e glossolalias para preencher o tempo de oração! Pois pensam que pelo tempo que gastam e seu muito falar serão ouvidos por Deus.

Não há nada de errado em orar/rezar repetidamente. O erro está em nossas motivações que fazem com que as repetições e qualquer forma de oração tornem-se vãs. O próprio Jesus ensinou a pedir repetidamente, de forma insistente, conforme vemos em Lucas 11.5-8. Se isso já não bastasse, Ele mesmo orou repetindo, por aproximadamente três horas, as mesmas palavras: “E, indo um pouco adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. E, indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade. E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras (Mateus 26.39,42,44).

Seja recitando, rezando, declamando, orando, cantando, clamando ou agradecendo de forma espontânea, lida ou decorada; em pensamento, falando ou se calando: achegue-se a Deus e Ele se achegará a você.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O QUE MAIS ME APAVORA É ESSE MUNDO MALIGNO QUE SE DISFARÇA DE RELIGIÃO DE DEUS

Por Caio Fábio

Boate de crente, cerveja de crente, e tudo mais de crente e para crente, além de ser, em si, algo careta e feio, é sintoma e manifestação de que os crentes não são o sal da terra, mas sim o sal dentro do saleiro. Ora, isto é reflexo daquilo que foi ensinado aos crentes: que o diabo mora na boate, que os demônios vivem no álcool e que o mundo é um lugar, não um espírito. Assim, quanto mais pensam que o mundo é feito de lugares, mais eles se tornam mundanos, visto que não vão aos lugares do mundo, mas criam seus “corbãs” (Mc 7:9-13) a fim de jeitosamente darem seus “jeitos” em relação àquilo que se diz ser mundano, mas que eles não vêem mal algum em fazer, tendo que fazê-lo dentro do aquário cristão, visto que para eles o mundo é um lugar, não um espírito. Assim, eles tornam mau, pela sua própria alienação e preconceito, algo que em si nem é bom e nem é mau, dependendo apenas de como cada um lida com a coisa em si.


O mundo é um espírito, de acordo com Paulo. Ele chama de “curso deste mundo”, cuja tradução modernizada seria “o fluxo da corrente deste mundo”. Ora, esse espírito do mundo foi jeitosamente vinculado pelos evangélicos às coisas do lazer, do prazer, da diversão, dos relacionamentos, das festas, das boates, dos cigarros, das bebidas, das roupas e dos cosméticos. Assim, mesmo que uma pessoa que seja bondosa, sóbria, piedosa, misericordiosa, madura, limpa de olhos, sem inveja, não interessada em fofocas nem em disputas de espaço religioso, e plena de amor a Deus — ainda assim a tal pessoa será considerada mundana se tomar cerveja ou outra bebida alcoólica, se gostar de dançar, se fumar cigarro, se vestir-se bem e conforme gostos modernos e se não falar conforme a língua do gueto cristão. E isso é assim porque para os “evangélicos” o que contamina o homem é o que entra pela boca e não o que sai do coração. Ou seja: a maioria dos “evangélicos” são discípulos dos fariseus enquanto pensam que são discípulos de Jesus.


No ensino da Palavra há “um mundo” ao qual se deve odiar e há “um mundo” ao qual se deve amar. O mundo que se deve odiar é feito de espíritos de maldade, inveja, corrupção, malícia, manipulação, ódio, raivas, iras, perseguições, antipatias, inafetividade, e objetização do próximo. Esse é mundo que se deve odiar, e que existe tanto na “igreja”, em seus concílios e em suas convenções, quanto em qualquer disputa política no Congresso Nacional. Já o mundo que se deve amar é feito de gente, de todo tipo de gente, e tem a ver com a celebração da vida, da alegria, da comunhão humana, da sociabilidade que aproxima os diferentes; visto que tal “mundo” é objeto do amor de Deus: a humanidade.


Assim, em Jesus, o mundo existia muito mais no Sinédrio de Jerusalém do que na casa dos publicanos. Era em Jerusalém, a Jerusalém dos cultos ininterruptos, onde Jesus via o mundo; e é de lá que vêm os poderes acerca dos quais Jesus diz: “Vamo-nos daqui; pois aí vem o príncipe deste mundo” — embora quem chegue sejam as autoridades religiosas a fim de prendê-lO.


Se o mundo, segundo Jesus, fosse festa, bebida, dança, etc, então, se deveria dizer que Jesus era um mundano, visto que Ele comia de tudo (a ponto de Lhe chamarem "glutão"), bebia de tudo (a ponto de ser designado como "bebedor de vinho"), andava com todos (a ponto se ser chamado "amigo de pecadores"), e não criava eventos para os pecadores, de um lado, e para os discípulos, de outro. Ao contrário, Ele levava os discípulos para a boate dos publicanos, para a festa dos pecadores, para os banquetes dos mundanos, do ponto de vista da religião.


Jesus também não bebia cerveja ou vinho sem álcool. O vinho que Ele criou em Caná era vinho mesmo, como convinha ser em qualquer festa. Além disso, nos dias dEle, Joaquim Jeremias nos diz que a bebida mais comum era a "cevita", uma cerveja muito apreciada pelo mundo romano e por todas as pessoas da Palestina. Isso sem falar que o vinho da Ceia, segundo Paulo (I Co 11), tinha o poder de fazer embriagar ("...ao passo que há quem se embriague...”). Portanto, os cristãos originais não tinham essa neurose acerca de bebida alcoólica, até porque não dá para ser discípulo de Jesus e praticar essa forma de ascetismo —ou qualquer outra forma de ascetismo—, visto que Jesus era tudo, menos ascético; e o ensino de Paulo aos Colessenses é flagrantemente contrário ao ascetismo do tipo “... não bebas isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro...”, coisas essas que Paulo diz que têm “aparência de sabedoria e humildade, mas que não têm valor algum contra a sensualidade”.


O mundo que mais me apavora é esse mundo maligno que se disfarça de religião de Deus. É aí que as mais estranhas e malignas manifestações do mundo se manifestam, embora ninguém dance, beba ou fume. Sim, eles não fazem nada disso. Porém, devoram-se uns aos outros, conspiram contra os irmãos, torcem pela queda de alguns, alegram-se com suas vitórias filhas da malícia e vivem para garantir o cosmético de sua falsa humildade, as quais são os disfarces dos lobos que se vestem de ovelhas.


Eu vou a boate quando dá —infelizmente, hoje em dia, muito raramente. Mas quando vou, vou a uma boate de gente, onde eu possa dançar com minha mulher, e dançar músicas normais, conforme a poesia da vida. Quase não bebo, pois, depois de duas hepatites, meu fígado não gosta do impacto da bebida em meu organismo. Todavia, meu paladar gosta de um bom vinho, de uma cerveja geladinha num dia quente, de um “Porto” após as refeições, de uma caipirosca na praia, e de champanhe nas celebrações solenes.


O que se tem que saber é que uma pessoa que aparecesse fazendo o que Jesus fazia (curas, milagres e libertações) e dizendo o que Jesus dizia, se, todavia, vivesse com a liberdade que Ele tinha de comer e beber nas festas dos “mundanos” (publicanos e pecadores), tal pessoa seria vista pelos “evangélicos” do mesmo modo que os fariseus e religiosos viram Jesus em Seus dias.


Ou seja, o olhar dos “evangélicos” não vê a vida com os olhos de Jesus.

NEle, que comia e bebia com pecadores, e ia onde era convidado com boas intenções,

Caio Fábio

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Leia este artigo na íntegra em: http://gracaplena.blogspot.com/2011/03/os-evangelicos-trocaram-o-evangelho.html

quinta-feira, 10 de março de 2011

EDUCAÇÃO E TELEVISÃO

Por Luiz Antonio Silva

Eu estava assistindo o compacto do desfile das escolas de samba e pensando: “ se o compacto foi assim, o que não passou durante o desfile”. Então me lembrei de numa conversa que tive pelo msn com uma professora de Jaraguá do Sul/SC. Ela me disse que ficou pasma quando um aluno de aproximadamente 10 anos disse em sala de aula que assistia filmes pornôs. Para sua maior surpresa, outros também confirmaram o mesmo. Quando ela perguntou como eles assistiam, a resposta foi que "possuiam Sky". Isso nos incentiva a fzermos algumas perguntas: Será que os pais sabem? Porque não colocaram senha de autocensura? Será que possuem consciência do reflexo?

Divaldo Pererira Franco, criador e responsável pela Mansão do Caminho, instituição que já educou milhares de crianças, diz: "A educação não é um processo que possa ser levado a efeito quando a criatura já adquiriu hábitos." Nesta hora lembro do meu velho pai, analfabeto e sábio, na sua velha filosofia interiorana: "Filho, burro velho não pega trote", para dizer que se acerta o galho enquanto está verde, pois depois de seco ele quebra.

Dentro de minha maneira de analisar, a difusão das idéias materialistas, muitas vezes, abre portas para o desequilíbrio, trazendo profundas implicações negativas. O que percebemos é que valores nobres da família estão sendo menosprezados e ridicularizados. E a televisão tem contribuído e muito para isso!

Surge então a pergunta: deve-se acabar com a televisão? Seria ingênuo supor que críticas isoladas possam abalar o avanço da televisão. Até por que não é justo, pois não se pode extinguir um instrumento pelo mau uso que se fazem dele. Defender a volta da "censura" seria um retrocesso. A melhor censura que pode existir é as das pessoas que precisam usar discernimento na escolha dos programas, portanto saber utilizá- lá.

Se a TV mostra programas e ideias perniciosas é porque ainda carregamos idéias e desejos inferiores e como disse um grande professor e educador : "Não temos verdadeiramente, o direito de nos dizermos civilizados enquanto estimularmos os vícios que nos desonram". E quais os aspectos positivos da tv? O fato de ela ser um veículo de informações culturais, integração nacional, cultura, saúde, ciência, etc. Há tantos programas instrutivos, comprovando sua utilidade educativa e cultural! A TV, quando em sintonia com sua finalidade útil, é veiculo poderoso, transformando o mundo numa "aldeia global”.

Chegamos então à conclusão que devemos escolher e selecionar com cuidado, não só os que nossos filhos vêem, mas também os que nós, como pais, assistimos, exemplificando com nossas próprias atitudes o que consideramos seja melhor para eles. Nesta escolha, segundo a Psicologia Transpessoal, devemos lembrar que a TV desperta o subconsciente mais cedo através do bombardeio de estímulos, que provocam respostas precoces deste subconsciente, onde estão arquivadas todas as experiências do passado, seus vícios e virtudes, seus bons e maus hábitos. Será que nossas atitudes não estão acordando o urso em hibernação que está no subconsciente de nossos filhos? Na verdade a grande problemática na convivência com a televisão está na atitude conivente dos pais. A título de silenciar os filhos, fugir do diálogo, do desânimo ou do cansaço, muitos pais fazem da TV babá eletrônica, num lamentável exemplo de relaxamento de seus deveres.

Conviver com, a televisão é uma realidade da qual não podemos fugir, e a nossa reação perante esta situação é que vai definir uma convivência sadia ou perigosa. Num livro chamado O Consolador, o autor diz: “a melhor escola, ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. A tarefa é conduzir os filhos no caminho do diálogo educador, da palavra instrutiva, da observação minuciosa, do exemplo nobre, das atitudes dignas nas mais variadas situações no lar." O psicanalista Bruno Betleheim observa: "televisão não faz mal nenhum desde que pais e filhos discutam alguns minutos sobre o conteúdo do programa".

Não podemos isolar nossos filhos da modernidade, não podemos fugir dela, então o desafio é preparar os filhos para convivência com este mundo, que lembra um programa de TV, um "caldeirão fervente". Os ingredientes são emoções, sentimentos e pensamentos trabalhados desde muito cedo com grande intensidade. E sem dúvidas, o melhor local de preparação de nossos filhos é o lar. O professor e educador mineiro, Walter Barcelos, confirma que a família"é o mais importante instituto de educação que temos na terra."

Termino meu artigo fazendo um convite: Pais, vamos buscar nos grupos de auto-conhecimento os recursos que nos fortaleçam nesta batalha, preparando-nos com estudo edificante, no trabalho renovador e na observação sadia. Assim, saberemos transformar a televisão, de inimigo perigoso em amigo útil, abrindo-nos as portas da informação e da cultura. Concluo lembrando um grande educador e formador de líderes, o apóstolo Paulo: "Tudo me é lícito, porém nem tudo me convém."