quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CONSTRUÇÃO DA PAZ

Por Julio Zamparetti

Tão grande quanto o número de religiões são os seus conflitos, fruto da intolerância, da falta de caridade, do fundamentalismo e de interesse econômicos. Partindo desse pressuposto, percebe-se que, ao contrário do que sugere a etimologia da palavra “religião”, que deriva-se do latin “religare”, a religião, muitas vezes, ao invés de religar, tem sim desligado o indivíduo de seu próximo e de Deus.

No geral, as causas destes confrontos são complexas, envolvendo jogos estratégicos na geopolítica, veladas disputas entre antigas potências coloniais, disputa entre grandes companhias pelo acesso a diamantes, petróleo, gás, urânio ou outros materiais estratégicos, além de razões históricas, econômicas, políticas e sociais, raciais e, cada vez mais, culturais. É inegável que muitos destes conflitos vêm atravessados igualmente por uma vertente religiosa, acionada ao sabor dos interesses em jogo. (BEOZZO, 2003)

No Brasil, ainda que seus conflitos não tomem proporções semelhentes as que ocorrem em paises da Europa e Oriente médio, podemos sentir os seus reflexos negativos pela falta de cooperação mútua que poderia fazer muita diferença para a constituição da paz e do bem estar de nosso povo.

Indivíduos não foram feitos para as religiões, as religiões é que foram feitas para os indivíduos, para ampara-los espiritualmente, conforta-los e acolhe-los sem discriminação. A verdadeira religião não busca pessoas que comprovem status e dignidade a altura, mas acolhe os enfermos, miseráveis, excluídos e discriminados.

Estamos familiarizados com um Jesus Cristo, Filho eterno de Deus, Senhor do universo, Salvador do mundo, primogênito de toda criação e primeiro ressuscitado entre muitos irmãos. Estes títulos de magnificação ocultam as origens humildes, a trajetória histórica do verdadeiro Jesus que andou entre o povo, perambulando pelos vilarejos da Galiléia e que morreu miseravelmente fora da cidade de Jerusalém (BOFF, 1978 p. 21).

A grande contradição deste tema se dá, justamente, ao tratarmos da falta de caridade entre aqueles que subsistem através da propagação do amor. Ou seja, dependem do discurso da caridade para a sua subsistência, porém efetivamente não a buscam na convivência. A caridade é o amor que leva alguém a realizar boas obras sem esperar absolutamente nada em troca. Quando tratamos de caridade estamos falando de um amor verdadeiro, ativo ainda que não correspondido. Todas as religiões subsistem-se dessa mensagem. Vive-la, não seria a solução para todos os conflitos?

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.O amor jamais acaba. (1 Coríntios 13:4-8a)

Outro fator de conflito em que a religião está ataviada é a questão econômica. Existe muita coisa em jogo quando o assunto é o comércio religioso. Nele está envolvido toda uma questão de força política e poderio econômico do qual ninguém se dipõe a abrir mão. Assuntos de cunho relativo a fé são discutidos e dirigidos sob o prisma político e monetário, onde o que realmente interessa é o lucro e a manutenção do poder. É em nome desse poder que alianças são feitas ou desfeitas e o amigo de hoje torna-se inimigo, amanhã.

O caminho da construção da paz se dá na comunhão do fundamento essencial de uma religião que realmente religa, o amor. Isso compreende o respeito à individualidade, às diferenças religiosas e culturais e à liberdade de expressão. Compreende também valorizar a vida e o ser-humano acima dos dogmas religiosos e interesses econômicos. Compreende a disposição de fazer o bem sem olhar a quem, nem olhar o quanto isso possa gerar ônus ou bônus para os interesses particulares.

A paz seja com todos!

Um comentário:

  1. Caríssimo Reverendo Júlio, parabéns pelo pertinente comentário, onde devemos propagar o amor acima de tudo e de todos, pois só o Amor nos impulsiona a Verdade que é o próprio Cristo, nosso irmão Ressuscitado que vive, reina e a cada dia caminha conosco.Porém, muitos tentam apagar o Evangelho do Reino, através de uam política nos meios religiosos que se preocupa muito mais em explorar a fé simples do Povo, do que de fato, lutar por uma sociedade mais justa e fraterna aos olhos de Deus.O que impera hoje, são os Césares da Teologoa da prosperidade, onde é pregado que a benção só acontece se eu for generoso com Deus através de minhas ofertas seja em espécie monetária, seja material, pois senão, Deus não me abençoará ou ainda,uma política que busca colocar religiosos no poder do que imperar com amor e ética não um poder, mais um Governo de cunho religioso onde a moral e a ética sejam defensoras dos bons costumes e da família.
    Se uma nação não é temente a Deus, será temente do que? Assim o homem continuará a ser lobo do homem.Peçamos ao Senhor que nos ilumine hoje e sempre.Amén!
    Daniel Silbernagel- Diocese de Petrópolis R.J.

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