quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A ESPIRITUALIDADE DA ÁGUA E O SAL

Por Edmar Pimentel


O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d’água e bebesse.
– Qual é o gosto? – perguntou o Mestre.
– Ruim – disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:
– Beba um pouco dessa água.
Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
– Qual é o gosto?
– Bom! – disse o rapaz.
– Você sente o gosto do sal? – Perguntou o Mestre.
– Não – disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:
– A dor na vida de uma pessoa é inevitável. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Então, quando você sofrer, a única coisa que você deve fazer é aumentar a percepção das coisas boas que você tem na vida.
Deixe de ser um copo. Torne-se um lago.
(Extraído – Conto Zen)


Nesse texto de filosofia Oriental, somos chamados à reflexão partindo do particular para o todo.

Como copo – território limitado, é mais fácil administrar a espiritualidade do in-mundo, do EU de cada um de nós. Minha dor, minhas contas, meus problemas, minha família, meu, meu e meu... Meu copo.


...O lago nosso de cada dia nos daí hoje.


Na vida, somos desafiados a “expansão”. Expandir-se é quase um dever; é uma necessidade. Expandir-se é crescer, amadurecer, encarnar o novo, é abrir-se às possibilidades, ouvir e comprometer-se; sentar e conversar, dizer “sim”, quando o sim é a melhor opção; olhar no olho; é comungar.


A água é da mesma essência no copo e no lago. Só que, no lago, esta está em quantidade infinitamente maior. O Sal pode manter as suas propriedades exclusivamente no copo e para o copo, servindo de elemento de conservação. Sal que salga, que torna amarga, que conserva, que eterniza. Mas lançado ao lago, poderá ser nutriente alimentício para muitos. Não conservará a si próprio, mas , como aquele que dá a vida pelos outros, sevirá a muitos, ainda que ele mesmo não apareça.


Assim foi na história daquele pobre garoto que tinha alguns pães e peixes provavelmente para uma última refeição em seu copo. Mas quando o pão é disponibilizado e repartido torna-se sacramento para muitas pessoas. Ou ainda como os dez que foram curados da lepra e só um voltou agradecido. Os dez deixam de ser copos sujos e passam agora a ser limpos e socialmente aceitos por todos, porém nove serão apenas copos limpos. Esse que voltou vislumbrou aquele que é o “limpador” de copos e uniu-se à imensidão de água a jorrar. Maior do que a purificação da lepra, aquele pobre descobriu que ser copo é olhar para o próprio umbigo, enquanto há uma imensidão de “água viva” que pode transbordar a partir do seu EU interior se tão somente lançar-se à imensidão do lago.


A forma pela qual se adquire o transcendente é tornando-se lago. Copo e lago estão dentro de nós. Resta-nos querer abrir mão da comodidade e nos lançarmos à pluralidade... O santuário das moradas do Altíssimo, Deus está no meio dela...


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Edmar Pimentel é Reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.

Um comentário:

  1. gosto dos seus post,vc se propõe a falar numa linguagem gostosa de ler.

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