quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Rádio SANTA CELEBRAÇÃO

A partir de agora você pode ouvir nossas mensagens gravadas nas celebrações dominicais, louvar a Deus e receber as orações através de nossa rádio virtual. basta acessar este blog e escolher, no player localizado a direita de seu monitor, o tema que deseja ouvir. então é só abrir o coração e receber muita luz de Deus.

Um abraço a todos,
Revdo. Julio Zamparetti

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O MATRIMÔNIO PODE SER NULO?

Por Julio Zamparetti

Segundo os cânones da Igreja Católica Apostólica Romana, um casamento pode ser considerado nulo quando for comprovado que não houvera vínculo pelo qual o sacramento seja válido. Isto é, casamento sem amor não vale.

Depois de 13 anos de casamento, 3 filhos, o espertalhão diz: pensando bem, nunca te amei, quero casar com outra por quem me apaixonei. Te amar não deu, nosso casamento não valeu, vou pedir que o bispo declare isso.

Os cânones permitem a exclusão total do matrimônio com o objetivo de honrar a dignidade do sacramento, arrumando assim os erros dos casamentos arranjados nos acordos entre os coronéis, reis, ou mesmo aqueles em que o pai da moça acompanhava a marcha nupcial com um trabuco junto à orelha do noivo fujão.

O problema é que como não existe um amorômetro para medir o amor existente entre os nubentes no dia do casamento, basta o fanfarrão dizer que casou sem amor e tem aí um belo argumento para pedir a declaração de nulidade do casamento. E quem poderá dizer o contrário? Quem poderá dizer se ele a amava ou não? Pronto! Verdade é que bagunçaram com o que servia para arrumar!

O começo dessa bagunça se dá numa falsa interpretação bíblica difundida pela igreja de Roma. Dizem que “o que Deus uniu o homem não separa”. Mas o texto bíblico não diz isso. Diz, sim, que “o que Deus uniu o homem não separe”. O verbo é imperativo, trata-se de um dever. Uma versão católica diz: “O que Deus uniu o homem não deve separar”. Quem casa tem o dever de manter o casamento enquanto ambos viverem. Entretanto, em lugar algum das escrituras é afirmado que se alguém não cumprir seu dever aqui, Deus manterá o vínculo no céu. Por isso, mesmo que o divórcio seja contra o desejo do Altíssimo e só tenha sido concedido por Moisés por causa da dureza dos corações, divórcio dado aos homens é divórcio consumado diante de Deus. Pois é inútil afirmar união enquanto os corações estão separados, principalmente diante de Deus que vê justamente o coração. Ademais, de que adianta negar o divórcio se continuamos com os corações tão endurecidos quanto os corações dos contemporâneos de Moisés? Isso é um típico caso em que se combate o efeito sem tratar a causa.

Logo, o pecado não está em casar-se novamente, mas sim em separar-se. A declaração de nulidade do casamento, além de ser enganosa, desmoraliza e enfraquece a instituição do matrimônio, subjetivando o sacramento e dando ao demandante a falsa sensação de que é apto a casar-se novamente.

As Escrituras dizem que os dons de Deus são irrevogáveis. Se isto vale para dizer que não há divórcio diante de Deus, também vale para dizer que não há nulação. Entretanto, o divórcio é algo que não deve, mas pode acontecer. A nulação, todavia, é negar os fatos, a história e a vida, coisa que não se deve, nem se pode fazer.

Se não podemos resolver o problema da dureza de coração que leva ao divórcio, negar o direito ao segundo casamento também não é solução, pelo contrário, é só mais um problema.

Talvez o pior fator que componha este cenário seja algo de que a Igreja não se deu conta: se um casamento é nulo pela falta de vínculo, outros sacramentos também são nulos pela mesma razão. Isso subjetiva todos os sacramentos e põe em xeque a autenticidade da igreja. Por exemplo, um padre pode ter sua ordem nula por falta de vocação. E não são poucos os que, ao longo da história, ingressaram ao sacerdócio e até chegaram a ser bispos, unicamente por pressão familiar ou acordos políticos. Usando da mesma medida usada para se declarar nulo um casamento, caberá também declarar nula muitas ordenações e, por conseqüência, igualmente nulos todos os sacramentos ministrado pelo padre nulado.

Falta à igreja usar para com os leigos a mesma medida com que se faz valer ao clero; objetivar o matrimônio da forma como objetiva as sagradas ordens; e usar para com todos a mesma misericórdia com que Cristo usa para conosco, dando sempre uma segunda chance.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O PENTECOSTALISMO E O REDUCIONISMO DE PENTECOSTES

Por Julio Zamparetti

Alguém por aí conhece alguma igreja pentecostal? Mostrem-me, por favor. Porque até agora não vi uma sequer.

As igrejas que ostentam o título de pentecostal assim se nominam por afirmarem viver os mesmos fenômenos relatados em Atos cap. 2, por ocasião do dia de pentecostes. Todavia, não há em igreja alguma, uma única manifestação de um único sinal semelhante àqueles ocorridos no memorável dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.

O primeiro sinal foi de um som, como de um vento impetuoso, que vinha do céu. O som era tão intenso e real que fora ouvido pelos populares da redondeza, atraindo-os até o cenáculo, onde estavam os discípulos. O som descia do céu para o lugar onde eles estavam, nada tinha a ver com os berreiros que são travados, hoje, para que o som chegue ao céu.

Apareceu entre os discípulos línguas como que de fogo. Eles não imaginaram isso. O que apareceu foi visto até por aqueles que estavam de fora, assistindo, atônitos, como expectadores que tentavam entender o que viam.

Cheios do Espírito Santo, os discípulos passaram a falar em outras (mas não estranhas) línguas. O que falavam era perfeitamente entendido pelos estrangeiros ali presentes.

Em línguas estrangeiras, eles falavam das grandezas de Deus, não se gloriavam em seus feitos, não chamavam a atenção para si, não tencionavam mostrarem-se poderosos, como faz a maioria dos pregadores pentecostais de hoje. Os que tencionaram isso não foram os discípulos, mas sim os construtores da Torre de Babel.

Enquanto no dia de pentecostes o céu veio aos discípulos, no relato dos babilônicos, eram eles quem tentavam alcançar o céu. Enquanto os discípulos falavam das maravilhas de Deus, os babilônicos queriam tornar seus próprios nomes grandes. Julgue você mesmo, entre os pregadores de hoje, quem são os que falam das maravilhas de Deus e quem são os que fazem ser enaltecidos os seus próprios nomes.

Mas antes de fazer esse julgamento, considere isso: um grande problema das igrejas de hoje é atribuir aos sinais o conceito de maravilha. O som de vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em outras línguas, as curas, a expulsão de demônios e a invulnerabilidade ante a ingestão de venenos, ou picadas de cobras, são apenas sinais. Vale ressaltar que Cristo advertiu que falsos cristos também operariam essas mesmas coisas, muito embora os falsos cristos de hoje estão longe de realizar tanta coisa. Diferentemente, maravilha de Deus, ou milagre, concerne à salvação e o perdão dos pecados, coisas que só Deus pode obrar. É por isso que as Escrituras atestam que os sinais operados pelos apóstolos tinham o propósito de testificar que a Palavra pregada por eles era verdadeira, maravilhosa, milagrosa. Portanto, não confunda os sinais com as maravilhas de Deus. Pois o grande milagre de Deus é sua Palavra encarnada, Jesus, o Verbo de Deus, que é poderoso para transformar a vida de todo aquele que crê.

Aqueles sinais, ocorridos no dia de pentecostes e relatados em Atos 2, não são mais vistos em igreja alguma, hoje em dia. Embora muitas busquem exaustivamente provocar a sua reincidência, isso nunca aconteceu. No máximo, vêem-se algumas manifestações provenientes de construção humana. Entretanto, para os verdadeiros crentes, isso não faz falta, pois o Evangelho que pregamos não carece mais de sinais. Ele já foi plenamente assinado pelos sinais manifestos através do ministério dos santos apóstolos. Quem, hoje, pede sinais, certamente não crê nos sinais que já foram dados.

Jesus curou um coxo como sinal de que tinha poder de perdoar. Os discípulos operaram sinais como testemunho de que sua pregação era verdadeira. Se você duvida de que Jesus tenha poder de perdoar pecados e de que a pregação dos apóstolos é verdadeira, talvez pior coisa lhe seja receber qualquer novo sinal, pois possivelmente receberá, junto com o novo sinal, um novo e nocivo “evangelho” construído pelo idealismo humano.

Não é por acaso que Jesus falou que muitos, no dia do julgamento, chegarão diante de Deus apresentando como suas obras a realização de vários desses sinais, então Deus lhes dirá para que se afastem, pois são desconhecidos dEle. Esse possivelmente será o retrato da igreja que busca sinais em lugar das maravilhas as quais chamamos de salvação, perdão e vida eterna.

Para concluir, quero dizer que creio que Jesus cura e que ocasionalmente o Espírito Santo levanta a quem quiser para usá-lo da forma como quiser. Mas não encontro nas Escrituras qualquer respaldo para essa bagunça chamada neo-pentecostalismo. Insinuar que isso tenha alguma coisa a ver com aquele grande marco do cristianismo relatado em Atos cap. 2 é no mínimo um desrespeito para com a obra do Espírito Santo, um reducionismo de pentecostes.

Portanto, busquemos com zelo os melhores dons: Amor, liberdade e comunicação. Assunto para outra mensagem. Até Mais!

terça-feira, 7 de junho de 2011

UMA NOITE DE MALTRAPILHO

Voltando de Recife, meu vôo atrasou, então perdi o último ônibus que havia, naquela noite, para que eu viajasse de Florianópolis para Tubarão, onde moro. Eu tinha certeza que Deus providenciaria um meio de não passar a noite naquela rodoviária, mas Deus providenciou-me, sim, uma experiência inesquecivel: uma noite de maltrapilho, junto aos andarilhos. O primeiro ônibus só partiria às 08:15 da manhã seguinte. O que se passou em minha alma, expressei lá mesmo, escrevendo o que se segue:

Nem sempre a gente tem quem faça pela gente aquilo a gente faria por outro. E a gente acaba isolado, abandonado, exilado numa mesa de bar, num banco de rodoviária, num copo de cerveja, nas mãos do acaso, sem eira nem beira.

Onde estão os amigos? Onde está a fé? Onde está a esperança? Onde estão os sonhos? Onde estão as pipas? Onde estão as crianças? Ao menos aquela que existia dentro de mim?

De repente tudo mudou, o sol não brilhou, a luz não raiou, meu amor não me esperou, a janela fechou, a mandinga falhou, mais nada sobrou, a esperança cansou, a fé desacreditou, a pipa rasgou.
E eu que pensava ser alguém e imaginava entre nobres, surpreendi-me entre maltrapilhos, compartilhando o mesmo teto, os mesmos acentos e o mesmo sono mal dormido.

Já não sei se choro ou se rio, se agradeço ou amaldiçôo. É um sentimento flex, uma emoção mix que me invade formando em minha mente um pensamento híbrido.

Mas os híbridos não geram híbridos. Portanto essa é uma experiência única. Talvez devesse experiencia-la mais vezes. Talvez todos devessem experimentá-la: um dia de andarilho, um dia de maltrapilho, um dia de miséria e caos, um dia encarcerado, algemado, dolorido, esmagado, humilhado.

Depois disso jamais olharei do mesmo jeito, preconceituoso e soberbo, para o pobre e sofredor. Também já não verei minha vida da mesma forma. Uma noite de frio, sem teto, sem cama, sem lar, sem carinho, sem os filhos e sem o colo da mulher que se ama, inexoravelmente realça o valor de um dia quente, uma manhã de primavera, do abraço dos filhos, do amor da mulher amada.

Hoje estou aqui, logo estarei em casa. Mas, estes pobres, tudo o que têm são estes bancos, o frio, a companhia dos pombos e esta impressionante habilidade de dormir de qualquer jeito! O que planejam? O que sonham? Com o que se preocupam? Seja lá o que for, planejarão, sonharão e se preocuparão quando o sol nascer. Viverão um dia de cada vez, pois bem sabem que “basta a cada dia o seu próprio mal”. Acho que é por isso que nesse exato momento eu escrevo e eles dormem... E como dormem!

Dormem como eu não durmo mesmo em meio a todo conforto! Talvez o que me conforta mesmo é pensar e escrever. E assim expurgo meus demônios, exorcizo meus traumas, anestesio minha alma e tomo coragem para enfrentar o amanhã.

E por falar em amanhã...

Ah! Deixe para amanhã.

Obs.: Olho para o termômetro interno da rodoviária e ele marca 22ºC. é a mesma temperatura que regulei o ar condicionado na noite anterior. E penso: no fim somos todos iguais.

Julio Zamparetti
Rodoviária de Florianópolis, 03 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

ORAÇÃO E SILÊNCIO

O que dizer a Deus na oração? Alguns dizem não saber o que dizer e por isso não oram. Mas oração, mais do que falar com Deus, é também ouvi-lo, e isso requer intimidade. A intimidade nos proporciona a liberdade de falar, ao amigo íntimo, todas as angústias, ansiedades, pecados, fraquezas, decepções, desamores e desafetos. A verdade é que sempre temos algo novo para compartilhar com nosso amigo íntimo. Mas essa mesma intimidade provoca abertura para que possamos ouvir, do amigo, palavras doces ou duras, de incentivo ou de repreensão, porque um amigo verdadeiro e verdadeiramente íntimo não fala ao amigo apenas o que esse deseja ouvir, mas também lhe falará o que precisa ouvir.

Todavia, a oração ainda é mais do que falar e ouvir, é também silêncio, total e absoluto. E quando, nessa hora, pensamos estar mergulhados na solidão, Deus se revela a nós da maneira mais ampla que possamos suportar. O silêncio é capaz de nos fazer transcender a intimidade fraternal, para nos lançar numa espécie de intimidade conjugal com o criador do universo. Nesse instante, as palavras tornam-se dispensáveis, afinal, elas seriam incapazes de expressar essa experiência...
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“No silêncio Tu estás”



Julio Zamparetti
Recife, 31 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PASTOR É PRESO POR DIZER QUE HOMOSEXUALISMO É PECADO

Publicado em: quinta-feira, 12/05/2011 14:29h | Em No Mundo, Notícias

Britânico Dale McAlpine foi detido na rua por policial que ouviu declarações anti-gay
O jornal britânico The Daily Telegraph noticiou que um pastor foi preso depois de ter dito durante sermão na rua que homossexualismo é um pecado.

Dale McAlpine foi acusado de causar “alarme, intimidação e angústia” depois que um policial comunitário ouviu o pastor batista mencionar vários “pecados” citados na Bíblia, como blasfêmia, embriaguez e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

O pastor de 42 anos prega nas ruas de Wokington, na região de Cumbria, no noroeste da Inglaterra há anos, e disse que não mencionou homossexualismo quando fazia o sermão do alto de uma pequena escada, mas admitiu ter dito a uma pessoa que passava que acreditava que a prática era contrária aos ensinamentos de Deus.

O policial Sam Adams identificou-se ao jornal Daily Mail como um agente de ligação entre a polícia e a comunidade gay e transexual e avisou o pregador, que distribuía folhetos e conversava com as pessoas nas ruas, que ele estava violando a lei. Mas ele continuou pregando e foi levado para a prisão, onde permaneceu por sete horas.

Para um outro jornal britânico o pastor disse que o incidente foi “humilhante”.”Eu me sinto profundamente chocado e humilhado por ter sido preso em minha própria cidade e tratado como um criminoso comum na frente de pessoas que eu conheço,” disse ele ao Daily Telegraph.

Semanas atrás um juiz britânico decidiu que não há proteção especial na lei para crenças cristãs durante um julgamento de uma ação movida contra um organização que demitiu um terapeuta de casais por se recusar a atender casais gays alegando que isso seria contra seus princípios cristãos.

Fonte: http://igrejadeperus.blogspot.com/

sexta-feira, 13 de maio de 2011

FERIMOS A NÓS MESMOS

Aquele menino ganhou uma espingarda de pressão de seu padrinho aos onze anos de idade. O pai agradeceu, mas notava-se em seu rosto uma certa preocupação. O menino saiu pelo pomar para experimentar com alegria seu presente. A primeira vitima foi um pardal, porém quando o pássaro caiu, o menino sentiu uma certa crise de consciência, e foi procurar o pai. Encontrou-o tirando as moscas e insetos presos em uma teia de aranha, e colocando-os numa caixa de fósforo vazia. Para que isso pai?...foi sua pergunta. Recebeu como resposta: “venha comigo e eu te mostro”.

Quando chegou ao jardim, mostrou-lhe entre as folhagens do jardim um ninho, onde se achavam quatro filhotes recem nascidos. E tirando os insetos e moscas nos biquinhos abertos dos pequenos passarinhos. Então o menino compreendeu o motivo, e entristecido se juntou ao pai na missão de alimentar os filhotinhos. A noite o pai os agasalhou com um pano de algodão, porém na manhã seguinte entrou no quarto do menino com o primeiro passarinho morto, e na noite do mesmo dia, antes do jantar morreu o segundo. Assim foi o terceiro, e o quarto seguiu o mesmo caminho depois de tentar sair do ninho sozinho sem o apoio da mãe.

Então o menino desabou em prantos dizendo: "pai, a culpa é minha! Fui eu que matei a mãe deles!”. O pai respondeu: "eu sei meu filho, eu vi você fazer aquilo. Mas não fique preso ao remorso, quase todos os meninos de sua idade fazem o mesmo. A minha atitude teve a intenção de mostrar a você que ferindo alguém, ferimos ao mesmo tempo outras pessoas, inclusive as que amamos, ou as que nos amam. Porém com o tempo descobrimos que o maior ferimento foi em nós mesmos!”

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A CRUZ BASTARIA

Por Julio Zamparetti

A mensagem da cruz protagonizada na história de Jesus Cristo é, sem sombra de dúvidas, a mais poderosa mensagem que a humanidade recebeu em toda a sua história. Ela por si, seria, se compreendida e internalizada pelo ser humano, suficiente para transformar a humanidade.

A cruz contém e transmite a maior expressão possível de amor, abnegação e vida de amor ao próximo. Ela é o símbolo daqueles para quem a vida é maior que o próprio ser; para quem os limiares de sua existência terrena não limitam a essência de sua vida; para quem descobriu que viver somente para si não faz jus ao propósito de existir. De acordo com o princípio didático da cruz, a vida só faz sentido quando nossas causas são maiores que nossa estatura, quando não se vive por amor ao próprio umbigo, quando sabemos ser o menor dentre os menores, lavando-lhes os pés, dando-lhes a própria vida, comunicando-lhes a própria alma.

O que faz a vida ter sentido é a causa por qual se vive. E que maior causa há do que servir os pequeninos? Não foi essa a causa defendida pelo Grande Mestre? Ele se fez pequenino para ensinar o caminho da grandeza.

Nisso os céticos prestam um grande serviço à fé. Pois quando tentam desdivinizar o Mestre, provam sua humanidade. Ora, o princípio da cruz nos ensina que Ele não seria tão divino se não se fizesse tão humano; não seria Senhor se não assumisse a condição de servo; não seria o primeiro, o Alfa, se primeiro não se fizesse o último, o Ômega. A verdade é que Deus não seria tão grande, não houvesse antes feito a si mesmo tão pequeno; não seria soberano se não fizesse da cruz o seu trono. E quanto a nós não somos seus filhos se não agimos de forma semelhante ao Pai.

Enquanto alguns eliminam a cruz das paredes e do peito, outros a limitam a um mero objeto decorativo. Mas o pior nisso tudo é que a cruz tem sido eliminada da fé e da convivência social.

A cruz é eliminada da fé quando o propósito pelo qual é buscada visa o eu: fé para enriquecer, fé para prosperar, fé para casar, fé para ganhar o céu de preferência aqui e agora. Em suma, toda fé empreendida pelos crentes hodiernos não tem outro alvo senão benefícios a si próprios. E eu pergunto: Onde está a cruz deste “evangelho”?

A cruz também tem sido extinguida na esfera da convivência social. Não é a toa que temos tanta gente egoísta, sem menor sensibilidade em relação ao sofrimento alheio, e não são poucos os que chegam a se aproveitar das desgraças alheias para faturar mais, explorando até a última gota de quem já não tem sangue para dar.

A cruz remete-nos ao amor, pois sem amor a própria cruz não tem sentido de ser. Foi por amor que Ele morreu, e só o amor nos leva a doarmos nossa vida, nosso tempo e dinheiro por aquilo que não seja o eu. É por isso que a cruz é o lugar constante de quem ama. Pois, como ensinou o Santo Apóstolo Paulo, como Cristo deu sua vida por nós, devemos nós dar a vida pelo próximo.

A mensagem histórica da cruz bastar-nos-ia para mudar o mundo, para sarar nossos relacionamentos, para sabermos viver, para aprendermos a amar. Isso tudo se fôssemos capazes de aprendermos o que dela sabemos e vivermos o que dela aprendemos.

Viver o que da cruz se aprende é um milagre. Mas o milagre não está na aljava da cruz, mas sim da fé que se fundamenta na ressurreição. Graças à ressurreição nossa fé não é vã, nossa caminhada não é solitária, nossa força é complementada. É nessa fé que somos acercados da certeza de que Ele vive, não estamos sós, tomar a cruz e segui-lo agora é possível.

Na cruz Ele nos dá uma razão para viver e amar. Na ressurreição nos proporciona a segurança para dar a vida em amor ao próximo. Assim a ressurreição nos remete, irremediavelmente, à cruz, todavia, já não mais sob o prisma histórico, mas sim miraculoso, mostrando-nos e assegurando-nos que a vida é mais do que possamos viver e muito mais do que possamos imaginar.

Tudo isso tenho dito com aquEle, por aquEle e naquEle que é a Vida.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O DESCORTINAR DA FACE DE CRISTO – DOS RAMOS À CRUZ

Por Julio Zamparetti

Certamente soava doce aos seus ouvidos a aclamação de toda aquela gente que dizia “bendito o que vem em nome de Senhor” e com ramos e palmas bradava “hosana ao Rei”. Eis o Cristo que todos esperavam: adentrando triunfantemente à cidade de Davi para assumir seu posto por direito, para libertar seu povo da tirania daquele, Herodes, que, contam os historiadores, ao outro lado da cidade entrava soberbo com sua guarda imperial e seus cavalos imponentes. De um lado o imperador sobre seu cavalo rodeado por sua tropa. Do outro lado o Cristo sobre um burrico rodeado pela multidão.

O Cristo aclamado nessa ocasião era o curador, expulsador de demônios, o milagreiro, aquele que devolveria o reino a Israel. Todos esperavam uma revolução, achavam que Ele viraria a mesa, fizesse um golpe de estado. Os anúncios de que seu reino não viria de forma aparente, mas se daria no interior de quem cresse, foram ofuscados pela euforia do momento. De fato, ninguém poderia imaginar o que estava por se descortinar.

Qualquer semelhança com os nossos dias não é mera coincidência. Já dizia o sábio que “as pessoas nascem e morrem e o mundo é sempre o mesmo”. Ainda ouço as pessoas com ramos nas mãos aclamando Cristo por seu libertador, curador, consolador, milagreiro, prosperador. Mas poucos dentre essa gente têm consciência do que essa semana o reserva. É por isso que ainda hoje, tal qual foi há dois mil anos, as mesmas vozes que o conclamam por seu Rei no domingo, gritam crucifica-o nas santas sextas-feiras da vida.

Ainda o crucificamos quando negamos pão ao faminto, condenamos a prostituta, excluímos os homossexuais, discriminamos os indígenas, aprovamos o aborto de fetos diagnosticados com Síndrome de Down, negamos os direitos dos negros, desprezamos os órfãos e “moleques de rua”, impedimos que cheguem a Cristo aqueles a quem Cristo chama, excluímos da Santa Mesa aqueles por quem Cristo entregou sua carne e sangue.

O Cristo ressurreto não revela sua face apenas por ocasião do dia de ramos, mas também no serviço ao próximo, lavando os pés dos seus discípulos e, principalmente, tomando sobre si as dores e sofrimentos alheios. Quem quiser segui-lo deve saber que este caminho não se resume às aclamações e triunfos, mas se estabelece, principalmente, na abnegação e doação. Pois, como dizia o Santo apóstolo Paulo, assim como Cristo deu sua vida por nós, devemos nós dar a vida pelos outros.

Páscoa é festa da ressurreição de Cristo, pela qual nos apropriamos do espírito de renovação, de força para vivermos uma nova vida. Entretanto, entre a aclamação e a ressurreição não há ponte, há, sim, um caminho estreito, diga-se de passagem. Nesse caminho os passos são distintos e impreteríveis, a saber: o serviço ao próximo e a doação de si. Não vive plenamente quem vive para si. Pode apostar, o Mestre estava certo: “quem perde sua vida por amor de mim encontrá-la-á”.

Você pode encontrar o Cristo aclamado procurando-o nos templos, nas catedrais, capelas, grutas, romarias, programas de rádio e televisão. Mas o Cristo ressurreto só se encontra nos famintos, sedentos, andarilhos, mal-vestidos, presos, sofredores e excluídos. Quem se dispõe a servir e dar sua vida, tem parte na sua ressurreição, é nova criatura, encontrou a vida.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

REFLETINDO SOBRE A SEMANA SANTA

Revdo Edmar Pimentel

O Domingo de Ramos é o marco inicial da Semana da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e a cristandade passa a vivenciar os passos em direção ao ápice da Graça de Deus – a crucificação do Messias. Mas naquele domingo homens, mulheres e crianças com galhos de árvores nas mãos ovacionaram àquele que vem em Nome do Senhor! – o Filho de Davi. Parece-nos que precedendo o que estava por vir era necessário uma declaração de que tudo na terra se preparava para o momento extasiante da terrível sexta feira de trevas, o momento triunfal da redenção dos eleitos de Deus.

Surgiria assim um povo eleito antes da fundação do mundo que sob o manto de sangue – precioso sangue de Cristo – teria livre acesso como sacerdotes de si mesmos, ao trono de Deus. Uma nova condição proposta por Deus era agora colocada diante da humanidade caída pelo pecado de Adão e resgatada de todos os povos, tribos, línguas e nações formando assim a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, nascida sob o signo do Agnus Dei – Cordeiro de Deus - que tira os pecados do mundo. Signo de martírio, de dor, de reflexão e silêncio.

Nesta última semana, a maior proximidade dos doze apóstolos, os últimos conselhos e exortações; a última refeição – instituindo a Eucaristia (do grego εχαριστία, cujo significado é "ação de graças") e nela o próprio Senhor diz: “Tomai e comei, isto é o MEU CORPO que é dado por vós”. Para Ele, bem mais do que transubstanciação, consubstanciação ou qualquer outra substanciação que queiram indagar nossos teólogos de plantão, havia um sentimento de entregas e partilha para com aqueles mais achegados. Profundo sentimento estava presente na mente e coração do Senhor. Bem mais do que pão, ele estava se dando. E continuou: “Bebei todos deste, este é o cálice da Nova Aliança no MEU SANGUE.” Momento sublime de introspecção e reverencia. O sangue. Lembro-me daquele velho hino quando diz:

Sangue que Jesus verteu, é divino e eficaz Este sangue ao coração, força, amor e vida trás!

Nova aliança. Perdão. Reconciliação – que sangue poderoso! Não foi por acaso que o anjo da morte respeitou as casas cujos umbrais estavam aspergidos com sangue de cordeiro – perfeita figura – que nos enche de temor para com aquelas preciosas palavras do Senhor: “Meu Corpo e Meu sangue”. É do Senhor todo sacrifício. Ele o fez. Ele o aceitou. Somos apenas “alvo” de sua preciosa graça; eu não sou coadjuvante, apenas servo – e inútil diante de tão grandiosa redenção.

Refletir sobre a Semana Santa é levar o pão e vinho para o Calvário e depois renovar a esperança no tumulo vazio. Temos consciência do tamanho significado presente na instituição da Eucaristia, no porque que houve trevas do meio dia às três da tarde e do tumulo vazio?

Silencio. Ouçamos a voz do povo que agitando ramos bradam enquanto um homem simples vem montado sobre o filhote de uma jumenta...

terça-feira, 12 de abril de 2011

ENXERGAMOS O OUTRO CONFORME SOMOS

Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou á beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho perguntou-lhe:

-Que tipo de pessoa de pessoa vive nesse lugar?



-Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou por sua vez o ancião.



-Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - Estou satisfeito de ter saído de lá.



A isso o velho replicou:



-A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.



No mesmo dia, um outro jovem de acercou do oásis para beber água e, vendo o ancião, também perguntou-lhe:



-Que tipo de pessoa vive neste lugar?



-Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem?-perguntou por sua vez o ancião.



O rapaz respondeu:



-Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter que deixá-las.



-O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.



Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou o velho:



-Como é possível dar respostas tão diferentes á mesma pergunta?


Ao que o velho respondeu:


- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui. Somos todos viajantes no tempo e o futuro de cada um de nós está escrito no passado. Ou seja, cada um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si mesmo. O ambiente, o presente e o futuro somos nós que criamos e isso só depende de nós mesmos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

NÃO SERIA COMPLETO, SE NÃO FOSSE IMPERFEITO

Por Julo Zamparetti

Quando Jesus fez lodo com saliva e terra e pôs sobre os olhos daquele cego de nascença, não sujou o homem, apenas o fez lembrar quem de fato era. E de fato, aquele homem, assim como nós, era barro, pó que ao pó retornaria. Ninguém pode sujar a terra com terra, do mesmo modo que não se pode molhar a água. Jesus fez uso de uma pedagogia semelhante a das cinzas, já usada pelos judeus e perpetuada na tradição cristã. Essa pedagogia nos ensina a reconhecermos quem somos e nos defendermos dos males causados por nossa própria presunção e vaidade. Em outras palavras, só podemos ter nossos olhos espirituais abertos quando reconhecemos a necessidade que temos da lavagem de nossas almas nas águas do Espírito.

É nesse estágio que podemos perceber que a perfeição tão requerida pelo senso de espiritualidade se dá não só em reconhecer, mas também saber lidar com nossas imperfeições. O termo ‘perfeito’ significa completo (per-feito = por-concluído). Logo, devemos concluir que ninguém poderá ser completo se não souber viver suas imperfeições, suas angústias, suas dores. A vida é vazia quando não interage com a morte, a riqueza perde o sentido quando não se envolve com a miséria, a alegria perde o gozo quando não há espaço para a melancolia. Quem entende isso descobre o sentido das palavras do Mestre: “felizes os que choram”, “bem-aventurados os pobres pelo espírito”.

Insisto em afirmar que a perfeição não está na ausência do erro, pois onde há ausência, já não há completude. Logo, a perfeição se dá em simplesmente viver a vida em todas as suas dimensões. Não é perfeito quem não cai, nem é completo quem não se levanta após a queda. Nem mesmo Deus seria perfeito se não houvesse provado a dor da humanidade, sua queda e maldição.

“Não deixe o sol morrer, errar é aprender, viver é deixar viver”. Acho, sinceramente, que essa música de Frejat não seria tão espiritual e verdadeira se não fosse secular. Digo isso porque a mensagem da religião, em nossos dias, nem de longe tem essa completude. Pelo contrário, o que se ouve dela é uma mensagem enganosa de triunfalismo gospel, cheia de jargões e padrões de moralidade aparente que reflete bem a intenção daqueles que buscam na religião um disfarce “santo” para a vida pútrida em que tudo é permitido, conquanto nada venha a público. E este fato denuncia a falácia do fundamentalismo religioso, pois nem Cristo, nem os profetas, nem os apóstolos acobertaram qualquer hipocrisia, antes levavam seus seguidores e a si mesmos a reconhecerem suas debilidades. Enquanto a luz de Cristo revela toda imundície de nossas almas, a religião dá aos seus seguidores a falsa sensação de que tudo está purificado; enquanto Cristo aplicava lodo aos olhos, para que até o cego pudesse ver o quanto era pecador, a religiosidade passa óleo perfumado fazendo os pecadores não verem suas misérias e ainda pensarem ser príncipes. De tão cegos, se entregam ao desejo de serem juizes, acusadores e inquisidores de seus semelhantes. Dessa forma o fiel religioso repete o erro tão enfaticamente denunciado por Cristo, de ser religiosamente sepulcro caiado.

Amar alguém, requer amar por inteiro. Advirto que quem quiser me amar não poderá amar-me apenas nos aspectos em que sou luz, porque não sou apenas luz. Queres saber quanto tenho de trevas? Não poderei dizê-lo, pois nem mesmo eu posso saber! Afinal, trevas é área cega. Logo, o amor é um tremendo risco. Talvez por isso seja perfeito!

É que o amor encobre uma multidão de nossas imperfeições! Encobre... não remove! É que se ele as removesse ficaríamos incompletos, e já não poderíamos mais ser perfeitos.

Como se diz numa máxima das artes plásticas: “a perfeição está nas imperfeições”. Amemo-nos, pois, uns aos outros. Amor incondicional, completo, perfeito!

quinta-feira, 31 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (V) O Gadareno

Por Julio Zamparetti

“Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo (Lucas 8:27-31).


Para compreendermos o que ocorreu neste episódio, faz-se necessário entendermos o contexto científico da época. Naqueles dias, cria-se que a terra era como um círculo e não como uma esfera. Acreditava-se que se navegássemos muito além da costa chegaríamos ao fim do “círculo” terrestre e cairíamos num eterno nada. Daí o uso da palavra abismo que vem do grego ábyssos e significa literalmente “sem fundo”. Portanto, cair no abismo significava cair numa eterna inexistência, ser expulso da terra, ser extinto do mundo dos vivos. Assim, entendemos porque em Marcos 5:10 diz que os demônios rogavam-lhe que os deixassem ficar naquela província. Estar na província era estar entre os vivos. Para o gadareno, permanecer com seus demônios na província, significaria viver a ameaça constante de ser tomado novamente pelos mesmos demônios, ou mesmo poder voltar a eles tão logo, assim, quisesse. Lançá-los ao abismo significaria extingui-los para sempre de sua vida.


O que se passava no interior do gadareno não era um estado de inconsciência, mas sim um conflito de consciência, um trauma da luta entre quem ele queria ser versus quem ele conseguia ser. Queria ser livre, sociável, comum, mas como suas iniciativas anteriores, tanto quanto a ajuda de seus parentes e amigos, foram frustradas, pensava que melhor lhe seria manter seus demônios na província e se conformar, apenas, com o que conseguisse ser. Ninguém vive por prazer a vida que este homem vivia. Sua vida era fruto de quem desejava respeito, integridade, liberdade, trabalho, dignidade, mas não havendo encontrado forças, nem condições de ser assim, mergulhou no mundo exatamente oposto àquele que desejou e não alcançou.


A verdade é que muitas vezes queremos nos ver livres das conseqüências do velho modo de vida, mas também queremos que este velho modo de vida continue na província, por perto, para quando o desejarmos de volta, ainda que por um tempo muito breve. Assim, muitas vezes nos prolongamos em situações que nos fazem regressar às coisas que Cristo já havia nos libertado. Nesses casos, pedimos a Jesus nossa libertação de todos os demônios, mas não queremos que nenhum deles seja extinto, pois estamos tão acostumados a eles, que já nos parecem familiares.


Outro fator que inibe a completa libertação são os juízos precatórios dos pregadores do terror, que anunciam aos quatro ventos que os demônios estão na província e poderão devorar você, ou porque você tem um pecado não confessado da infância, ou porque você tem algum pecado oculto que nem mesmo você sabe qual. Desse modo, as pobres e indefesas ovelhas caem numa completa neurose, vendo demônios em cada sombra, aterrorizadas pela possibilidade de que cada ato seu pode ser uma “base legal” para o inimigo.


Leia também os capítulos anteriores:

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/o-mudo-endemoninhado-terca-polemica-iv.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-3-demonios-feitos-pela.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-2.html

http://juliozamparetti.blogspot.com/2011/03/terca-polemica-parte-1.html

segunda-feira, 28 de março de 2011

QUEM GOSTA DE ROTINA

Por Julio Zamparetti

Quando aquela mulher samaritana pediu que Jesus lhe desse água viva a fim de que não precisasse mais ir até aquele poço, uma coisa ficou bem evidente: ela estava cansada daquela rotina.

Todos nós somos como aquela mulher, e facilmente nos cansamos das repetidas tarefas diárias, dos hábitos costumeiros e até da vida.

Então, quando Jesus lhe pediu para que trouxesse seu marido, ela lhe disse então que não tinha marido. Ao que Jesus falou: “bem disseste... porque o marido que agora tens, não é teu”. Depois de cinco casamentos, “ter marido” parece ter se tornado uma rotina na vida daquela mulher. Talvez o pior aspecto da rotina seja que aquilo que temos deixa de ser nosso. Fica sempre a sensação de que nosso trabalho já não é nosso, mas nós somos dele; nossos bens já não nos pertencem, ao contrário, parece que pertencemos a eles, deixamos de controlar as coisas para por elas sermos controlados.

Diante dessa circunstância a saída mais obvia que nos vem à mente é a mudança: mudar de carro, mudar de casa, mudar de emprego, mudar de mulher ou de marido, mudar de cidade ou mesmo de país. Infelizmente, a verdade é que esse escapismo, nada mais é que mudar de problema.

Não precisamos mudar de problemas, precisamos, sim, resolvê-los. E a solução não se trata de deixar a rotina, mas mudar a perspectiva que temos dela.

Costumeiramente reclamamos por ter que “lavar roupa todo dia”, fazer o mesmo itinerário, cumprir o mesmo horário, atender os mesmos clientes, usar os mesmos argumentos, encontrar as mesmas pessoas, resolver os mesmos problemas. A partir disso sonhamos em mudar de vida, quem sabe se ganhasse na mega sena... quem sabe se... se... se...

Talvez tenhamos sido ingratos pela graça da rotina. Pois são as rotinas que nos fazem valer os cabelos brancos. Já dizia São Paulo que as provações produzem perseverança, e esta, por sua vez, produz experiência que nos leva a ter esperança. Ou seja, a mesma rotina que faz os problemas se repetirem, também nos permite aprender a resolvê-los.

Se não fosse a rotina, não poderíamos aprender absolutamente nada da vida. Cada dia seria uma incógnita. A experiência de ontem em nada nos ajudaria hoje, e a de hoje não valeria nada amanhã. A rotina da qual nos queixamos é a mesma que nos permite nos precavermos dos percalços constantes.

Não foi a toa que o salmista pedia a Deus que lhe servisse um banquete diante de seus inimigos. A melhor forma de se livrar dos problemas é enfrentando-os, não fugindo, mas enfrentando-os sob uma nova perspectiva, a perspectiva cristã.

Nessa perspectiva cristã, barreiras não são empecilhos, mas desafios; a queda não é uma derrocada, mas uma nova oportunidade de se levantar; para o cristão, nem mesmo a morte é o fim.

A solução não é mudar a rotina. E antes que a própria mudança de rotina se torne rotineira, importa que nos renovemos no espírito e vejamos a rotina sob um prisma de renovação.

Graças à rotina você poderá fazer melhor hoje, o que não fez tão bem ontem; poderá agir corretamente a respeito do que errou ontem; poderá retratar-se amanhã das gafes que vier a cometer hoje; poderá ser mais amável com quem faltou carinho. Na perspectiva cristã, a rotina não é repetição, é recomeço, é nova vida!

“Vai e não peques mais”.

quarta-feira, 23 de março de 2011

PASTOR QUEIMA O ALCORÃO

Terry Jones causou reações diversas no ano passado quando foi noticiado de que ele queimaria o livro sagrado dos mulçumanos. Diante das reações Jones desistiu do ato, mas nos últimos dias voltou atrás e ateou fogo em um exemplar do Alcorão.

Na noite de domingo, o polêmico pastor líder de uma igreja de Gainesville, Flórida, programou uma espécie de julgamento dentro de sua igreja, sendo que o réu era o livro sagrado para os mulçumanos. A congregação declarou o Alcorão culpado de várias acusações, entre elas assassinato. Em seguida a pena foi executada: o exemplar foi queimado.

Os jornais internacionais relataram que o livro foi molhado com querosene e colocado em um recipiente de metal no centro do templo da igreja “Dove World Outreach Center”. O exemplar queimou por 10 minutos.


“Tentamos dar ao mundo muçulmano uma oportunidade de defesa de seu livro”, disse o pastor Terry Jones.

Os planos de Jones era queimar os exemplares do Alcorão em sua igreja no aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. Após as fortes reações no mundo muçulmano e das críticas de líderes internacionais, incluindo o presidente americano Barack Obama, Jones desistiu da ideia e afirmou que nunca mais voltaria a tentar queimar um Alcorão.

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Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2011/03/pastor-queima-o-alcorao-este-e-cabra.html

terça-feira, 22 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (IV) - O MUDO ENDEMONINHADO

Por Julio Zamparetti

“Ao retirarem-se eles, foi-lhe trazido um mudo endemoninhado. E, expelido o demônio, falou o mudo; e as multidões se admiravam, dizendo: Jamais se viu tal coisa em Israel!” (Mateus 9:32-33)

Neste texto encontramos o relato do episódio de um mudo que ficou curado logo que Jesus expeliu o demônio. Observe que não há relato de que este mudo fosse surdo, ele apenas não falava, mas certamente podia ouvir, caso contrário Mateus relataria a cura de um surdo-mudo ou tão somente um surdo. Ou seja, sua mudez não era conseqüência de surdez, mas possivelmente de algum trauma (doença da alma) que simplesmente o fizera calar-se, ou a ausência ou deformação das pregas vocais (doença física não diagnosticável naquela época), ou um aneurisma ou derrame cerebral (essas sim, nem se sonhava existirem). Qualquer que tenha sido a causa, uma vez que o mudo não era surdo, Mateus não poderia, naquela época, compreende-la, então a atribuiu ao demônio.

Na verdade, não há registro de que forma Jesus tenha expelido o demônio, mas o que quer que Jesus tenha dito ou feito, curado a alma ou o físico, quem o viu, naqueles dias, não saberia distinguir nem o mal, nem a cura, pois enquanto a medicina da época era extremamente limitada, para Jesus não havia limitações, nem restrições para desfazer um trauma ou implantar pregas vocais, perdoar pecados ou curar um paralítico. Jesus não esperaria até que os homens descobrissem, em termos científicos, o que causara aquele mal para só então curá-lo. Jesus curava a quem quisesse, de qualquer mal, e quando o descrevia, o fazia conforme o entendimento do povo.

O poder de Jesus é superior a qualquer enfermidade ou mal que possa acometer o ser humano, seja qual for sua causa. Entretanto, algumas vezes nos é muito difícil crer, simplesmente, no cuidado divino sobre nós, e assim queremos fazer o trabalho que é de Deus, como se a virtude de curar fosse de propriedade nossa. Então nos assentamos na cadeira do médico dos médicos e cuidamos de proferir os mais absurdos diagnósticos, e entre tantos devaneios decide-se pôr a culpa nos demônios e no moribundo que supostamente “deu brecha pro diabo”, ou ainda culpar seus pais, que pecaram e com isso atraíram maldição sobre seu filho. Nesse aspecto a doutrina da cura tem servido apenas para deixar as pessoas ainda mais doentes.

É perfeitamente compreensivo que, há dois mil anos atrás, a causa de epilepsias e doenças psicossomáticas fosse atribuída aos demônios, pela falta do conhecimento científico. Mas é inadmissível, nos dias de hoje, lançar tal fardo psicológico sobre um enfermo, sabendo que a doença física não é propriedade de demônios. Se assim fosse, deveríamos concluir que os idosos são mais volúveis a ação dos demônios que os jovens, e que na medida em que os jovens envelhecem também se tornam cada vez mais suscetíveis aos ataques demoníacos, já que a tendência é que com o passar dos anos venham também o enfado e suscetíveis enfermidades. Ora, dizer que tais desventuras são provenientes de domínio demoníaco seria, no mínimo, um desrespeito aos anciãos, a quem Bíblia trata com toda a devida honra, e a quem nós também devemos honrar.

É por causa das pregações em que se aloca enfermidades a demônios, que muitas pessoas entram num verdadeiro poço de desgosto ao serem acometidas por qualquer mal, principalmente quando a resposta de Deus às suas petições de cura é “a minha graça te basta”. Até mesmo os pregadores dessa “teologia” entram em “parafuso” quando se encontram enfermos. Tenho conhecido a muitos que expulsam demônios de si mesmos, quase enlouquecem tentando descobrir a brecha que deram para que satanás os tomasse com doença, e por fim, acabam se consultando com um médico em outra cidade para que seus liderados não saibam que esteve doente. Ora, ora! Se conhecessem a Palavra que Cristo pregou, já estariam limpos dessa mentira.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O PECADO, A LEI, A GUERRA E A SEXUALIDADE

Por Julio Zamparetti

O pecado sempre tem razão de ser pecado. Nenhum pecado é pecado simplesmente por ser pecado, assim como nenhum mandamento, ou lei, é instituído simplesmente para ver quem o obedece. O pecado é pecado porque lesa o corpo, o espírito, o meio ambiente, a criação, as pessoas e os relacionamentos. Em contraponto, a Lei é instituída tendo em vista a preservação de tudo que possa ser lesado pelo pecado. Logo, o dimensionamento do pecado, bem como a importância da lei, não está no ato, ou lei, em si, mas nos efeitos que eles produzirão. Matar e roubar seriam pecados iguais, se não fosse a diferença atribuída aos seus efeitos. Da mesma forma, a importância da Lei está na prevenção ou remediação da lesão provocada pelo pecado. Uma Lei que não tenha esses propósitos, não tem razão de existir.

A partir dessa premissa entendemos que o pecado é redimensionado, podendo assumir a dimensão de insignificância ou abominação, conforme o efeito gerado em determinado tempo ou cultura. Em certos casos, esse redimensionamento pode transformar aquilo que se tinha por pecado em benesse, ou vice-versa. Se em tempos modernos, o ato de um homem casado possuir a viúva de seu irmão, que morreu sem filhos, apenas para fazer-lhe um filho é pecado, em tempos bíblicos isso era virtude e lei, uma “obrigação de cunhado” (Dt 25.5), conhecida como lei do levirato.

É por essa razão que não se pode fazer doutrina tomando por base a letra das Escrituras sem investigar seu espírito. E para isso deve-se entender o contexto histórico e social no qual estavam imersos aqueles que a escreveram.

É importante que se entenda que assim como o levirato, todas as leis de Moisés relativas à sexualidade traziam em si uma relação intrínseca com o conceito de guerra de sua época. A todo homem distinto cabia-lhe dar à nação, ao menos, um filho que fosse homem de guerra. Por essa razão era, para eles, vergonhoso um homem casado morrer sem gerar filhos. Eis o motivo pelo qual se deu a lei do levirato que determinava que o filho nascido desta relação não fosse contado como prole de seu genitor, mas sim de seu tio falecido, para que esse tivesse descendência e seu nome fosse honrado.

É, no mínimo, estranho pensar que Deus instituiu o levirato em função da guerra que hoje abominamos. Mais estranho ainda é pensar que a mesma lei condenava à morte aqueles que incidiam em adultério, fazendo com que, em nome da justiça, se cometesse um ato pior que o próprio adultério. Impossível negar que a forma tão diferente que hoje temos de pensar sobre o assunto seja uma santa transformação de valores. No entanto, aquele era um povo guerreiro e dependente da geração de filhos do sexo masculino para servirem no campo de batalha, pois a guerra, naquelas circunstâncias, lhes era fundamental no processo de preservação e avanço da fé cultivada pela nacão. Sob esse ponto de vista não é de se estranhar tamanho rigor sobre as questões de sexualidade.

Diante dessa perspectiva se justificam todas as leis relacionadas à sexualidade encontradas no Antigo Testamento. Não se poderia, então, tolerar qualquer desperdício do esforço sexual em relação que não promovesse a procriação. Era-lhes proibido o coito interrompido e relações homo-afetivas pela mesma razão que era estimulado a poligamia.

Cabe-nos analisar que se as relações sexuais, que não tencionassem a procriação, representavam grande prejuízo nos tempos bíblicos, o mesmo não ocorre em nossos dias.

Sob o ponto de vista bíblico, sem que façamos essa releitura dos fatos, tanto a relação sexual homoafetiva, como o uso de métodos contraceptivos deveriam ser recriminados. Pois considerando a razão pelo qual as Escrituras condenam a homossexualidade, os métodos contraceptivos são igualmente condenáveis.

Se por ventura recriminarmos os relacionamentos homoafetivos sob o argumento de que uma relação sexual entre pessoas do mesmo sexo é antinatural, não podemos esquecer que o uso de anticoncepcionais também é antinatural e antibíblico, tendo em vista que o efeito natural de um ato sexual, bem como a ordem bíblica, é a multiplicação da espécie.

Neste ponto, alguns, tentando se defender sem abrir mão de uma vida sexual sem concepção, argumentarão que o sexo não tem apenas a reprodução por objetivo, mas também o prazer e felicidade pessoal (princípio do hedonismo, razão que tem levado muitos cristãos a busca de fetiches e até da poligamia consensual “clandestina”). Neste caso, o argumento derrubará toda razão de resistência ao uso de métodos contraceptivos, mas sob o mesmo argumento também se desbancará os motivos das sentenças homofóbicas.

O fato é que uma relação homossexual que não agrupe prostituição, pornografia, pedofilia ou adultério (e neste ponto muitas relações heterossexuais são mais pecaminozas), não configurará pecado maior que uma relação heterossexual munida de seus fetiches e métodos contraceptivos. Pecaminizar uma relação e santificar a outra, sendo que as duas ferem o mesmo princípio bíblico e são igualmente proibidas pela Bíblia, deveria nos causar o mínimo de estranheza.

Será que a misericórdia que confiamos sobre o nosso hedonismo não está ao alcance dos homossexuais?

Você acha isso complicado? Não se preocupe! Nosso preconceito nos livrará do peso na consciência.

domingo, 20 de março de 2011

A VERDADEIRA MANIFESTAÇÃO DOS DONS DO ESPÍRITO

“Eis os sinais que acompanharão aqueles que terão acreditado: em meu nome, eles expulsarão os demônios, eles falarão em línguas novas, eles pegarão em serpentes, e se tiverem bebido algum veneno mortal, ele não lhes fará nenhum mal. Eles imporão suas mãos aos doentes e estes serão curados” (São Marcos, XVI,16).

Será que, meus caros irmãos, pelo fato de que vós não fazeis nenhum destes milagres, é sinal de que vós não tendes nenhuma fé? Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las. Eis porque São Paulo dizia:”O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22).

Sobre esses sinais e esses poderes, temos nós que fazer observações mais precisa:

A Santa Igreja, faz todo dia, espiritualmente, o que ela realizava então nos corpos, por meio dos Apóstolos. Porque, quando os seus padres, pela graça do exorcismo, impõem as mãos sobre os que crêem, e proibem aos espíritos malignos de habitar sua alma, faz outra coisa que expulsar os demônios?

Todos esses fiéis que abandonam o linguajar mundano de sua vida passada, cantam os santos mistérios, proclamam com todas as suas forças os louvores e o poder de seu Criador, fazem eles outra coisa que falar em línguas novas?

Aqueles que, por sua exortação ao bem, extraem do coração dos outros a maldade, agarram serpentes.
Os que ouvem maus conselhos sem, de modo algum, se deixar arrastar por eles a agir mal, bebem uma bebida mortal, sem que ela lhes faça mal algum.

Aqueles que todas a vezes que vêem seu próximo enfraquecer, para fazer o bem, e o ajudam com tudo o que podem, fortificam, pelo exemplo de suas ações, aqueles cuja vida vacila, que fazem eles senão impor suas mãos aos doentes, a fim de que recobrem a saúde?

Estes milagres são tanto maiores pelo fato de serem espirituais, são tanto maiores porque repõem de pé, não os corpos, mas as almas.

Também vós, irmãos caríssimos, realizais, com a ajuda de Deus, tais milagres, vós os realizais, se quiserdes.

Pelos milagres exteriores não se pode obter a vida. Esses milagres corporais, por vezes, manifestam a santidade. Eles não criam a santidade.

Os milagres espirituais agem na alma. Eles não manifestam uma vida virtuosa. Eles fazem vida virtuosa.

Também os maus podem realizar aqueles milagres materiais. Mas os milagres espirituais só os bons podem fazê-los.

É por isso que a Verdade diz, de certas pessoas:
“Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que nós profetizamos, que nós expulsamos os demônios e que realizamos muitos prodígios? E Eu lhes direi:”Eu não vos conheço. Afastai-vos de Mim, vós que fazeis o mal” (São mateus VII, 22-23).

Não desejeis, ó irmãos caríssimos, fazer os milagres que podem ser comuns também aos réprobos, mas desejai esses milagres da caridade e do amor fraterno dos quais acabamos de falar: eles são tanto mais seguros pelo fato de que são escondidos, e porque acharão, junto a Deus, uma recompensa tanto mais bela quanto eles dão menor glória diante dos homens”

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(São Gregório Magno, Papa, Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209).

sábado, 19 de março de 2011

UM DEUS PERFEITO PODE CRIAR UM SER IMPERFEITO?

Por Julio Zamparetti

Quando dizemos que o homem não foi criado perfeito, mas sim para ser perfeito, comumente se indaga: “mas como pode um ser perfeito, Deus, ter criado o homem imperfeito?”.

Muito simples! Uma criatura não carrega o DNA de seu criador. Para compreendermos isso, faz-se necessário entendermos o sentido aprofundado das palavras criar e crear. Criar retrata a transição de uma existência para outra existência. O termo é bem apropriado para o ser humano enquanto criatura de Deus. Pois Deus não o criou do nada, Ele o criou a partir do pó da terra. Isto é, a terra transitou de sua forma existente para uma outra forma de existência. Crear, por sua vez, retrata a transição da essência para a existência. Um termo bem apropriado para a creação do universo, que do nada se fez tudo o que existe. No entanto, ainda longe de retratar o que de Deus é gerado, pois, segundo o próprio Cristo, o Pai é Espírito. Logo, o que dEle é gerado é espiritual. Pois “o que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6).

O que é nascido não transita de forma, muito pelo contra-rio, reproduz a exata semelhança, carrega os mesmos traços genéticos. Na geração não há transição, há sim transmissão.

Gosto de pensar nisso usando o exemplo de Santos Dumont e o 14 Bis. Ao criar o 14 Bis, Dumont não o fez transmitindo-lhe seu DNA. O que ele fez foi tomar matérias já existentes e tranformá-las em uma outra forma de existência. O 14 Bis não carregava as características genéticas de Santos Dumont, simplesmente porque Dumont não o fizera a partir do que ele era, mas sim do que ele tinha em mãos. Outros criadores poderiam fazer o mesmo e chegar ao mesmo resultado. Entretanto, quando tratamos de genealogia, genitores diferentes jamais chegarão ao mesmo produto, pois gerar é transmitir a existência a partir do que se é. Assim, um ser tão santo, Deus, não pode gerar algo imperfeito, mas com certeza o pode criar ou crear. Ao que Ele próprio afirmou: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Isaías 45:7).


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Extraído do livro ESPIRITUALIDADE DINÂMICA

sexta-feira, 18 de março de 2011

QUARESMA – TEMPO DE ENCONTRAR TEMPO

Por Edmar Pimentel

O período mais enriquecedor e cheio de simbologia no ano litúrgico tem gradativamente perdido seu intento mais profundo na vida da comunidade cristã. Tem empobrecido. Quem não se lembra dos tempos de outrora em que nossos pais diziam que não se faz isso, não se come aquilo, reza-se um pouco mais, priva-se de fazer algo mais extravagante e tantos outros itens que devem estar borbulhando na mente de todos nós. Em alguns lugares do país eram cautelosos até com a cor das roupas sem falar no jejum e nas orações que eram multiplicados nesse período.

É... A Quaresma já não é vista como antes. O que mudou? A nossa vida agitada, a “instantaneidade” das coisas, a pressa da navegação on-line e tantas outras questiúnculas na velocidade da luz que tem nos privado de ver a beleza e a espiritualidade próprias desse tempo.

Vivenciar calma e pausadamente cada passo desse momento é fundamental para reflexão e experiência pessoal. A Igreja é desafiada a refazer os passos messiânicos e sobre eles refletir buscando aplicar à sua vida o resultado desse aprendizado. Nesse período ela deve meditar no passo a passo da ultima semana de Jesus antes da gloriosa ressurreição: a entrada triunfal, o brado do povo, os ramos, o jumentinho, o lava pés, a ultima ceia, o ultimo discurso, a oração sacerdotal, as trinta moedas, o canto do galo, a angustia na cruz, as sete palavras finais e o ultimo suspiro, as trevas, o sábado tenebroso e as boas novas na madrugada do domingo. Quantas lições de vida, quanta oportunidade de crescimento.

Refletir nisso tudo, não é desejar novamente que se repita o que foi feito a Jesus, antes é descobrir novas lições práticas para cada um e todos nós. É voltar três anos antes nas margens do rio Jordão e entender as palavras de João Batista: Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É descobrir-se pecador envolvido em amor. É aprender com o silêncio. É reconhecer as limitações, encontrar-se com a Graça inefável. É sentir-se solidário e descobrir-se cristão.

Antes de sair às compras do chocolate para as crianças e da carne branca para o almoço, entre no seu quarto, feche a porta e reze ao Pai em secreto, que em secreto Ele responderá.

Para isso precisarás de tempo. Tempo para ti, para os teus e tempo para Deus. Quarenta dias, quarenta minutos, quarenta segundos... Quaresma!

quinta-feira, 17 de março de 2011

ENQUANTO O FIM NÃO VEM

Por Julio Zamparetti

Mais uma catástrofe e mais gente se imbui de anunciar o fim do mundo. Não sei quantos fins ainda serão anunciados, mas sei que os mercados faturam alto com essa especulação. O mercado cinematográfico fatura milhões de dólares ocupando, provavelmente, o segundo lugar no ranking mundial. Sim, possivelmente, o segundo lugar, porque estou convencido de que quem fatura mais alto é o mercado religioso.


Até mesmo seguimentos equilibrados do meio religioso, ultimamente, têm se rendido ao frisson do apelo sensacionalista que arrasta milhares de pessoas ao redil da religiosidade pela promessa de segurança em meio ao caos. Neste ínterim, a fim de que a religião seja sempre mais útil, faz-se necessário que a tragédia seja tanto maior. É nesse ponto que muitos religiosos caem na falácia de presumirem que quanto pior, melhor.


Não quero, aqui, fazer pouco caso dos problemas ambientais e das catástrofes que têm aterrorizado nosso planeta. Por outro lado, não posso me valer disso para constranger alguém a apegar-se à religião. O que posso dizer é que catástrofes naturais são naturais, por mais catastróficas que sejam. Sempre foi assim e continuará sendo assim, enquanto a Terra estiver viva. Deveríamos, sim, nos preocuparmos se a terra estivesse parando seus movimentos geológicos. Isso seria terrível, pois presumiria a morte do planeta.


O que não é natural é que tanta gente aproveite do sofrimento alheio para se enriquecer. Nesta semana, em meio à tragédia dos terremotos e a tsunami no Japão, já ouvi pregadores de renome internacional anunciando em tom profético que “isso é só o começo”; que “catástrofes muito maiores sobrevirão ao nosso planeta”. E eu pergunto: onde fica o Espírito de consolação, restauração e esperança que permeia a mensagem de Jesus Cristo e seus apóstolos?


Não venham me dizer que Jesus anunciou o fim do mundo. Somente neófitos caem nessa. O mundo do qual Jesus anunciou o fim, em Mateus 24 e Lucas 22, no texto original é aions que significa tempo, era, período, daí muitas versões o traduzirem por século em vez de mundo. Jesus estava anunciando o fim de um tempo em que os rudimentos que regiam a religiosidade e os valores humanos dariam lugar aos novos rudimentos de sua graça. Conforme o próprio Messias, isso ocorreria ainda naquela geração (Mt.24:34), e de fato aconteceu. Esses novos rudimentos são baseados no amor, na simplicidade, na reconciliação, na misericórdia e no compromisso de ser solidário para com todos que sofrem.


Não sei explicar o sofrimento humano, nem a causa de tanto terror, não quero justificar Deus, nem creio que Deus precise ser justificado. Só sei que a história nos ensina que somos capazes de superar nossas limitações e aprender em meio às dificuldades; somos aptos a recomeçar, reconstruir e sairmos das provações ainda mais fortalecidos. Portanto, prefiro ser grato a Deus que nos concede repensar nossa própria vida, nossa história, nossa espiritualidade, refletirmos sobre nosso ativismo e apego material, e exercitar a solidariedade e o espírito de consolação mútuo.


Enquanto o fim não vem, que fique longe o fim. Que haja lugar para a esperança. Que seja cada vez mais presente o amor fraternal, o espírito solidário e a força para recomeçar. Assim somos humanos, como Cristo foi; fazendo um mundo melhor, como Ele fez.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A SALVAÇÃO É INDIVIDUAL OU COLETIVA?

Por Julio Zamparetti

Sempre ouvi dizer que a salvação é algo individual. Mas, honestamente, nunca li um só versículo bíblico que afirmasse tal conceito. Ao contrário, o que encontro são vários versículos que atestam a salvação de um povo, ou de uma nação, uma raça, tribo, toda terra, ou mundo todo.

Por outro lado podemos perceber que a perdição pode ser individual. Eram cem ovelhas quando uma delas, individualmente, se perdeu. Da mesma forma a perdição do filho pródigo se deu de forma individual. É claro que também encontramos exemplos de perdição coletiva, de tal forma que Deus certa vez afirmou que seu povo (termo coletivo) perecia por falta de conhecimento. Assim, encontramos exemplos de perdição coletiva e individual. No entanto, ao que se refere à salvação só a encontramos coletivamente, nunca individualmente.

A verdade é que não precisamos de ninguém para nos perder; e na maioria das vezes nos perdemos exatamente por não ter ninguém ao lado. Não foi a toa que Deus disse: “Não é bom que o homem viva só”; não por acaso Jesus enviou seus discípulos de dois em dois.

Somos seres sociais e seja qual for nosso temperamento, se quisermos crescer como pessoas, precisamos aprender a viver em comunhão, compreendendo a necessidade que temos uns dos outros.

Não há como ser cristão individual. Não se vive cristianismo isolado. Isso porque o cristianismo não se resume em ter comunhão apenas com Deus, mas ter comunhão com Deus e com o próximo. É essa a mensagem expressa na cruz: uma haste vertical, prefigurando a comunhão com Deus e outra haste horizontal, prefigurando a comunhão com os irmãos. Afinal, se não amas teu irmão a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?

É salvo quem faz parte de um povo salvo, quem está ligado ao corpo de Cristo. Pois se alguém não está ligado a ele é como um ramo seco que para nada mais serve senão ser jogado ao fogo. Assim já dizia Santo Agostinho: “não há salvação fora da Igreja de Cristo”.

Não quero dizer com isso que a salvação esteja atrelada a alguma instituição religiosa, seja ela qual for. Afinal, muitas instituições religiosas estão longe de parecer-se Igreja de Cristo, muito embora se denominem como tal. Refiro-me à Igreja àqueles que comungam da fé em Cristo e se dispõem a viver em comunidade a serviço do próximo. Estou certo de que embora existam aqueles que vivem em comunidade sem de fato amar, é impossível que alguém que de fato ame não viva em comunidade.

A salvação não é individual porque a vontade de Deus é salvar a todos. A salvação não é individual porque não é um fim em si mesmo, a finalidade de sermos salvos é levarmos a salvação a outros que ainda estão perdidos. A salvação não é individual porque ninguém consegue salvar-se a si próprio, antes necessita da graça de Cristo que é manifestada por meio de seu corpo na terra, a Igreja. A salvação não é individual porque um dos passos do processo de salvação é o chamado, e este se dá pela voz do Espírito e a noiva (Igreja) que juntamente dizem: “vem” (Apocalipse 22:17).

Por fim, ser salvo não significa qualquer mérito pessoal. Significa sim, graça de Cristo, que move céus, terra e corações a fim de nos alcançar.

Portanto, oremos: Obrigado Senhor, por todos aqueles que o Senhor tem colocado em nosso caminho. Pois são anjos sem os quais não saberíamos encontrar-Te!

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Extraído do livro O CRISTIANISMO QUE OS CRISTÃOS REJEITAM de Julio Zamparetti

terça-feira, 15 de março de 2011

CONTRA QUEM LUTAMOS (III) demônios feitos pela alma humana

Por Julio Zamparetti


Toda vez em que o Novo Testamento traz o termo “demônio”, o texto refere-se a doenças internas, nunca externas. Ou seja, refere-se às doenças psicológicas ou psicossomáticas, nunca às doenças físicas. Em resumo, aquilo que não se sabia o que era e de onde viera, qualificava-se como demônio. Por outro lado, quando Jesus curava um paralítico, Ele não estava mexendo na alma e sim no físico, esses casos não eram relatados como se houvesse expulsado demônio. Em tais casos Ele restaurava os nervos, ossos, tecidos, veias e artérias, enfim era um milagre físico, mesmo. Não há qualquer relação bíblica entre doenças físicas e demônios, isso porque os escritores dos evangelhos atribuíram aos demônios somente aquelas doenças que não entendiam, nem sabiam a causa.


No início dos anos oitenta meu pai começou a sofrer de ataques epiléticos. Naquela época (apesar de, relativamente, tão recente) os médicos nos disseram que não sabiam ao certo o que causava tais ataques, então, nós crentes, logo havíamos proferido o “diagnóstico”: Meu pai estava endemoninhado. O que nós não sabíamos, muito menos sabiam os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João há quase dois mil anos atrás, ao relatarem sobre a cura do lunático (Mateus 17:18), é que aquilo que chamávamos de demônio, a medicina descobriu que é, a grosso termo, um curto circuito nos neurônios. Pobre de meu pai e tantas outras pessoas que, por conta de um problema neurológico, foram discriminadas como “possuídas por espíritos do inferno” e ainda tiveram que suportar os amigos de Jó fazerem os mais absurdos “diagnósticos” das causas de tal “possessão maligna”. E assim como a epilepsia, muitos outros males vão sendo desendemonizados à medida que se descobre a enfermidade e sua causa.


Flávio Joséfo, um historiador judeu que viveu no primeiro século, relata que o rei Salomão expulsava o demônio de uma pessoa pondo em seu nariz certa raiz que ao ser cheirada o demônio saía lançando a pessoa ao chão que levantava-se completamente calma e curada de tal mal1. Ele relata, inclusive, que tal pratica era usada ainda em seus dias, exatamente como fazia Salomão. O nome desta raiz eu não sei, mas o tipo de efeito que ela causava, sabemos bem. E se hoje cheirar raiz para se exorcizar é um programa de índio, muita gente das tribos urbanas busca o mesmo efeito cheirando, injetando, inalando, fumando, tomando calmantes, etc. Situação semelhante é relatada na Bíblia quando Saul, atormentado por um espírito maligno enviado de Deus, encontrava alívio no dedilhar da harpa de Davi. De fato poucas coisas da vida são tão exorcizantes quanto uma boa música suave.


Nesta obra identificaremos três grandes castas de demônios, até aqui, identificamos duas delas: uma feita por mãos humanas (ídolos), outra feita pela alma humana, da qual configuram-se os traumas, o ódio, o desejo de vingança, de morte, de prostituição e tantos outros males que por vezes alimentamos e fermentamos em nosso coração. Acredito que a esta última se referia, Jesus, ao dizer que esta casta demônios não sai senão com jejum e oração. Afinal, jejuar é dizer não à carne, abster-se da própria concupscência, aprendendo a dizer não aos desejos enganosos do coração, pois é do coração que procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mt.15:19). Abstendo-nos do mal e entregando-nos a Cristo por meio de uma vida de oração nossos demônios são vencidos em nossa própria carne.


O mais interessante é que a maioria dos crentes busca atribuir aos demônios aquilo que o próprio Jesus atribuiu ao coração (alma) do homem. Com isso, quando alguém insiste em pôr a culpa de seus maus desígnios aos demônios, deveria primeiro, assumir ser ele mesmo o próprio demônio. Com certeza, esta é a pior casta de demônios que existe, porque assumir a culpa nunca foi o forte da humanidade. Do jardim do Édem até hoje, continuamos lançando nossa culpa sobre a serpente. Aliás, é necessário entendermos que assumir a nossa culpa, em caso de desejarmos a morte, é bem melhor que pôr a culpa no “exu caveira”, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos adultério, é bem melhor que pôr a culpa na “pomba-gira”, enfim, assumir a nossa culpa, em caso de cometermos furtos, mentiras, bebedeiras, etc., é bem melhor que pôr a culpa nos “demônios”. Afinal, o que Cristo carregou na cruz foi a nossa culpa2. Se quisermos ter nossos pecados perdoados é necessário, em primeiro lugar, assumi-los.


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1. Flávio Joséfo , História dos Hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 1990. Pg. 200.

2. Isaías 53:4-6 – Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”.