sábado, 31 de outubro de 2009

CRER SEM VER

Por Julio Zamparetti

“Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”
(João 20:29).


Fé e ciência

Alguém me disse que a doutrina que segue é a única doutrina que se constitui de uma ciência. Honestamente, eu acho isso hilário! Como as pessoas podem ser tão indoutas? Será tão difícil entender que fé é fé e ciência é ciência?

A fé é mística, enquanto a ciência é física. Logo, o raciocínio é muito simples: quando a fé é constituída da certeza, daquilo que se vê, ou da exatidão de um conhecimento científico, tal fé não é fé, pois a fé é o fundamento da esperança a respeito daquilo que não se vê, não se mensura, não se sabe, apenas se crê. Uma vez visto, mensurado e constatado, o que era tido por místico foi desmistificado.

Há pouco tempo cria-se que a epilepsia era uma manifestação de possessão demoníaca. Cria-se assim porque não se sabia do que se tratava. Hoje, o diagnóstico desta patologia não constitui mais uma crença, mas uma certeza. O que antes se cria, agora se sabe; o que antes era demônio, agora é problema neural.

Assim, a fé por si só pressupõe uma incógnita. E é por isso que Deus nos é sempre surpreendente!

Só pode ser mistificado aquilo que não é místico, pois o que é realmente místico não necessita de qualquer mistificação. Por sua vez, só pode ser desmistificado aquilo que, sem ser místico, tenha sido previa-mente mistificado. Todavia o que de fato é místico é indesmistificável. A ciência pode apenas desmistificar o que foi mistificado, mas não pode comprovar nem contrariar o que é essencialmente místico. Portanto, a desmistificação da crença resulta tão somente na descrença, sem, contudo, alterar a verdadeira essência.

Deus não se tange, a fé não se explica, o amor não se mensura. Todavia, infeliz daquele que não vive a percepção do intangível, inexplicável e imensurável.

Dirá alguém: Faltam provas, pelo que não creio que Deus existe. Direi-lhe prontamente: Faltam provas, por isso creio, pois se houvessem provas desnecessário seria crer. É nessa convicção que vivo bem-aventurado, porque isso é tudo que Ele espera de mim: Que eu creia sem ver, isto é, sem me certificar, sem constatar, sem comprovar.

Infeliz daquele que tenta cientificar a fé, ou mistificar a ciência, pois esse engana-se a si mesmo. Cientificar a fé é como produzir água em pó. Não por acaso ensinava, o Apóstolo São Paulo, que as coisas espirituais se conferem com as espirituais. Portanto, prefiro colocar cada coisa dentro de sua correta perspectiva, e uso da ciência para entender ciência e fé para entender fé.

"porque andamos por fé e não por vista" (2 Coríntios 5:7).

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Você daria a vida por um amigo?

Pítias, condenado à morte pelo tirano Dionísio, passava na prisão os seus últimos dias. Dizia não temer a morte, mas, como explicar que seus olhos se enchessem de lágrimas ao ver o caminho que se abria diante das grades da prisão? Sim, era a dura lembrança dos velhos pais! Era ele o arrimo e o consolo deles. Não mais suportando, um dia Pítias disse ao tirano:

- Permita-me ir à casa abraçar meus pais e resolver meus negócios.
Estarei de volta em quatro dias, sem acrescentar nem uma hora a mais.

- Como posso acreditar na sua promessa? Os caminhos são desertos. O que você quer mesmo é fugir - respondeu Dionísio, irônica e zombateiramente.

- Senhor, é preciso que eu vá. Meus pais estão velhinhos e só contam comigo para se defenderem - insistiu Pítias com o olhar nublado de lágrimas.

Vendo que o tirano se mantinha irredutível, Damon, jovem e amigo de Pítias, interveio propondo:

- Conceda a licença que meu amigo pede; conheço seus pais e sei que carecem da ajuda do filho. Deixe-o partir e garanto sua volta dentro dos dias previstos, sem faltar uma hora, para lhe entregar a cabeça.

A resposta foi um não categórico. Compreendendo o sofrimento do amigo, Damon propôs ficar na prisão em lugar de Pítias e morreria no lugar dele se necessário fosse. O tirano, surpreendido, aceitou a proposta e depois de um prolongado abraço no amigo, Pítias partiu.

O dia marcado para sua execução amanheceu ensolarado. As horas passavam céleres e a guarda já se mostrava inquieta. Entretanto, Damon procurava restabelecer a calma, garantindo que o amigo chegaria em tempo.

Finalmente chegara a hora da execução. Os guardas tiraram os grilhões dos pés de Damon e o conduziram à praça, onde a multidão acompanhava em silêncio a cada um dos seus passos.

Subiu, então, ao cadafalso. Uma estranha agitação levou a multidão a prorromper em gritos. Era Pítias que chegava exausto e quase sem fôlego.

Porém, rompendo a multidão, galgou os degraus do cadafalso, onde, abraçando o amigo, entregou-se ao carrasco sem o menor pavor.

Os soluços da multidão comovida chegaram aos ouvidos do tirano.

Este, pondo-se de pé em sua tribuna, para melhor se convencer da cena que acabava de acontecer na praça, levantou as mãos e bradou com firmeza:

- Parem imediatamente com a execução! Esses dois jovens são dignos do amor dos homens de bem, porque sabem o quanto custa a palavra. Eles provaram saber o quanto vale a honra e o bom nome!

Descendo imediatamente daquela tribuna, dirigiu-se a Pítias e a Damon. Dionísio estava perplexo, e os abraçando comovidamente, lhes falou:

- Eu daria tudo para ter amigos como vocês!


"Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a própria vida pelos seus amigos" (Jo.15:13).

"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (I Jo.3:16).


Fonte: http://hermesfernandes.blogspot.com/

terça-feira, 20 de outubro de 2009

OS PERSEGUIDOS

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mateus 5:10-12).


INFELIZES OS PERSEGUIDOS

A princípio cabe-nos entender que as perseguições não nos fazem bem-aventurados, mas bem-aventurados somos quando as bem-aventuranças são a razão de sermos perseguidos. Portanto, não é qualquer perseguição que denota nossa bem-aventurança. Muitas perseguições denotam apenas nosso infeliz proceder. Não é feliz quem é perseguido por praticar injustiças. Não é bem-aventurado quem é perseguido por amar conchavos políticos. Não é alegre de espírito quem é perseguido por causa de má conduta, nem tem do que se gloriar quem é perseguido por não respeitar as diferenças.


FELIZES OS PERSEGUIDOS

Felizes quando somos perseguidos por não agir por conveniência.
Num mundo de tanto jogo de interesses, os princípios da honestidade e caráter têm sido subjugados e renegados a segundo, terceiro, último, ou mesmo fora de plano por aqueles que acham que o importante é se dar bem, julgando por certo o que lhe seja conveniente. Quem assim procede pode até pensar que é feliz, mas como pode ser feliz quem nem sequer é alguma coisa? Quem age por conveniência não tem caráter, não tem opinião própria, não é nada além de uma folha seca ao vento, não passa de um infeliz. Quanto aos que se expõem, se impõem e se põem contra as injustiças praticadas pelos poderosos, serão perseguidos, atribulados, atormentados, mas serão felizes, pois não passarão pela vida sem que nela tenham feito diferença deixando a sua contribuição e legado.

Felizes quando somos perseguidos por não trairmos a consciência.
Quem trai sua consciência, trai a Deus duas vezes, pois trai a consciência que por Deus lhe foi dada, e trai a Deus que lhe fez consciente. Deus não nos impõe idéias, nem nos obriga a nada. Ele nos atrai ao seu convívio, nos ensina seu caminho e, se houvermos aprendido, o seguiremos por convicção.

Felizes quando somos perseguidos por lutar por igualdade e justiça social
. Cristo humilhou a si mesmo, viveu entre os excluídos, identificou-se com eles, morreu como bandido, fez-se igual ao mais sofrido. Por que haveríamos de nos achar superiores? Somos todos iguais, diferidos tão somente pelas circunstâncias, que se fossem inversas seríamos nós no lugar daqueles a quem excluímos. Por mais sofrido que seja o nosso semelhante, ainda é semelhante a nós.

Felizes quando somos perseguidos por defender os mais fracos
. Defender o semelhante mais fraco é defender a nós mesmos que somos todos semelhantemente fracos. Ninguém vive numa ilha para pensar que o problema do fraco não é seu problema. Quando se vive em sociedade, a fraqueza de qualquer cidadão é uma fraqueza social, e uma fraqueza social é uma fraqueza de todo cidadão. Portanto, defender os mais fracos é fortalecer a sociedade e beneficiar a todo cidadão. Feliz quem entende isso e por isso trabalha. É bem-aventurado, ainda que sua bem-aventurança gere o descontentamento e desencadeie a perseguição daqueles que enriquecem às custas da exploração dos mais fracos.


INFELIZES OS NÃO PERSEGUIDOS

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência
ao explorar a fé dos indoutos condicionando a ação de Deus aos lenços, toalhinhas, fitinhas, castiçais, sais ungidos e ofertas de sacrifício.

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao explorar o empregado, não ajudar o pobre, não se compadecer do sofredor.

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao buscar lucros ilícitos, tirar vantagens sobre o sofrimento alheio e se promover na desgraça dos outros.

Infelizes somos nós quando nossa consciência se cauteriza
de forma a não sentirmos mais a dor da mazela humana, nem sofrermos com quem sofre.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

PACIFICAÇÃO X PASSIVISMO

Por Julio Zamparetti

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9)

A pacificação é uma marca inerente ao que recebe o novo nascimento. Aquele que nasce do Espírito recebe o selo de Deus, isto é, o Espírito de Cristo é impresso na alma do neoconverso de forma que este é absorvido pela vida e pensamentos de Cristo. Os pacificadores serão chamados filhos de Deus por que a pacificação é nada menos que o traço do caráter de Deus delineado em nossa vida. Assim como os filhos dos homens carregam traços genéticos herdados dos pais, também os filhos de Deus carregam características espirituais herdadas daquele que os gerou espiritualmente.

Pacificação não é passividade. Alguns, por se considerarem pessoas de paz, nunca se manifestam contra as injustiças, os abusos e a violência. É a turma do “não tenho nada com isso”. O problema é que ninguém é uma ilha e o problema de qualquer pessoa é problema de toda sociedade. Ser passivo diante disso é não ser pacificador. Pacificador significa construtor da paz. É, portanto, uma condição ativa, exige empenho, luta e disposição. Como disse Ápio Cláudio “se queres paz, prepare-se para guerra”.

Não é pacificador quem se omite dos problemas de violência nas nossas cidades. Não é pacificador quem fica passivo vendo mulheres e crianças sendo espancadas por brutalhões covardes. Não é pacificador quem não se pronuncia diante dos abusos cometidos pelas autoridades civis e religiosas. Não é pacificador quem não toma as dores do sofredor e não se levanta contra toda forma de opressão. Quem se omite diante disso, coopera com isso, é conivente com o mal. Não é filho de Deus quem não é pacificador.

A dificuldade que temos em diferenciar passividade e pacificação é a mesma dificuldade que temos em conciliar o fato de Deus ser relatado como ‘Deus de paz’ (Romanos 15:33) e também ‘Homem de Guerra’ (Êxodo 15:3).

Deus é pacificador, mas não passivo. Diante de tanta maldade humana não se pode esperar a paz de forma passiva. É necessário tomarmos atitudes firmes, sem violência, mas firmes. É preciso, após a devida constatação, contestar e denunciar a violência, a corrupção e as injustiças, pois quem é passivo, jamais será pacificador.

A passividade atua em função do egocentrismo. Ela é a exata expressão daqueles que apenas não querem se incomodar com ninguém, nem por ninguém, daqueles que não se importam com o sofrimento alheio, daqueles que não sabem o sentido da compaixão e da solidariedade, daqueles que não sabem o que é viver, daqueles que nada mais são do que espectro de homem, que passam pela vida sem dela extrair a essência da existência, sem nela deixar o perfume do legado cristão.

A pacificação atua em função do próximo e busca o bem comum, ainda que isso lhe custe a calma, o sono, o bem-estar, o conforto e até mesmo a serenidade, tal qual o próprio Cristo se portou no templo, diante daqueles que faziam do ambiente de oração uma oportunidade de explorarem a fé dos indoutos. Era aquele o primeiro relato de comércio da fé que viria a ser tão comum nos dias de hoje.

O mesmo Cristo que oferecia a face direita quando era ferido à esquerda, também sabia contestar, denunciar, se manifestar e repudiar os atos de injustiça social, hipocrisia religiosa e dominação política.

Os filhos de Deus são pacificadores, mas jamais passivos.

Assim, “se queres paz, prepare-se para guerra. Se não queres guerra, então descanse em paz

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

LIMPOS DE CORAÇÃO

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt.5:8).

Sempre que tratamos sobre a possibilidade de ver Deus a primeiro coisa que nos vêm a mente, pelo menos o que vem a minha mente, é a morte. Criamos a idéia de que somente veremos a Deus quando morrermos. Mas afinal, onde veremos Deus?

Tudo bem, em primeiro lugar reflitamos sobre o fato de que haveremos de ver Deus após a morte. E para isso necessitaremos ser purificados. A respeito deste assunto já dizia São Paulo: “Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção” (I Cor.15:50).

Paulo foi enfático: não há como vermos Deus nesta condição carnal em que vivemos hoje. Necessitamos ser transformados segundo a imagem de Cristo. Em outras palavras, precisamos ser cristificados. E por mais que sejamos cristificados nesta vida, sem dúvida, sairemos dela com várias áreas por cristificar. Tais áreas, segundo o apóstolo Paulo, não poderão herdar o Reino de Deus. Daí a necessidade de sermos julgados após a morte e sermos limpos de toda sujeira que não havemos nos desvencilhado durante nosso tempo terreno.

Para compreendermos este julgamento precisamos entender que tudo o que fazemos reflete o que somos. Portanto, ainda que o juízo seja segundo o que fazemos, referir-se-á a quem somos. O apóstolo Paulo diz que “qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará” (I Cor.3:13). Perceba que o fogo (juízo de Deus) não provará a obra de cada um, mas sim o próprio sujeito que a pratica. Ele disse: “o provará”, e não “a provará”. O artigo definido masculino (o) indica que o sujeito será provado, e não a obra. Isso mostra que as obras servirão apenas por medida do que somos, para que, pelo que somos, sejamos julgados. Isso porque as obras são o espelho fiel de quem somos.

O mesmo conceito de purificação é transmitido por Cristo usando o corpo biológico como analogia. Assim disse Jesus: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mateus 5:29).

Enquanto Paulo trata da purificação sob a ótica da análise das obras, Cristo a trata sob o ponto de vista de um corpo humano. Tanto as obras quanto o corpo que as pratica figuram nossa alma e refletem o que somos. Enquanto Paulo aponta para um processo de purificação pós morte, Cristo mostra a necessidade de se purificar em vida. Analisando os dois textos, entendemos que a purificação não é um trabalho que terá seu início após o fim de nossa carreira terrena. Na verdade seu início deve dar-se desde já e só será concretizado no outro lado da eternidade. Precisamos amputar de nossas vidas toda maldade que pudermos eliminar já. O objetivo desta purificação é vermos Deus já em vida.

Com isso voltamos à pergunta: Onde veremos Deus?

Já vimos que o veremos na eternidade. Mas precisamos também, e principalmente, vê-lo em vida, no próximo.

A impureza nos impossibilita de vermos Deus no próximo porque nos faz ver no outro a sujeira de nossos próprios olhos. Por isso“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tiago 1:15).

Para o sujeito cristificado é possível ver Deus no andarilho, no miserável, no pobre, no cego, no enfermo, no presidiário e todos os demais pecadores e excluídos com quem Cristo andou e se identificou. Para o impuro isso é impossível, por que sua mente está impura e seus olhos espirituais enxergam todo mundo e o mundo todo com a mesma sujeira com que ele próprio está sujo.

A todo homem e mulher que deseja ver a Deus, dá-se a necessidade de purificar suas mentes pela palavra de Cristo, para que lhe seja possível ter uma visão límpida e real do mundo, sem deixar de ver Cristo no próximo, nem se deixar iludir pelas aparências de quem tem Cristo só dos lábios para fora.

sábado, 3 de outubro de 2009

ESPIRITUALIDADE DINÂMICA

O caminho da espiritualidade não se dá na direção oposta ao mundo. Foi ao mundo que Cristo nos enviou. Quanto mais céticas se tornam as pessoas, mais carecem do dinamismo espiritual daqueles que interiorizaram a vida de Cristo. Já é hora de sairmos dos retiros, dos mosteiros, das soníferas ilhas, dos cantos recônditos e do isolamento. É hora de voltarmos à cidade e exercermos o dinamus do Espírito a fim implantarmos o Reino dos Céus sobre toda terra.

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juliozamparetti@hotmail.com