terça-feira, 6 de janeiro de 2009

MÚSICA E POESIA, DONS DIVINOS

Há muito tempo defendo o estudo de poesia e MPB nos seminários. Não me refiro aos livros poéticos bíblicos, pois conhecimento bíblico é o mínimo que se pode exigir de um seminarista. Refiro-me aos poemas de Cruz e Souza, Manuel Bandeira, Henriqueta Lisboa, Casimiro de Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mario Quintana, Junqueira Freire e tantos outros gigantes da literatura brasileira. Na música, defendo que se estude, Tom Jobim, Vinícios, Cartola, Noel Rosa, e os roqueiros dos anos oitenta, como Renato Russo, Cazuza, etc.

O fato é que encontramos nesses a expressão de vida comum, de circunstâncias, de decepções e desilusões nos fazendo compreender pela poesia e pela música aquilo que só compreenderíamos se vivêssemos na pele as mesmas circunstâncias. O problema é que se tivéssemos que viver todas essas circunstâncias para obtermos todo esse conhecimento, provavelmente sucumbiríamos.

Assim, é importante aprender e sentir, através da arte, o que sente a alma do ser vivente diante das mais diversas circunstâncias.

Muitas vezes quando estou aconselhando alguém, ao ouvi-lo contar suas angústias, posso identificar melhor o seu sentimento, mesmo que nunca o tenha sentido na pele. Pois dificilmente algum sentimento humano já não tenha sido retratado em versos e canções. E muitas vezes pelo retrato musical ou poético, previamente obtido, posso saber o que se passa, ainda melhor do que aquele que está passando pelo problema. Assim, conhecendo melhor o problema, posso ajudar a encontrar a saída com muito mais propriedade e segurança. É como se eu já tivesse vivido aquilo.

Honestamente, esse benefício só é possível por meio das poesias e músicas fora do meio evangélico. Salvo raras exceções, como João Alexandre e “similares”, a música, bem como a pregação evangélica generalizou uma solução comum pra tudo, sem sequer saber o problema. Quanto à poesia evangélica, me apresentem, por favor. Daí a razão da pobreza cultural, poética e musical do meio “gospel”.

Pra mim, só existem dois tipos de música: Música boa e música ruim. E está difícil encontrar música boa entre as produções evangélicas! A maioria é um amontoado de jargões que nem de longe expressam a realidade da alma, contendo erros doutrinários e fantasias que deturpam a fé.

Se Renato Russo, ou Tom Jobim e outros, erraram em algumas de suas considerações, ao menos foram sinceros, cantaram o que criam e não cometeram a heresia de creditarem o que cantavam a uma “revelação de Deus”, não diziam o que lhes vinha à mente argumentando que era Deus quem estava falando. E olha que o dom que neles havia, inegavelmente, era divino!

Salve a poesia e a boa música!

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