quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DIA DE PROMESSAS

Então mais um ano se vai. Essa noite (31 de dezembro) muitos farão promessas: parar de fumar, dedicar mais tempo aos filhos, dedicar-se mais ao relacionamento conjugal, consagrar-se mais, começar o regime, malhar, caminhar, praticar esportes, aderir a uma dieta saudável, enfim, repetir todas as mesmas promessas feitas há exato um ano e que, possivelmente, serão repetidas nos próximos anos.

O que mais me intriga é que a maioria das conquistas do ano que se encerra, são conquistas que nem se imaginava quando o ano se iniciava. Ao que parece, as promessas que fazemos produzem em nós um efeito muito maior do que o seu simples cumprimento. Até porque dificilmente as cumprimos todas. Mas prometê-las faz com que nos sintamos vivos, promove esperança e força suficiente para conquistarmos tantas outras coisas que sequer imaginávamos.

Não são as conquistas que nos movem, e sim os sonhos. Talvez algumas coisas jamais devam deixar de ser um sonho. É possível que certas realizações sejam danosas à nossa caminhada, pois é somente na busca do inatingível que nos movemos constantes por um caminho repleto de tantas outras conquistas surpreendentes.

Então, ‘ta tudo bem! No dia de hoje prometa, planeje, sonhe, alveje, imagine. Amanhã, tendo prometido, planejado, sonhado, alvejado, imaginado, busque realizar tudo o que for possível. O que não for possível, que seja parte das promessas do próximo fim de ano. Só não deixe sonhar, não desista dos seus sonhos. Deus é sempre surpreendente!

Que o Senhor fortaleça nossos braços, a fim de que muitas sejam as conquistas em 2010.

Um SURPREENDENTE 2010 para todos.

A Cristo digamos:
2010 revelando ao mundo quem Tu és.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A Árvore de Natal é Protestante

A arte é um dom de Deus, e a arte sacra é um dom de Deus e para Deus. Basta lembrar os cuidados do Senhor com a arquitetura, mobiliário e decoração do Templo, bem como as vestes sacerdotais. É lamentável a confusão entre arte sacra e idolatria feita pelos cristãos radicais iconoclastas. Isso empobrece a Liturgia, empobrece a Espiritualidade, e promove o preconceito, o sectarismo e ignorância.

Tem muito “líderes” radicais por aí “metendo o pau” em toda simbologia natalina e associando a árvore de Natal com a sua presença em cultos pagãos. É claro que árvores, como dados da natureza, são encontradas em toda a parte, e servem para todo o uso, inclusive estiveram nas culturas e cultos pré-cristãos. Mas, daí "queimar toda a árvore" é de doer...

A Árvore de Natal, tal como conhecemos hoje, e as crianças cantam: “Ó Pinheirinho de Natal”, teve origem no século XVI na residência do reformador Martinho Lutero. Foi ele quem, impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve e encimado pelas estrelas desse "céu que proclama", tomou um galho, decorou com papéis, e ornamentou a sua casa em uma noite de Natal. Essa decoração foi popularizada entre os luteranos e, depois em quase toda Cristandade.

Enquanto essa turma que prega uma “religião purgante de óleo de rícino” vai entristecendo e adoecendo as suas ovelhas, nós, os cristãos que amam a beleza e a arte (e buscamos a sanidade) vamos enfeitando nossos lares e templos com a Árvore de Natal. Afinal, nada tão protestante!

Olinda (PE), 26 de dezembro de 2009, Anno Domini.

+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A JUSTIÇA

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6).

A grande falácia da interpretação deste ensinamento de Cristo se dá na analogia dos sentidos. O sentido relativo ao que Jesus falou é o paladar, ao passo que as pessoas, de modo geral, tomam-no por visão. Em outras palavras, o ser humano tem ardente desejo de ver a justiça, mas não de degustá-la.

Como já dizia um velho ditado: “pimenta nos olhos dos outros é colírio”. È muito fácil percebermos o que está diante dos olhos e constatarmos as injustiças praticadas pelos políticos corruptos, empresários capetalista (sic), pelo vizinho mal-caráter, ou o comerciante sovina. Difícil é bebermos da mesma justiça que os olhos apreciam quando é imposta a outrem.

Os bem-aventurados não são os que anseiam ver justiça. Nossa sociedade mergulhou no caos, exatamente, porque cada indivíduo espera que os outros sejam justos, e que assim o sejam conforme o conceito de justiça que ele mesmo impôs. Numa sociedade onde o valor do altruísmo está quase extinto, o conceito de justiça, para o cidadão, não é nada mais do que o cumprimento do seu interesse particular, por mais injusto que este seja.

A justiça não é unilateral. Portanto, não saciará sua fome e sede quem tão somente desejar vê-la. Saciará, sim, quem dela comer e beber.

Quão diferente seria nossa sociedade se este ensinamento de Cristo fosse posto em prática! Infelizmente a sociedade quer ver líderes honestos, mas ela mesma trai a si própria, pois não se alimenta da justiça que deseja ver em seus governantes. Ela exige boa administração dos recursos públicos, mas não deixa de comprar produtos piratas; exige transparência dos políticos, mas se esconde atrás das fôrmas religiosas, ou das fantasias carnavalescas; critica as regalias do congresso; mas também não abre mão dos modismos, das aparências e do consumismo.

E assim, caro leitor, nós, que também compomos essa sociedade, vamos criando nossas crianças no mesmo espírito daqueles que os antecederam, desejando apenas ver a justiça que de geração em geração vai ficando cada vez mais distante. Em breve, essas mesmas crianças estarão governando sem nunca terem sentido, ao menos, o cheiro de justiça.

Bem-aventurados são aqueles que desejam, primeiramente, saborear a justiça, degustá-la, ser justificado. Não é impondo justiça aos outros que se alcançará a bem-aventurança. Se assim o fosse, as cadeias resolveriam o caos social. O que se precisa é viver a justiça de forma pessoal e exemplar. Mesmo que isso não mude o mundo (a priori), deixará sementes de mudança que certamente germinarão ao tempo certo.

Por hora, saibamos que não podemos controlar as ações das pessoas, mas podemos provocar reações diferentes. E provocar reações diferentes consiste em realizar ações diferentes. Ações injustas jamais provocarão reações justas. Quem se julga esperto e espera levar vantagens sobre tudo e todos, provoca reações similares e não se dá conta do mal que faz para si mesmo, pois ninguém é uma ilha para que sua injustiça não retorne, de alguma forma, para si.

Tens tu fome e sede de justiça? come e bebe dela. Tem-na em teu interior para que a possas ver além de ti. Mas não queiras vê-la sem antes prová-la. A bem-aventurança (felicidade plena) consiste da fé e a prática dos ensinamentos de Cristo, justiça de todo o que crê.

“Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei”
(Isaias 55:1).

domingo, 20 de dezembro de 2009

NÃO QUERO MAIS SER EVANGÉLICO

Não estou brincando! A indignação toma conta de meu ser, pois não dá mais. Evangélico no Brasil virou sinônimo de movimento financeiro religioso, algo meio sem ética – ou totalmente se preferir – em que se rouba e depois ora pedindo perdão a Deus. O “mensalão” de Brasília revela não apenas o que há de pior na política brasileira, mas algo cheira mal na fé evangélica também (ou plagiando o filme, “Fé de mais não cheira bem”). Como é possível alguém orar e dizer que o “financiador” é uma bênção para a cidade?

A verdade é que hoje a cristandade está com a síndrome de Geazi, servo do profeta Eliseu (2Reis 5:20-27). Correndo atrás dos tesouros de Naamã, a cristandade gananciosa (2Reis 5:20) mente e camufla situações para justificar seus pecados (2Reis 5:22); pior, esconde o pecado (2Reis 5:24), mostrando a hipocrisia em que vivem (2Reis 5:25). Desta vez foi a gota d’água, ver um pastor, que é deputado distrital – o que já é incoerente, pois ou é pastor ou deputado – e o presidente da Câmara, orando e pedindo a Deus pelo gestor das fraudes, chamando-o de “instrumento de bênção para nossas vidas e para a cidade”. Para a cidade de Brasília eu não sei, mas parece que o gestor financeiro do mensalão foi uma “bênção” para outros.

Não é apenas isso (ou tudo isso), mas a Igreja Evangélica no Brasil virou um monstrengo, uma colcha de retalhos, que mistura “alhos com bugalhos”, Bíblia com água e óleo ungido. Os pastores deixaram de ser homens de reconhecida piedade para serem executivos da fé; jogaram no lixo a orientação de Paulo para serem ministros de Cristo, que se ocupassem da leitura da Escritura, “à exortação e ao ensino” (1Timóteo 4:12,13), para serem ministros de si mesmo, onde a “escritura” agora é auto-ajuda, e a exortação e o ensino viraram barganha de promessas. Não me escandalizo mais, pois o que sinto é uma revolta contra aqueles que “seguiram pelo caminho de Caim, e por causa do lucro se lançaram no erro de Balaão…” (Judas 11).

Por isso não me chamem de “evangélico”, pois este termo implicava numa atitude baseada no Evangelho de Cristo. Mas hoje isso virou um termo jocoso e maldoso. Não quero mais compactuar com pastores que vendem e compram igrejas (isso mesmo!) como se fossem propriedades privadas, investimentos financeiros lucrosos. Não quero mais saber deste evangelicalismo sem ética, sem doutrina e que está mandando milhares para o inferno. Chega deste evangelho de faz-de-conta, em que Jesus é apresentado como um “amigão”, mas nunca como Senhor. Chega deste “evangelho” sem cruz, sem vergonha e mentiroso. Com certeza, Pedro está certo quando afirma pelo Espírito Santo: “… Tais homens têm prazer na luxúria à luz do dia… enganam os inconstantes e têm o coração exercitado na ganância. São malditos. Eles se desviaram, deixando o caminho reto e seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça” (2Pedro 2:13-15).

E agora? Onde estão os apóstolos que pedem dinheiro e se envolvem com as maracutaias religiosas? Onde estão aqueles que oram pelo dinheiro sujo e pedem em nome de Deus que os abençoe? Onde estão aqueles que vendem igrejas com membros e tudo mais? Que pedem “trízimo” (não estou brincando), ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo? Onde estão os profetas com suas “profetadas” e palavras “ungidas”? Onde está a Igreja que diz proclamar em alta voz que o Brasil é do Senhor Jesus? Ouçamos Isaías: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que transformam trevas em luz e luz em trevas, e ao amargo em doce, e o doce em amargo!… Por isso a ira do SENHOR acendeu-se contra o seu povo, e o SENHOR estendeu a mão contra ele e o feriu…” (Isaías 5:20,25a).

Aqui não é um julgamento. Que ninguém me venha com a falácia de “Não julgueis para não serdes julgados”, pois isso é um simplismo de que se aproveitam muitos daqueles que são desonestos e usam a Bíblia para justificar suas ações. Diante da injustiça não podemos nos calar, seja ela de um evangélico ou não. Não me chamem de evangélico, pois não quero este evangelho mercadológico. Quero apenas ser cristão, quero apenas seguir a Cristo e viver para Ele.

Autor: Gilson Souto Maior Junior, é pastor sênior da Igreja Batista do Estoril e professor de Antigo Testamento e Hebraico da Faculdade Teológica Batista de Bauru – Fateo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Breve diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e Dalai Lama

Leonard Boff explica: “ No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre povos, no qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga: “Santidade, qual é a melhor religião?” (Your holiness, what’s the best religion?) -Esperava que ele dissesse: “É o budismo tibetano” ou “São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo.” O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos – o que me desconcertou um pouco, porque eu sabia da malicia contida na pergunta – e afirmou: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito”. “É aquela que te faz melhor.” Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar; “O que me faz melhor?” Respondeu ele: - “Aquilo que te faz mais compassivo” (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético...A religião que conseguir isso de ti é a melhor religião... Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando a sua resposta sábia e irrefutável... Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo ou mesmo se tem ou não religião. O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo... Lembremos: “O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos”. A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física. Ela está também nas relações humanas. Se eu ajo com o bem, receberei o bem. Se ajo com o mal, receberei o mal. Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade: “terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros”. Para muitos, ser feliz não é questão de destino. É de escolha.


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Fonte desconhecida (se alguém souber, por favor, me informe. Grato)

sábado, 31 de outubro de 2009

CRER SEM VER

Por Julio Zamparetti

“Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”
(João 20:29).


Fé e ciência

Alguém me disse que a doutrina que segue é a única doutrina que se constitui de uma ciência. Honestamente, eu acho isso hilário! Como as pessoas podem ser tão indoutas? Será tão difícil entender que fé é fé e ciência é ciência?

A fé é mística, enquanto a ciência é física. Logo, o raciocínio é muito simples: quando a fé é constituída da certeza, daquilo que se vê, ou da exatidão de um conhecimento científico, tal fé não é fé, pois a fé é o fundamento da esperança a respeito daquilo que não se vê, não se mensura, não se sabe, apenas se crê. Uma vez visto, mensurado e constatado, o que era tido por místico foi desmistificado.

Há pouco tempo cria-se que a epilepsia era uma manifestação de possessão demoníaca. Cria-se assim porque não se sabia do que se tratava. Hoje, o diagnóstico desta patologia não constitui mais uma crença, mas uma certeza. O que antes se cria, agora se sabe; o que antes era demônio, agora é problema neural.

Assim, a fé por si só pressupõe uma incógnita. E é por isso que Deus nos é sempre surpreendente!

Só pode ser mistificado aquilo que não é místico, pois o que é realmente místico não necessita de qualquer mistificação. Por sua vez, só pode ser desmistificado aquilo que, sem ser místico, tenha sido previa-mente mistificado. Todavia o que de fato é místico é indesmistificável. A ciência pode apenas desmistificar o que foi mistificado, mas não pode comprovar nem contrariar o que é essencialmente místico. Portanto, a desmistificação da crença resulta tão somente na descrença, sem, contudo, alterar a verdadeira essência.

Deus não se tange, a fé não se explica, o amor não se mensura. Todavia, infeliz daquele que não vive a percepção do intangível, inexplicável e imensurável.

Dirá alguém: Faltam provas, pelo que não creio que Deus existe. Direi-lhe prontamente: Faltam provas, por isso creio, pois se houvessem provas desnecessário seria crer. É nessa convicção que vivo bem-aventurado, porque isso é tudo que Ele espera de mim: Que eu creia sem ver, isto é, sem me certificar, sem constatar, sem comprovar.

Infeliz daquele que tenta cientificar a fé, ou mistificar a ciência, pois esse engana-se a si mesmo. Cientificar a fé é como produzir água em pó. Não por acaso ensinava, o Apóstolo São Paulo, que as coisas espirituais se conferem com as espirituais. Portanto, prefiro colocar cada coisa dentro de sua correta perspectiva, e uso da ciência para entender ciência e fé para entender fé.

"porque andamos por fé e não por vista" (2 Coríntios 5:7).

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Você daria a vida por um amigo?

Pítias, condenado à morte pelo tirano Dionísio, passava na prisão os seus últimos dias. Dizia não temer a morte, mas, como explicar que seus olhos se enchessem de lágrimas ao ver o caminho que se abria diante das grades da prisão? Sim, era a dura lembrança dos velhos pais! Era ele o arrimo e o consolo deles. Não mais suportando, um dia Pítias disse ao tirano:

- Permita-me ir à casa abraçar meus pais e resolver meus negócios.
Estarei de volta em quatro dias, sem acrescentar nem uma hora a mais.

- Como posso acreditar na sua promessa? Os caminhos são desertos. O que você quer mesmo é fugir - respondeu Dionísio, irônica e zombateiramente.

- Senhor, é preciso que eu vá. Meus pais estão velhinhos e só contam comigo para se defenderem - insistiu Pítias com o olhar nublado de lágrimas.

Vendo que o tirano se mantinha irredutível, Damon, jovem e amigo de Pítias, interveio propondo:

- Conceda a licença que meu amigo pede; conheço seus pais e sei que carecem da ajuda do filho. Deixe-o partir e garanto sua volta dentro dos dias previstos, sem faltar uma hora, para lhe entregar a cabeça.

A resposta foi um não categórico. Compreendendo o sofrimento do amigo, Damon propôs ficar na prisão em lugar de Pítias e morreria no lugar dele se necessário fosse. O tirano, surpreendido, aceitou a proposta e depois de um prolongado abraço no amigo, Pítias partiu.

O dia marcado para sua execução amanheceu ensolarado. As horas passavam céleres e a guarda já se mostrava inquieta. Entretanto, Damon procurava restabelecer a calma, garantindo que o amigo chegaria em tempo.

Finalmente chegara a hora da execução. Os guardas tiraram os grilhões dos pés de Damon e o conduziram à praça, onde a multidão acompanhava em silêncio a cada um dos seus passos.

Subiu, então, ao cadafalso. Uma estranha agitação levou a multidão a prorromper em gritos. Era Pítias que chegava exausto e quase sem fôlego.

Porém, rompendo a multidão, galgou os degraus do cadafalso, onde, abraçando o amigo, entregou-se ao carrasco sem o menor pavor.

Os soluços da multidão comovida chegaram aos ouvidos do tirano.

Este, pondo-se de pé em sua tribuna, para melhor se convencer da cena que acabava de acontecer na praça, levantou as mãos e bradou com firmeza:

- Parem imediatamente com a execução! Esses dois jovens são dignos do amor dos homens de bem, porque sabem o quanto custa a palavra. Eles provaram saber o quanto vale a honra e o bom nome!

Descendo imediatamente daquela tribuna, dirigiu-se a Pítias e a Damon. Dionísio estava perplexo, e os abraçando comovidamente, lhes falou:

- Eu daria tudo para ter amigos como vocês!


"Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a própria vida pelos seus amigos" (Jo.15:13).

"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (I Jo.3:16).


Fonte: http://hermesfernandes.blogspot.com/

terça-feira, 20 de outubro de 2009

OS PERSEGUIDOS

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mateus 5:10-12).


INFELIZES OS PERSEGUIDOS

A princípio cabe-nos entender que as perseguições não nos fazem bem-aventurados, mas bem-aventurados somos quando as bem-aventuranças são a razão de sermos perseguidos. Portanto, não é qualquer perseguição que denota nossa bem-aventurança. Muitas perseguições denotam apenas nosso infeliz proceder. Não é feliz quem é perseguido por praticar injustiças. Não é bem-aventurado quem é perseguido por amar conchavos políticos. Não é alegre de espírito quem é perseguido por causa de má conduta, nem tem do que se gloriar quem é perseguido por não respeitar as diferenças.


FELIZES OS PERSEGUIDOS

Felizes quando somos perseguidos por não agir por conveniência.
Num mundo de tanto jogo de interesses, os princípios da honestidade e caráter têm sido subjugados e renegados a segundo, terceiro, último, ou mesmo fora de plano por aqueles que acham que o importante é se dar bem, julgando por certo o que lhe seja conveniente. Quem assim procede pode até pensar que é feliz, mas como pode ser feliz quem nem sequer é alguma coisa? Quem age por conveniência não tem caráter, não tem opinião própria, não é nada além de uma folha seca ao vento, não passa de um infeliz. Quanto aos que se expõem, se impõem e se põem contra as injustiças praticadas pelos poderosos, serão perseguidos, atribulados, atormentados, mas serão felizes, pois não passarão pela vida sem que nela tenham feito diferença deixando a sua contribuição e legado.

Felizes quando somos perseguidos por não trairmos a consciência.
Quem trai sua consciência, trai a Deus duas vezes, pois trai a consciência que por Deus lhe foi dada, e trai a Deus que lhe fez consciente. Deus não nos impõe idéias, nem nos obriga a nada. Ele nos atrai ao seu convívio, nos ensina seu caminho e, se houvermos aprendido, o seguiremos por convicção.

Felizes quando somos perseguidos por lutar por igualdade e justiça social
. Cristo humilhou a si mesmo, viveu entre os excluídos, identificou-se com eles, morreu como bandido, fez-se igual ao mais sofrido. Por que haveríamos de nos achar superiores? Somos todos iguais, diferidos tão somente pelas circunstâncias, que se fossem inversas seríamos nós no lugar daqueles a quem excluímos. Por mais sofrido que seja o nosso semelhante, ainda é semelhante a nós.

Felizes quando somos perseguidos por defender os mais fracos
. Defender o semelhante mais fraco é defender a nós mesmos que somos todos semelhantemente fracos. Ninguém vive numa ilha para pensar que o problema do fraco não é seu problema. Quando se vive em sociedade, a fraqueza de qualquer cidadão é uma fraqueza social, e uma fraqueza social é uma fraqueza de todo cidadão. Portanto, defender os mais fracos é fortalecer a sociedade e beneficiar a todo cidadão. Feliz quem entende isso e por isso trabalha. É bem-aventurado, ainda que sua bem-aventurança gere o descontentamento e desencadeie a perseguição daqueles que enriquecem às custas da exploração dos mais fracos.


INFELIZES OS NÃO PERSEGUIDOS

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência
ao explorar a fé dos indoutos condicionando a ação de Deus aos lenços, toalhinhas, fitinhas, castiçais, sais ungidos e ofertas de sacrifício.

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao explorar o empregado, não ajudar o pobre, não se compadecer do sofredor.

Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao buscar lucros ilícitos, tirar vantagens sobre o sofrimento alheio e se promover na desgraça dos outros.

Infelizes somos nós quando nossa consciência se cauteriza
de forma a não sentirmos mais a dor da mazela humana, nem sofrermos com quem sofre.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

PACIFICAÇÃO X PASSIVISMO

Por Julio Zamparetti

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9)

A pacificação é uma marca inerente ao que recebe o novo nascimento. Aquele que nasce do Espírito recebe o selo de Deus, isto é, o Espírito de Cristo é impresso na alma do neoconverso de forma que este é absorvido pela vida e pensamentos de Cristo. Os pacificadores serão chamados filhos de Deus por que a pacificação é nada menos que o traço do caráter de Deus delineado em nossa vida. Assim como os filhos dos homens carregam traços genéticos herdados dos pais, também os filhos de Deus carregam características espirituais herdadas daquele que os gerou espiritualmente.

Pacificação não é passividade. Alguns, por se considerarem pessoas de paz, nunca se manifestam contra as injustiças, os abusos e a violência. É a turma do “não tenho nada com isso”. O problema é que ninguém é uma ilha e o problema de qualquer pessoa é problema de toda sociedade. Ser passivo diante disso é não ser pacificador. Pacificador significa construtor da paz. É, portanto, uma condição ativa, exige empenho, luta e disposição. Como disse Ápio Cláudio “se queres paz, prepare-se para guerra”.

Não é pacificador quem se omite dos problemas de violência nas nossas cidades. Não é pacificador quem fica passivo vendo mulheres e crianças sendo espancadas por brutalhões covardes. Não é pacificador quem não se pronuncia diante dos abusos cometidos pelas autoridades civis e religiosas. Não é pacificador quem não toma as dores do sofredor e não se levanta contra toda forma de opressão. Quem se omite diante disso, coopera com isso, é conivente com o mal. Não é filho de Deus quem não é pacificador.

A dificuldade que temos em diferenciar passividade e pacificação é a mesma dificuldade que temos em conciliar o fato de Deus ser relatado como ‘Deus de paz’ (Romanos 15:33) e também ‘Homem de Guerra’ (Êxodo 15:3).

Deus é pacificador, mas não passivo. Diante de tanta maldade humana não se pode esperar a paz de forma passiva. É necessário tomarmos atitudes firmes, sem violência, mas firmes. É preciso, após a devida constatação, contestar e denunciar a violência, a corrupção e as injustiças, pois quem é passivo, jamais será pacificador.

A passividade atua em função do egocentrismo. Ela é a exata expressão daqueles que apenas não querem se incomodar com ninguém, nem por ninguém, daqueles que não se importam com o sofrimento alheio, daqueles que não sabem o sentido da compaixão e da solidariedade, daqueles que não sabem o que é viver, daqueles que nada mais são do que espectro de homem, que passam pela vida sem dela extrair a essência da existência, sem nela deixar o perfume do legado cristão.

A pacificação atua em função do próximo e busca o bem comum, ainda que isso lhe custe a calma, o sono, o bem-estar, o conforto e até mesmo a serenidade, tal qual o próprio Cristo se portou no templo, diante daqueles que faziam do ambiente de oração uma oportunidade de explorarem a fé dos indoutos. Era aquele o primeiro relato de comércio da fé que viria a ser tão comum nos dias de hoje.

O mesmo Cristo que oferecia a face direita quando era ferido à esquerda, também sabia contestar, denunciar, se manifestar e repudiar os atos de injustiça social, hipocrisia religiosa e dominação política.

Os filhos de Deus são pacificadores, mas jamais passivos.

Assim, “se queres paz, prepare-se para guerra. Se não queres guerra, então descanse em paz

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

LIMPOS DE CORAÇÃO

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt.5:8).

Sempre que tratamos sobre a possibilidade de ver Deus a primeiro coisa que nos vêm a mente, pelo menos o que vem a minha mente, é a morte. Criamos a idéia de que somente veremos a Deus quando morrermos. Mas afinal, onde veremos Deus?

Tudo bem, em primeiro lugar reflitamos sobre o fato de que haveremos de ver Deus após a morte. E para isso necessitaremos ser purificados. A respeito deste assunto já dizia São Paulo: “Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção” (I Cor.15:50).

Paulo foi enfático: não há como vermos Deus nesta condição carnal em que vivemos hoje. Necessitamos ser transformados segundo a imagem de Cristo. Em outras palavras, precisamos ser cristificados. E por mais que sejamos cristificados nesta vida, sem dúvida, sairemos dela com várias áreas por cristificar. Tais áreas, segundo o apóstolo Paulo, não poderão herdar o Reino de Deus. Daí a necessidade de sermos julgados após a morte e sermos limpos de toda sujeira que não havemos nos desvencilhado durante nosso tempo terreno.

Para compreendermos este julgamento precisamos entender que tudo o que fazemos reflete o que somos. Portanto, ainda que o juízo seja segundo o que fazemos, referir-se-á a quem somos. O apóstolo Paulo diz que “qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará” (I Cor.3:13). Perceba que o fogo (juízo de Deus) não provará a obra de cada um, mas sim o próprio sujeito que a pratica. Ele disse: “o provará”, e não “a provará”. O artigo definido masculino (o) indica que o sujeito será provado, e não a obra. Isso mostra que as obras servirão apenas por medida do que somos, para que, pelo que somos, sejamos julgados. Isso porque as obras são o espelho fiel de quem somos.

O mesmo conceito de purificação é transmitido por Cristo usando o corpo biológico como analogia. Assim disse Jesus: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mateus 5:29).

Enquanto Paulo trata da purificação sob a ótica da análise das obras, Cristo a trata sob o ponto de vista de um corpo humano. Tanto as obras quanto o corpo que as pratica figuram nossa alma e refletem o que somos. Enquanto Paulo aponta para um processo de purificação pós morte, Cristo mostra a necessidade de se purificar em vida. Analisando os dois textos, entendemos que a purificação não é um trabalho que terá seu início após o fim de nossa carreira terrena. Na verdade seu início deve dar-se desde já e só será concretizado no outro lado da eternidade. Precisamos amputar de nossas vidas toda maldade que pudermos eliminar já. O objetivo desta purificação é vermos Deus já em vida.

Com isso voltamos à pergunta: Onde veremos Deus?

Já vimos que o veremos na eternidade. Mas precisamos também, e principalmente, vê-lo em vida, no próximo.

A impureza nos impossibilita de vermos Deus no próximo porque nos faz ver no outro a sujeira de nossos próprios olhos. Por isso“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tiago 1:15).

Para o sujeito cristificado é possível ver Deus no andarilho, no miserável, no pobre, no cego, no enfermo, no presidiário e todos os demais pecadores e excluídos com quem Cristo andou e se identificou. Para o impuro isso é impossível, por que sua mente está impura e seus olhos espirituais enxergam todo mundo e o mundo todo com a mesma sujeira com que ele próprio está sujo.

A todo homem e mulher que deseja ver a Deus, dá-se a necessidade de purificar suas mentes pela palavra de Cristo, para que lhe seja possível ter uma visão límpida e real do mundo, sem deixar de ver Cristo no próximo, nem se deixar iludir pelas aparências de quem tem Cristo só dos lábios para fora.

sábado, 3 de outubro de 2009

ESPIRITUALIDADE DINÂMICA

O caminho da espiritualidade não se dá na direção oposta ao mundo. Foi ao mundo que Cristo nos enviou. Quanto mais céticas se tornam as pessoas, mais carecem do dinamismo espiritual daqueles que interiorizaram a vida de Cristo. Já é hora de sairmos dos retiros, dos mosteiros, das soníferas ilhas, dos cantos recônditos e do isolamento. É hora de voltarmos à cidade e exercermos o dinamus do Espírito a fim implantarmos o Reino dos Céus sobre toda terra.

Peça já seu exemplar:
juliozamparetti@hotmail.com

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FELIZES OS MISERICORDIOSOS

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).

A misericórdia dispõe, em si, dois outros conceitos: compaixão e perdão.

Compaixão
significa sofrimento compartilhado. O termo ‘paixão’ significa sofrimento, enquanto o prefixo ‘com’ indica um estado contíguo. Portanto, ter compaixão significa estar unido no sofrimento. Deus é rico em misericórdia, por isso não nos abandona, nem mesmo no vale da sombra e da morte.

O perdão
é a não imputação da pena. A Bíblia diz que Deus não se lembra de nossos pecados. Embora seja impossível que Deus possa ter algum tipo de esquecimento, essa é uma expressão poética que nos assegura o fato de que Deus não imputa sobre nós o pecado que perdoou.

A cruz foi a mais perfeita expressão de misericórdia.

Na cruz, Cristo perdoou o mundo. Foi nela que Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Ainda que a ignorância não possa salvar ninguém, pelo contrário, ela é a razão por qual muitos morrem espiritualmente, Cristo encontrou, na própria ignorância do homem, uma razão para perdoá-lo. Ele buscou compreender o que levou aquela gente a realizar aquele ato tão injustificável. Com isso Jesus caminhou no sentido oposto ao que muitos de seus “seguidores” de hoje caminham, pois enquanto Cristo busca o menor motivo para perdoar-nos junto ao Pai, seus “seguidores” buscam sempre o que condenar no próximo.

Na cruz, Deus solidarizou-se, em Jesus, no sofrimento da condenação, tomando o lugar de condenado.

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).

Ser misericordioso é esvaziar-se de si de modo a ser capaz de descer até o lamaçal a fim de estender a mão para quem já não tem forcas para de lá sair. Não nos cabe julgar que tal sujeito esteja onde está porque mereça tal castigo. Misericordiosos não condenam, pelo contrário, sofrem junto. Cristo não só desceu a condição humana, como se fez o pior dentre os homens assumindo a condição de maldito pregado ao madeiro, a fim de nos conduzir ao caminho de seu reino.

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).

Enquanto todas as outras bem-aventuranças são fruto do alcance do Espírito a nós, a misericórdia é a única bem-aventurança de alcance do homem a Deus, pois seu alcance não se dá em direção ao alto, mas sim em direção às mazelas e aos sofrimentos da humanidade. Uma vez que Cristo tenha se identificado com os miseráveis, é encontrando a esses, sofrendo com esses, perdoando esses e ajudando esses que encontraremos Cristo. A religiosidade tem nos proposto encontrar Deus nas alturas, tal qual fizeram os homens ao construir a Torre de Babel. Descobriram eles que Deus é inalcançável em altura, e a igreja de hoje ainda não descobriu que está cometendo o mesmo erro!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A PALAVRA PROFÉTICA

Virou moda falar a palavra profética. Entretanto, a moda que se fala nada tem a ver com o que de fato é profecia. Estão confundindo ‘profecia’ com ‘teologia da confissão positiva’.

Tenho observado que nos vários seguimentos religiosos onde o termo tem sido usado, a tal palavra profética é utilizada tão somente como afirmação do que se deseja. Isto é, afirma-se o que se deseja e atribui-se a afirmação a uma obrigação de Deus em realizá-la.

O pequeno detalhe de que se esquecem é que, em toda Escritura Sagrada, jamais uma profecia foi gerada pelo profeta. Todas as profecias são geradas pelo Espírito de Deus e o profeta é apenas seu porta-voz. Não nos é outorgado, ao menos nas Escrituras, qualquer autoridade para falar o que desejamos declarando ser essa a palavra da profecia do Espírito. Toda nossa autoridade consiste em anunciar a profecia já revelada nas Escrituras.

Nenhum profeta jamais declarou algo proveniente de seus desejos como se fosse palavra do Espírito. O próprio apóstolo Paulo teve zeloso cuidado em não cometer tal ultraje, quando falou seu desejo ou opinião disse: “digo eu, não o Senhor” (1 Coríntios 7:12).

A palavra profética é gerada do Espírito Santo e transmitida pelos profetas. Por isso, não há uma só profecia que diga: “eu declaro”, ou “eu determino”, ou “eu profetizo”. A verdadeira profecia diz: “Assim diz o Senhor”.

E, afinal, o que o Senhor diz? Haveria alguma revelação a mais que Ele queira dizer que não tenha dito nas Escrituras? A menos que o Apóstolo Paulo tenha se enganado redondamente, não há mais o que Deus queira revelar. Disse Paulo: "Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:8).

É realmente impressionante como muitos desejam conhecer mais a Deus sem querer conhecer mais as Escrituras. Dizem querer experiências com Deus sem querer conhecer o que Deus já nos deu para experimentarmos, a saber, sua Palavra. Querem conhecer a Cristo sem conhecer a Palavra, que é Cristo. Enquanto os Romanos trocaram o relacionamento com Cristo, da Palavra para a hóstia, os pentecostais trocaram o relacionamento, da hóstia para as “experiências”, o empirismo.

Através do empirismo, muitos querem descobrir o que Deus não revelou, ao tempo em que rejeitam o que está revelado. Quando não entendem o que a Bíblia diz, ou quando o que ela diz contraria o que crêem, dizem que isso não pertence ao homem saber, que está oculto em Deus. Ora, quanta incoerência! Se Deus escreveu nas Escrituras Sagradas, está revelado! Ao invés de dizerem que não pertence ao homem saber, deveriam ter a humildade de querer aprender. Afinal, se o Espírito não revelar o que está escrito, porque revelaria o que não está? E se não pertence ao homem saber o que está escrito, porque Deus escreveu? Não é estupidez querer entender o que não está revelado nas Escrituras (e isto sim ao Senhor pertence) e negligenciar o que está revelado?

A função do Espírito Santo não é nos ensinar o que não foi revelado, não é nos fazer adivinhar, e sim nos lembrar e ensinar todas as coisas que Jesus falou (João 14:26).

Assim, a Palavra profética consiste em anunciar o Reino de Deus e a sua justiça. Hora promovendo a virtude, hora denunciando o mal.

Palavra profética não é declarar jargões positivistas. Não foi assim que procederam os profetas e os apóstolos. Muitos sofreram martírio, exatamente, por causa das injustiças e heresias que denunciaram. Logo, ser profeta, hoje, é anunciar a profecia revelada nas Escrituras, é levar amor de Deus aos carentes através das boas obras, é anunciar o Reino de Deus, que “é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Mas não é só isso, a Palavra Profética é aquela que se levanta contra as injustiças sociais, o mau uso dos recursos naturais, o abuso da boa fé popular, o legalismo religioso, a corrupção, as heresias e coisas semelhantes a essas.

Infelizmente a verdadeira palavra profética não interessa aos “grandes profetas”, líderes religiosos, cada vez mais envolvidos em conchavos políticos e cegos pela sede de poder. Para esses, quanto menos conhecimento (Bíblico ou científico) o povo tiver, mais fácil será dominá-lo, e isso é o que lhes importa. E assim, prosseguem com seu empirismo e charlatenismo, fazendo-se semi-deuses, enganando a massa burra, construindo seus impérios “acima das estrelas de Deus” (Isaías 14:13).

Meu amigo, não se deixe enganar, já dizia Jesus, “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5:39).

“porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A MANSIDÃO

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt.5:5).

Os meios que Deus utiliza para atingir os seus fins não são os mesmos, nem são semelhantes aos utilizados pelos homens. Enquanto o caminho do homem o leva a uma possessão caracterizada pela violência, o caminho de Deus o leva à herança, que é fruto da mansidão.

Dizer
que os mansos herdarão a terra em pleno auge do império romano, foi algo deveras subversivo! Fico imaginando o nó que deu no cabeção daqueles que o ouviam. De acordo com o entendimento humano isso seria absolutamente ridículo! Na verdade, até para os homens modernos isso não faz sentido. Afinal, vivemos num mundo onde prevalece a lei da selva, em que predomina o mais forte.

Num tempo em que os violentos romanos dominavam a terra por meio de sua força militar, era muito difícil compreender como a terra seria herdada pelos mansos.

Num tempo em que os países procuram o poder das armas nucleares para garantir sua supremacia, não parece fazer muito sentido considerar a mansidão como meio de defender seu país, quanto menos herdar a terra.

Para qualquer serumano, o mais lógico é que aquele que possua maior força domine, subjugue e exerça autoridade. Tais padrões não se estabelecem apenas pela violência física, mas também pela violência mental. Assim a força da violência não só é exercida pelos estadistas como também, e talvez mais ainda, pelos líderes religiosos, políticos e patrões.

“Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve
(Lucas 22:25-27).

Certamente o mundo seria bem melhor se todos seguissem o exemplo de Cristo em fazer-se servo; se os líderes religiosos fossem servos do povo ao invés de servirem-se dos mesmos; se os políticos trabalhassem para o povo ao invés de oprimi-lo.

A violência física firma o poder do mais forte pelos vieses do medo, da opressão e do autoritarismo. Frequentemente as pessoas confundem autoridade com autoritarismo e a fim de consolidar seu domínio lançam mão deste tipo de violência, muito comum dentro dos lares. Enganosamente, a violência tem sido largamente usada, pelos covardes e estúpidos (a ética não me permite adjetivos mais expressivos), como maneira de educar os filhos e sujeitar a mulher.

Muito parecida à violência física é a violência mental. E dela se utilizam, principalmente, líderes religiosos sem escrúpulos que dominam o povo comum por meio dos mesmos artifícios da violência física, a saber, o medo, a opressão e o autoritarismo.

Os religiosos necessitam de uma doutrina escabrosa, cheia de condenações, demônios e castigos a fim de que amedrontados, os fiéis opressos não ousem desobedece-los. Não longe disto deve caminhar o autoritarismo, que não é autoridade, pois autoridade é conquistada, ao passo que o autoritarismo é imposto. Nada é mais típico das autoridades religiosas, que em sua grande maioria se nega a ser questionada, se acha absoluta e qualquer um que se atrever a contesta-la é logo taxado de rebelde, herege e réu de um crime sem perdão, a menos que se retrate e nunca mais ouse contestar o infalível sacrossanto líder espiritual (ou deveria dizer carnal).

A violência gera rancor. São muitos os casos de filhos profundamente amargurados em função da violência sofrida pelos pais. O mesmo ocorre com mulheres que sofreram a violência de seus maridos

A violência gera desconfiança, tanto por parte do agredido quanto do agressor. Ninguém confia em quem é violento, pois nunca sabe qual será sua reação a qualquer ação. Nem o agressor pode confiar no agredido, pois este sabe que o agredido se sujeita ao agressor tão somente por causa do medo, mas tão logo tenha uma oportunidade, tudo fará para livrar-se de seu agressor.

A violência gera traição. Quem busca o domínio por meio da violência, dominará até que alguém mais forte o domine. Não raras vezes este novo dominador se levanta dentre os anteriormente dominados.

É por essas razões que engana a si mesmo quem pensa possuir algo por meio da violência. Este pode apenas dominar, mas jamais possuirá. Dominará o corpo, mas jamais possuirá a alma. Dominará os atos, mas jamais possuirá o coração. Dominará a terra, mas jamais a herdará.

“Assim diz o SENHOR: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar”
(Jeremias 22:3).

“Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz (Salmos 37:11).

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O CHORO E O AMOR PRÓPRIO

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”(Mateus 5:4).

Deste versículo extraí duas verdades que passarei a dissertar:

1- Felizes os que se entristecem
2- Infelizes os que não choram


Choro pela constatação


O choro causado pelo confronto com a realidade é fator fundamental no tratamento da alma. Só quem é capaz de confrontar-se, constatar e lamentar (chorar) sua condição, é capaz de mudar a realidade por mais desfavorável que seja. É bem por isso que são Felizes os que se entristecem por suas mazelas.

Triste é aquele que não se enxerga: ninguém mais agüenta suas repetidas piadas sem graça, mesmo assim ele acha que está abafando; seu casamento está indo à ruína, mas toda culpa é da mulher, pois ele não vê defeito algum em si mesmo. O problema é que o amor próprio o impede de ver quem é, conseqüentemente, acaba com qualquer chance de mudança e evolução. Por fim, quando a pessoa percebe a insignificância que seu amor próprio a levou, resta-lhe apenas o escapismo. Então, quanto mais vazia e infeliz ela estiver, mais procurará os dez-prazeres da vida que possam lhe fazer sorrir em meio à vida infeliz e desgraçada. Infelizes os que não choram.


Choro de arrependimento

“Por causa da indignidade da sua cobiça, eu me indignei e feri o povo; escondi a face e indignei-me, mas, rebelde, seguiu ele o caminho da sua escolha. Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram” (Isaias 57:17,18).

O amor próprio é a antítese do arrependimento e nos faz permanecer no caminho infeliz de nossa escolha. Afinal, o que dirão se eu reconhecer meu erro? O que pensarão se me vir ferido, infeliz, acabado, chorando, arruinado? Ora essa! Mas o que importa não pensarem isso, se isso já é realidade? De fato o choro é incompatível com o amor próprio! Bem aventurados os que choram do caminho da sua escolha, pois Ele lhes dará consolação.


Choro de compaixão

“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos”
(Romanos 12:15,16).

O orgulho é prole do amor próprio. Condescender é mais do que simplesmente chorar com o humilde, é sim fazer-se de mesma descendência, é irmanar-se na sua aflição, é comungar do choro e sua causa. Uma verdadeira solidariedade.

Por falar nisso, o orgulho é antítese da solidariedade. Afinal, condescender com o humilde fere o orgulho de qualquer sábio aos próprios olhos.

É bem verdade que a Bíblia não relata a palavra solidariedade. Mas, o conceito da palavra está exaustivamente impresso em suas páginas. Ser solidário é, segundo os dicionários da língua portuguesa, aquele que partilha o sofrimento alheio, ou se propõe mitigá-lo. Cristo foi além disso, e não só compartilhou o sofrimento que não era seu como entregou sua vida por sofrê-los.

Ainda segundo os dicionários, solidariedade é a responsabilidade de cada um de muitos devedores pelo pagamento total de uma dívida. Aqui aprendo que o problema do montante de nossa dívida para com nossa terra e nossa gente não se resolve se cada um pagar o valor referente à dívida que causou. O problema só se resolverá se cada um se responsabilizar por toda dívida, não apenas por sua cota na dívida. Assim seremos solidários não só com quem também está pagando, como estaremos nos solidarizando aos que não podem pagar sua cota, ou mesmo nem sabem que a deve. Jesus se solidarizou pagando o total da dívida que ao homem era impossível pagar.


“Jesus chorou. Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava”
(João 11:35-36).

Os judeus se enganaram. Jesus não chorou por Lázaro. Jesus chorou por quem e com quem estava chorando a perda de Lázaro. Jesus chorou por nós que choramos nossos Lázaros. Ele, como Deus, sabia que ressuscitaria Lázaro. Mas como homem, sentia a dor da perda que sentimos na morte de um parente ou amigo. Bem aventurados os que choram com os que choram. Parecem-se com Cristo.

domingo, 30 de agosto de 2009

PARA QUÊ, A IGREJA?

Quem é Jesus? Para que veio a este mundo? Numa só frase curta e grossa Jesus respondeu essas duas questões: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45).

Cá eu com meus botões, fico a pensar: e eu, quem sou? Para que estou aqui? Bem... Observando o versículo acima citado, vejo que Deus fez-se homem para que como homem pudesse prestar aos homens seu serviço e sua vida que já dispunha desde os tempos eternos para o resgate de muitos. Assim fez-me nascer do Espírito para que por seu poder eu tivesse a vida contida nEle desde os tempos eternos, a fim de que possa dar a muitos a vida que dele recebi.

Assim disse o Mestre: “De graça recebestes, de graça daí”. O interessante é que tudo que de graça recebi resume-se numa única coisa: Nova Criação. O Pai simplesmente me fez nova criatura. Esta nova criatura, a exemplo de seu Cristo, foi chamada para servir aos outros o que antes recebeu do Pai. Não se trata de dar o que possuo, mas sim dar o que sou.

Deus ama porque é amor. Ninguém pode dar aquilo que não é. Pois somente o que somos podemos dar. Todas as demais coisas não nos pertencem. Nós apenas as administramos enquanto permanecemos neste plano terreno.

Doação é o nome indevido que damos ao ato de transferir a responsabilidade administrativa de algum bem que esta sob nossa mordomia. Pois tudo o que temos não nos pertence. Afinal “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam”. Assim não nos resta nada a dar à humanidade, senão a nós mesmos.

Por isso Deus nos salvou. Pois só quem tem a salvação, pode dar salvação ao mundo. Eis aí o grande problema desse sistema religioso, em que todas as ações, ritos e crendices conduzem o fiel à preocupação em salvar-se a si mesmo.

Quando se fala em santificação, logo se pensa em atitudes que agradem a Deus, a fim de que, no final da vida, não sejamos rejeitados de sua presença na eternidade. Na verdade, deveríamos buscar a santificação, a fim de que vivendo santamente sejamos pontes para a santificação do mundo.

A Israel fora dado o Reino de Deus para que o mundo inteiro fosse abençoado por meio de Israel. Todavia Israel se fechou, confinando sua fé às obras da Lei, buscando justificar-se a si mesmo, pensando que assim garantiria seu pedaço do Reino dos Céus. INCRÍVEL!!! É exatamente o mesmo erro da igreja! Terá, Deus, que transferir seu reino, novamente, a quem lhe dê os frutos respectivos?

Não poderemos dar os frutos respectivos do Reino de Deus enquanto o Reino de Deus não estiver de fato em nós. Não daremos frutos de justiça enquanto não formos justos, nem daremos frutos de paz enquanto não formos pacificadores. Não poderemos dar ao mundo alegria pelo Espírito enquanto, pelo mesmo Espírito, não formos alegres. Acima de tudo, se não dermos tais frutos aqui e agora, não poderemos dar tais frutos no mundo porvir, pois é este o mundo que carece de tais frutos e para o qual Deus direcionou o serviço de sua igreja.

Jesus falou que todos nós seremos julgados pelo bem ou mal que fizermos. Alguém dirá: “ora, tudo bem, não são as obras que me salvarão”. E ainda citará I Cor,3:15: “se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”. O detalhe é que o que fazemos apenas reflete o que somos. Esquece-se, este, de que nossas obras são temporais, portanto, o que lá vai queimar não sãos obras, mas sim o que tais obras representavam, não o que o sujeito fez, mas sim o que o sujeito foi.

Tudo bem, escaparás como quem escapa do fogo, como quem salva o corpo mesmo perdendo o olho. Mas viveste no mundo praticando más obras, deixando de ser a luz que devias ser para iluminar a terra. Não produziste os frutos respectivos do Reino. O mundo não sentirá tua falta.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

POBRES PELO ESPÍRITO

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5:3).

A melhor versão que encontrei para este versículo, dentre as Bíblias mais usadas nos dias de hoje, é a versão Ave Maria, que assim diz: “Bem-aventurados os que tem coração de pobre”. Assim, essa versão se aproxima mais do texto da vulgata latina e do texto grego do primeiro século que trazem a expressão “pobres pelo espírito”. No grego, a expressão tô pneumati é dativa, não genitiva. Configura um adjetivo, não substantivo. O mesmo ocorre ao latin spiritu. Portanto, não se trata de uma espiritualidade pobre, mas de uma pobreza segundo o espírito.

A expressão “pobres de espírito” caracteriza uma adulteração das escrituras ocorrida nas traduções que se deram ao longo do tempo. A mesma gera uma contradição, já que o próprio Espírito das Escrituras nos conduz a um enriquecimento, e não empobrecimento, espiritual.

Quanto mais se cresce espiritualmente, mais o coração se desapega das coisas materiais. Doutra forma, é exatamente a pobreza espiritual que leva o homem a tentar preencher seu vazio existencial na ilusão do materialismo. A despeito de toda riqueza que possa ter, aquele que cresce no espírito, também pelo espírito obtém um coração humilde, capaz de refugar sua riqueza e identificar-se com os mais miseráveis, tal qual Cristo, mesmo sendo Deus, identificara-se com os pecadores ao ponto de morrer por eles.

Veja o que disse São Paulo, a esse respeito: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:8,9).

Considerar todas as coisas como refugo denota um coração de pobre, desapegado, empobrecido pelo espírito. Não implica, necessariamente, que o cristão tenha que perder todas as coisas, mas sim que todas as coisas percam o domínio sobre o cristão. Quando isso acontece, todas as coisas se tornam secundárias e o reino de Deus toma o primeiro lugar na vida do homem. “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

Em casos extremos, é necessário o rompimento radical com os bens materiais. O empobrecimento literal, a fim de que, pelo espírito, haja o desapego material. Foi num desses casos em que Cristo disse a um jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Mateus 10:21).

A mesma necessidade de erradicação ocorre em relação ao status social. Ou seja, o neo-converso, em certos casos, necessitará exilar-se de todo envolvimento com o mundo até que esteja devidamente fortalecido para voltar a integrar-se ao mundo com novo viver.

Ser pobre pelo espírito, ou ter um coração de pobre significa encontrar a felicidade independentemente dos bens materiais ou status sociais.

O rico não é pobre pelo espírito quando seu coração é apegado ao que tem.

Até mesmo o pobre não é pobre pelo espírito quando seu coração é apegado ao que não tem.

Quem não é pobre pelo espírito não conhece a Cristo, nem pode ter seu reino. São Paulo teve que considerar tudo perda e refugo para poder conhecer e ganhar a Cristo: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Filipenses 3:8).

Quem não é pobre pelo espírito não pode servir a Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24).

O mais impressionante nisso tudo é ver tantos crentes servindo-se de Deus para servir às riquezas! Esses são ricos pelo espírito (de Mamom).

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PINGA SIM, MENTIRA NÃO

Um dia desses, um bebum, amigo meu, encontrou-me em frente à padaria e me pediu 25 centavos pra comprar leite. Fiquei impressionado! como ele pôde encontrar leite pra comprar à 25 cents? Como não sou tão bobo, logo o fiz falar a verdade. Disse a ele: -Só lhe dou o dinheiro se for pra comprar cachaça. Imediatamente o sujeito mudou o discurso e admitiu o verdadeiro propósito que tinha para a valiosa moeda. Sem qualquer relutância dei-lhe a tão cobiçada importância.

Mesmo sabendo que muita gente me atirará pedras, não tenho receio algum em relatar o fato. Na verdade o problema é todo dessa muita gente. Pois essa muita gente pensa que pra mudar as pessoas deve-se oprimi-las e proibi-las, da mesma forma que oprimem e proíbem a si mesmas, como se alguém fosse alcançar a Deus por abster-se daquilo que morrem de vontade de fazer. Depois, ainda condenam aqueles que fazem o que eles mesmos queriam estar fazendo e só não fazem porque são hipócritas o suficiente para fazer de conta que estão libertas desse mal.

Elias, o profeta, como gosta de se autoproclamar, este meu amigo bebum, gosta de recitar diversos versículos bíblicos que aprendeu na EBD, nos tempos de crente fiel junto à família tradicionalmente assembleiana. Faltariam mais repreensões, lições e acusações, para que ele mudasse de vida? Certamente não. Então, não seria eu que as faria. Falta-lhe, sim, ser compreendido e amado. Ao menos agora, Elias sabe que se alguém lhe estendeu a mão, mesmo que para suprir-lhe um vício, muito mais estenderá quando quiser libertar-se do mesmo. Sabe que terá com quem contar quando necessitar de um ombro amigo pra chorar as mágoas e compartilhar a verdade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O BOM CAMINHO, UMA ÓTIMA RECOMPENSA

No capítulo 20 do Evangelho segundo São Mateus, Jesus conta a parábola do senhor que contratou vários trabalhadores para trabalharem em sua vinha, uns logo ao iniciar o dia, outros às nove da manhã, outros ao meio dia, três da tarde e por derradeiro contratou alguns perto das cinco. Ao acertar as contas, pagou o mesmo valor, tanto ao que trabalhara o dia inteiro, quanto ao que trabalhara apenas uma hora.

Tal qual a reclamação dos que trabalharam mais, neste episódio, é a reclamação de muitos que se consideram justos, nos dias de hoje. Estes afirmam que é injusto da parte de Deus acolher em seus braços alguém que se arrependeu de suas más obras no último instante de sua vida, a exemplo de um dos ladrões na cruz ao lado da cruz de Jesus, que sem ter feito qualquer boa obra recebeu o paraíso, tal qual uma pessoa que viveu dedicando toda a sua vida à caridade em Cristo.

A resposta que encontramos no relato do evangelista Mateus ainda serve em nossos dias: “por acaso não tenho o direito de fazer o que quero daquilo que é meu?”.

Ora, a Bíblia diz que a salvação pertence ao Senhor. Não pode, Ele, dá-la a quem quiser? Se Ele salva o sujeito mal no último segundo, não deveríamos ficar felizes com isso?

Além do mais, ninguém deveria se sentir injustiçado por dedicar a vida inteira a Deus e receber o mesmo soldo de quem só se lembrou dEle aos quarenta e cinco do segundo tempo da prorrogação. Ninguém deveria ter inveja deste. Afinal, este pobre coitado passou a vida sem ter tido a felicidade de ser um bom sujeito.

Muita gente acha que fazer o bem é um sacrifício penoso que o torna merecedor do paraíso. Que engano! Não há nada mais prazeroso que servir e sofrer pelo Reino de Deus e sua justiça. Não deixe pra amanhã, entregue-se a Cristo hoje, converta-se de seus maus caminhos. A recompensa começa aqui mesmo, na simples satisfação de viver o bom caminho e trabalhar nele desde cedo, carregando nossa cruz e seguindo o Mestre.


Extraido do livro 'O Cristianismo que os Cristãos Rejeitam' de Julio Zamparetti Fernandes.

domingo, 9 de agosto de 2009

Oração pelos pais

Querido Pai Eterno, neste dia dos pais pedimos Tua bênção sobre as famílias. Que os pais sejam, para seus filhos, exemplos heróicos de luta, esperança, idealismo, sonho, fidelidade e amor. Dá-lhes Tua força e ânimo, a fim de que não desistam nem esmoreçam, mas levem a cabo sua missão de deixar aos filhos um mundo melhor do que receberam de seus pais. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

UMA ESTRADA QUE UNE

Por favor, Leia atentamente:

"Naquele dia haverá estrada do Egito até à Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria; e os egípcios adorarão com os assírios ao Senhor. Naquele dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. Porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança" (Isaias 19:23-25).

Alguma coisa lhe chamou a atenção? Não? Talvez seja porque os elementos do texto estejam muito longe de sua realidade.

Permita-me reescrever o texto mudando os elementos, a fim de intregá-lo a uma realidade mais próxima de nós:

"Naquele dia haverá estrada dos católicos até os evangélicos, e os evangélicos virão aos católicos, e os católicos irão aos evangélicos; e os católicos adorarão com os evangélicos ao Senhor. Naquele dia, judeus serão o terceiro com os católicos e os evangélicos, uma bênção no meio da terra. Porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito sejam os católicos, meu povo, e os evangélicos, obra de minhas mãos, e judeus, minha herança" (Isaias 19:23-25).

Isso te causou espanto? Saiba que a diferença entre os elementos do primeiro texto era muito maior que a diferença entre os elementos do segundo texto.

Queremos ser "uma bênção no meio da terra"? Ecumenismo é o veículo, Cristo é a estrada! Palavra do Senhor!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Avião: eu tenho, você não tem...

Se antes o sonho de todo pastor era construir uma catedral, agora é adquirir seu próprio avião. Repentinamente, a classe pastoral foi tomada por um complexo de Ícarus.

Ora, se fulano pode, por que eu não?

E assim, cresce a cada dia o número de pastores que desfilam pra baixo e pra cima em suas aeronaves particulares.

O que antes só era visto do lado de cá da linha do Equador (EUA), agora está cada vez mais comum nas terras tupiniquins.

Ter um avião passou a ser sinônimo de estar sob a bênção e a aprovação divinas.

Quanta tolice!

O que pensa o mundo acerca de nossas megalomanias?

Um desses líderes* que acaba de adquirir um jato, afirmou em uma mensagem recente:

"Somos [sic] entre os quinhentos homens mais bem-sucedidos do Brasil que possuem um jato. A visão desatou novos líderes e milionários. Pastores e líderes que possuem casa, patrimônio, empresas e templos (como Igreja) acima de milhões, o que fez ministérios e líderes milionários. Sabe por quê? Deixamos de ser tímidos, saímos dos decretos de morte e entramos no decreto de vida. Por isso, estamos ousando conquistar no sobrenatural."

Que credibilidade teremos para pregar o Evangelho da Graça e do Reino de Deus, se nos prostramos ante a Mamom?

Estou corado de vergonha.

Nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, almejou tanto luxo. Poderiam ao menos ser discretos. Mas em vez disso, sentem a necessidade de ostentar.

Qual será o próximo sonho de consumo dos mega-pastores? Um transatlântico?

E o que mais me incomoda é saber que a maioria deles prega pra gente muito humilde, que mal consegue adquirir um carro usado.
É o dinheiro dessa gente humilde que sustenta a megalomania dos seus líderes.

Enquanto isso, as convenções e seminários em hotéis continuam servindo como feira de vaidade, onde cada qual quer ter mais vantagem pra contar aos seus colegas.

Vale aqui a exortação de Cristo à igreja em Laodicéia:

"Dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta. Mas não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3:17).

Lembremos que o sonho de Ícarus tornou-se no seu maior pesadelo. Um dia as asas derretem...

O mito de Ícarus encontra paralelo no Oráculo de Deus acerca do Rei da Babilônia:

"Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono (...) Subirei acima das mais altas nuvens; serei semelhante ao Altíssimo. Mas serás levado à cova, ao mais profundo do abismo" (Is.14:13a,14-15).

Que Deus levante em nossos dias uma geração de líderes segundo o Seu coração, que não se corrompam com as ofertas do Mundo, mas que sejam verdadeiros agentes transformadores do Reino.


* O líder citado é Renê Terra Nova, de acordo com o site Voz Profética.

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Texto de Hermes Fernandes
Fonte: http://hermesfernandes.blogspot.com/2009/07/o-voo-de-icarus.html

sábado, 25 de julho de 2009

PRECISA-SE DE UM HERÓI

É... Nada será como era antes. Sinto falta de ver na nova geração os sonhos que sonhei em minha mocidade. Não que não me sinta mais jovem (claro! rsrs), ou que tenha deixado de ser um sonhador, mas os sonhos que ainda sonho e os sonhos que já realizei começaram muito cedo. Embora não soubesse exatamente como realizar, sabia muito bem o que queria. Não me faltava utopia, nem ícones em quem pudesse me inspirar.

Queríamos mudar o mundo, gritamos “diretas já”, “abaixo a ditadura”, fomos às ruas, unimos nosso povo, mobilizamos nossas igrejas, lutamos por liberdade de expressão, contra o preconceito racial, denunciamos a corrupção, derrubamos a ditadura, elegemos um presidente, pintamos nossa cara e derrubamos o presidente que elegemos.

Tínhamos ícones na política e na cultura. Verdadeiros heróis! A música que ouvíamos era boa e carregada de utopia, sonhos e fome de justiça. Ah, como era bom estar na rua cantando “vem vamos embora que esperar não é saber...”!

Não só sonhávamos com um mundo melhor como também com uma igreja de fiéis mais ativos, que transpassassem os limites das quatro paredes do templo, que acolhessem o sofredor e não fossem tão fúteis e mesquinhos.

O que aconteceu?

Aconteceu que, como disse Cazuza, “meus heróis morreram de overdose” e ninguém mais se levantou para agitar a grande massa. Hoje temos uma geração carente de um herói. Seus objetivos resumem-se em ouvir música de péssima qualidade, cuidar da própria vida, com pés no chão, sem cometer os mesmos erros utópicos de seus pais.

Quanto a minha geração, a grande maioria, abandonou o sonho, “tá em casa, guardada por Deus, contando vil metal”, exatamente como constatou Belchior, em ‘Como Nossos Pais’, que ainda dizia que “apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

Onde foi que erramos?

O problema é que não precisávamos de heróis. Precisávamos de pais. Tivemos verdadeiros heróis na política e na cultura, mas não na família. E, diga-se de passagem, dentre os poucos filhos afortunados que tiveram pais heróis, a maioria, não soube reconhecer o heroísmo de seus pais. Minha geração foi marcada pela despaternidade, vivendo num processo de transição social onde a estrutura familiar abalada oscilou entre os extremos de pais ausentes (separados) e pais presentes, porém, austeros e incompreensíveis, tão heróis quanto bandidos. Na falta deste ícone familiar, buscamos ícones pop-stars, ao som de quem caminhamos e cantamos e seguimos a canção. Porém, quando estes ícones se calaram, muitos de nós ficamos caminhando ao vento “sem lenço e sem documento”, sem ter em quem se espelhar e sem servir de espelho para ninguém.

Então, QUE NADA SEJA COMO ERA ANTES!

Nossos filhos não precisam dos heróis da TV, nem da música, nem da política. Só precisam de pais... pais heróis, presentes, que os ensinem a sonhar, a serem livres e libertadores, a “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, a serem justos e denunciarem as injustiças, a serem responsáveis, honestos e jamais deixarem de crer no futuro.

O SONHO NÃO ACABOU!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

NÃO NOS TEMPLOS, MAS SIM NOS POÇOS. (JOÃO 4:1-42)

“E diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (João 4:42).

Uma grande mudança estava ocorrendo entre os samaritanos. Eles, que haviam buscado a Jesus por causa dos sinais testemunhados por uma mulher pecadora, de que Jesus havia dissertado detalhes acerca da vida oculta dela, agora não mais se interessavam em tal sinal, mas interessavam-se nas palavras de vida que o Mestre proferia.

Os Samaritanos, bem como os judeus, sempre pediam e dependiam de sinais para crerem. Comumente pediam sinais a Jesus: os fariseus o tentaram diversas vezes pedindo um sinal do céu; os discípulos pediram como sinal, ver ao Pai. O próprio Jesus afirmou que ninguém lhe creria se não vissem sinais (vide João 4:48).

Os sinais tinham seus propósitos especiais: fazer com que uma geração incrédula cresse em Jesus e confirmar a Palavra pregada pelos discípulos (vide Marcos 16:20). O testemunho destes sinais, em especial o da ressurreição de Cristo, fez com que milhares de cristãos dessem sua vida por Cristo, durante três séculos de intensa perseguição.

Assim, temos, hoje, um evangelho já confirmado a respeito de Cristo já vitorioso. O Evangelho que pregamos não carece de milagres para confirmá-lo, pois não pregamos um Evangelho novo, e sim o “velho” e perfeito Evangelho já confirmado pelos sinais operados por Cristo e os Apóstolos. Não estou dizendo com isso que os milagres cessaram, o que digo é que os milagres de hoje não são operados para confirmar a doutrina, mas tão somente para beneficiar os filhos de Deus. Se alguma doutrina carece de confirmação por milagres, essa doutrina não é de Cristo, pois a doutrina de Cristo, o Evangelho, já está confirmada.

É nesse entremeio que se destacam os cristãos autênticos dos cristãos meramente nominais. Os nominais continuam buscando sinais. A Bíblia não lhes é suficiente. A ressurreição não lhes representa o devido valor e por isso são insaciáveis. Tais “cristãos” não provaram da água que Cristo dá, pois se assim fizessem, jamais tornariam a ter sede, nunca pediriam outro sinal. Se bebessem da água de Cristo, a sua Palavra, não estariam correndo atrás do pastor mais poderoso, nem da emoção mais forte, ou da unção mais poderosa, muito menos da revelação mais incrível. Estariam satisfeitos, saciados pela Palavra de Deus que é poderosa, Palavra verdadeiramente ungida, Revelação de Deus ao homem. A esse respeito dizia Martinho Lutero: "Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida, como para o que há de vir".

Os samaritanos estavam começando a provar dessa água. Os sinais antes testemunhados pela mulher deixavam de ser o atrativo a Cristo. Eles estavam descobrindo algo mais precioso. O desejo de Cristo é que todos nós também façamos a mesma descoberta; que deixemos de mirar as mãos de Deus para alvejar seu coração; que o deixemos de amá-lo pelo que Ele faz e amemo-lo pelo que Ele é; que rompamos os padrões estabelecidos pela religiosidade humana e abracemos com todas as forças a vontade divina. Que compreendamos que nós, a igreja, somos o corpo de Cristo na terra e cada um de nós membros deste corpo. Portanto, somos os pés de Cristo para alcançar os povos, somos as mãos de Cristo para tocar o mundo.

A igreja precisa deixar de estar voltada para si própria, enchendo-se de poder sem ter pra quê, buscando unções que incham o ego. A igreja precisa estar voltada pra fora, proclamando ao mundo o Evangelho de Cristo que “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). Esse é o verdadeiro poder. Quem está disposto a buscá-lo? Você se dispõe, ou prefere continuar enclausurado no templo, agradecendo por ser um salvo e o mundo que exploda (literalmente).

Cristo nos constituiu luz do mundo para que o mundo recebesse nossa luz. Ele nos fez sal da terra para que a terra tivesse sabor a partir de nossa simples presença e interação com ela. Não é nas igrejas que a nossa luz é mais requisitada, e sim no mundo. Não é em nossos grupos de estudo que o sal é mais necessário, e sim entre os ímpios. Não foi no templo que Jesus alcançou a mulher samaritana e sim a beira do poço. Da mesma sorte, não é no templo que se concretiza o propósito de Deus para nós, e sim nos poços da vida.

Nos poços, volta-se constantemente para buscar água. Outra vez, e outra vez, outra, e outras mais e mais... A condição de quem busca água junto ao poço é insaciável. Assim está o mundo e, infelizmente, a maioria dos que se dizem cristãos. Pois tanto os prazeres mundanos quanto a busca insaciável por sinais e outros caprichos religiosos (atrás dos quais muitos escondem a vida pecaminosa podre, sem conhecer o poder transformador do Evangelho) são engano e engodo.

Jesus quebrou os padrões estabelecidos pela religiosidade: conversou com uma mulher samaritana, jantou na casa de publicanos, permitiu que prostitutas lavassem seus pés, sem se importar com quem, ou o que, murmuravam dele. Tudo isso porque Jesus veio para os enfermos e não para os sãos. Diante disso eu pergunto: é coerente o corpo de Cristo, hoje, agir diferente do próprio Cristo, seu Mestre?

Para o Mestre, era mais importante e prazeroso falar da salvação aos samaritanos, do que almoçar com seus discípulos, isso porque fazer a vontade do Pai lhe saciava infinitamente mais que a comida terrena. Quando realmente estivermos moldados pelo poder do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus, também agiremos como Cristo e, então, só então, seremos saciados.


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Extraído do livro ‘O Cristianismo que os Cristãos Rejeitam’ de Julio Zamparetti Fernandes.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

VELHAS BARDAS

A turma reclama de quê, afinal?

Brasileiro é assim:

Saqueia carga de veículos acidentados nas estradas. Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas. Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.

Troca voto por qualquer coisa: areia , cimento, tijolo, dentadura, emprego para parente. Fala ao celular enquanto dirige.

Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento. Param em filas duplas, triplas, em frente às escolas.

Viola a lei do silêncio

Dirige após consumir bebida alcoólica. Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas. Espalha mesas churrasqueiras nas calçadas.

Pega atesta médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho. Faz gato de água, de luz e de TV a cabo. Faz grilagem de terrenos, até praças. Registra imóveis no cartório no valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisório, só para pagar menos impostos. Sonega bens na declaração do Imposto de Renda. Compra recibo para abater na declaração do Imposto de Renda para pagar menos imposto.

Muda a cor da pele para entrar na universidade através do sistema de cotas. Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10, pede nota de 20. Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes. Estaciona em vagas exclusivas para deficientes. Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas. Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca. Vende sem nota para não pagar imposto. Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.

Emplaca seu carro fora de seu domicílio para pagar menos IPVA. Freqüenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho. Leva das empresas onde trabalha pequenos objetos, como clipes, envelopes, canetas, lápis – como se isso não fosse roubo.

Quando volta do exterior, nunca fala a verdade quando o policial pergunta o que traz na bagagem... e querem que os políticos sejam honestos – se escandalizam com as picaretagens e roubalheiras, mas o fato é que estes políticos que aí estão, infelizmente saíram do meio desse mesmo povo, ou não? Brasileiro reclama de quê, afinal?


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Fonte: Jornal Diário do Sul (Tubarão/SC) - Coluna de Deka May

sábado, 4 de julho de 2009

EXPLORAÇÃO DA FÉ ─ ATÉ QUE PONTO?

No tempo de minha meninice, era um leitor cativo do “Mensageiro da Paz” – jornal editado pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Dentre os tópicos deste periódico, um me chamava mais atenção: era o da página de testemunhos de curas e milagres, que ainda hoje é ventilada, nesse mesmo jornal, de uma forma não extravagante.

Talvez aquele antigo desejo de ver maravilhas ainda esteja latente em meu inconsciente, pois hoje, ao assistir o Jornal Nacional ─ edição das 20 horas, sempre que posso, dou minhas passadas pelo canal da Band, que no seu horário nobre exibe o programa “show da fé”. A parte do programa que divulga curas e milagres por este canal de TV tem causado constrangimentos em toda blogosfera, e nem de longe se parece com os testemunhos simples e eletrizantes, que eu lia no jornal evangélico que circulava e ainda circula por todos os recantos do país, a cada quinzena.

Há pouco mais de três semanas, uma chamada desse programa na Band, me fez ficar de cabelo em pé. Poderia ter gravado o inusitado caso, mas na hora, a estupefação fez com que eu esquecesse esse importante detalhe.

Em suma, foi mais ou menos assim o grotesco acontecimento:

─ Meus amigos telespectadores! Daqui a pouco vocês vão ouvir um relato de um grandioso milagre. Deus recuperou instantaneamente a virgindade de uma nossa irmã. Ela está aqui presente, e vai contar tudo ─ diz o eufórico Pastor, esfregando uma mão na outra.

Pulei da “cadeira do papai” em que estava bem acomodado, e fiquei com os olhos arregalados, sem querer acreditar no que estava ouvindo.

O show da fé, nessa noite, foi muito longe no seu somatório de aberrações. Como médico, sei perfeitamente que a virgindade não é só representada pela higidez dessa frágil membrana do órgão sexual feminino. A perda da virgindade é muito mais do que a ruptura dessa simples estrutura anatômica. Se houve o ato sexual, ele se passou numa esfera psico-afetiva mais profunda, envolvendo, é claro, a consciência e a química cerebral do casal. É impossível negar, desfazer ou esquecer aquilo que foi realmente sentido ou vivenciado sexualmente. Recuperar a estrutura himenal não significa, de modo algum, dizer que a virgindade foi restabelecida.



Uma analogia, para melhor entender o que me parece óbvio : o fato de se zerar o indicador da quilometragem do carro usado, não significa que o mesmo se tornou zero km.

Esperei curioso o emblemático caso da recuperação da virgindade, tão bisonhamente alardeado. Tive asco quando ouvi o maior personagem do show falar:

─ Irmã, conte-me como foi essa tremenda cura, que lhe fez ficar virgem de novo! ─ disse ele dando os seus pulinhos e risadinhas características.

Quando vi a mulher, aparentando seus trinta anos, mais encabulada que alegre, com um jeito de quem estava ali sendo explorada de forma hedionda, a adrenalina me subiu, e fiquei altamente indignado.

A pobre irmã tinha se envolvido sexualmente antes de ser crente, mas agora estava a li a apregoar, diante de aplausos, que agora Deus tinha restabelecido a sua virgindade.

A que ponto a exploração da fé chegou. No tempo das minhas leituras dos milagres e curas do jornal Mensageiro da Paz, pelo menos, os grandes feitos da fé eram comprovados com fotos de atestados e radiografias fornecidos por entidades médicas. Tudo bem documentado.

Agora não, tudo se tornou tão banal, que de uma cura ou milagre não se exige mais comprovação científica. Os “predadores” do evangelho não se importam com isso, desde que as falsas curas encham os seus baús com o tesouro que a traça e a ferrugem comem. O Deus deles se mede pelo número de concentrações realizadas. Dizem: “hoje tem espetáculo às 9.00, 11.00, 15.00 e 20 horas”. Com promessas falsas e jargões de caráter apelativo, ludibriam muitas pessoas, as quais são levadas aos locais dos eventos (praças e avenidas), como bois que são conduzidos ao matadouro. Multidões, cada vez maiores, à procura de consolo, se deixam levar pelo ABSURDO das mensagens estapafúrdias e curas de mentira, sempre acompanhadas das costumeiras salvas de palmas para Jesus (digo, Zé Jus)

Acredito que esses vendedores de supostos milagres, caso não se arrependam, um dia, ouvirão Cristo dizer categoricamente:

“[...] Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim vós que praticais a iniqüidade”. (Mateus 7 : 23)




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Por: Levi B. Santos
Guarabira, 03 de julho de 2009
Em Ensaios & Prosas


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Fonte: http://genizah-virtual.blogspot.com/2009/07/rr-soares-viaja-na-maionese-e-libera.html



Obs.: É por essas e outras que tenho dito: Eles querem consquistar o mundo, nós queremos transformá-lo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eucaristia e Meio Ambiente

O que mais me chama a atenção na Encarnação é nova fase que ela deflagra na relação entre o Criador e a criação.

Ao entrar no Universo que Ele mesmo criou, Deus Se tornou parte integrante dele. Reflita um pouco comigo: Ele comeu nossa comida, bebeu de nossa água, respirou nosso ar.

Nos cerca de 12 mil dias em que caminhou entre nós, Ele interagiu com o ambiente à Sua volta, e assim o santificou. A água que Ele consumiu passou por Seu organismo, e foi devolvida. O ar que Ele respirou passou por Seus pulmões, e foi devolvido à atmosfera. Tudo o que Ele ingeriu, foi digerido.

Átomos que pertenceram ao Seu Corpo ainda estão entre nós. Por causa de Sua Encarnação todo o Cosmos foi sacralizado.

Por isso, podemos afirmar que a criação como um todo passou a ter valor sacramental. Além do batismo e da Santa Ceia, temos um terceiro sacramento: o Cosmos. E tudo por causa da Encarnação.

Daí a razão pela qual Paulo atribuiu valor eucarístico à criação:

“Porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças (originalmente, “eucaristia”), porque pela palavra de Deus (pelo logos divino que Se encarnou), e pela oração, é santificada” (1 Tm. 4:4-5).

A criação perdeu sua profanidade decorrente do pecado, e adquiriu, através da Encarnação de Deus, um valor sacramental. Por isso, na visão que teve, Pedro foi advertido a não chamar de impuro aquilo que Deus havia purificado, nem mesmo os animais reprovados pela Lei para o consumo humano.

Agora, além de possuir um Corpo Místico, a saber, a Igreja, Cristo também possui um Corpo Cósmico. Com Sua ressurreição, Ele abarcou em Si mesmo toda a realidade, tanto a espiritual, quanto a material (Ef.1:9-10; Cl.1:19-20). Nada ficou de fora do escopo de Sua obra, iniciada na Encarnação, consumada na Cruz, e confirmada na Ressurreição, e plenamente manifestada no final das Eras. Assim como a roupa que Jesus usava resplandecia enquanto Seu rosto se transfigurava, em breve, todo o Universo se transfigurará, e revelará a glória de Deus nele latente, para que, finalmente, “Deus seja tudo em todos” (1 Co.15:28).

À luz disso, que tratamento não deveríamos dispensar à criação? Que cuidado não deveríamos ter para com o meio ambiente? Quem colabora pela sua destruição, está abrindo feridas no Corpo Cósmico de Cristo.

Quem ama o Criador, cuida da criação.


Texto de Hermes Fernandes